quarta-feira, dezembro 13, 2006

Aponta-dor

Desde que inventaram a expressão corporal o dedo se tornou obsoleto.

terça-feira, dezembro 12, 2006

Pó de Giz

Sou um professor.
Cansado.
Esgotado.
Ganhando pouco.
Sem muita atenção.
Trabalhando muito.
Sem valorização.
Buscando um espaço.
Engulindo sapo.
Vivendo menos.
Sentindo mais.
Se preocupando com tudo.
Pensando em nada.

E peço perdão pelos pleonasmos.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

que Lua!

Impossível fingir. No Rio Grande do Sul é impossível fingir que o verão chegou. A gente sua sentado que nem maratonista na são silvestre. Fica sempre melado, não importa quando tomou banho. (Descobri que o suor tem a mesma composição quimica da urina, um nojo) O tempo de validade do desodorante é de vinte a trinta minutos na sombra, depois é que nem a torcida do flamengo em dia de jogo no Maracanã. Levanta-se não com aquela brisa gostosa da manhã, mas já com um calor de rachar e com o travesseiro suado. (ou mijado segundo a minha informação, um nojo). Procura-se colocar roupas claras que na real só te deixam mais chateado ainda, pois elas ficam transparentes e os biquinhos do peito passam a ser de domínio público, bem como a cabeleira de baixo do braço. Nada estético. A gente sonha com os Alpes suiços e Barilhoche, mas só pode ir para Gramado e Imbé. Deprimente.
Vai-se pegar um emprego temporário e tem centenas de vagas para Papai Noel. Imagina o calor daquela roupa e a pentelhação daquelas crianças. Nada feito.
Sempre se procura um amigo com piscina em casa, mas não se sabe o motivo essas pessoas tornam-se mais seletivas nesse período. Quem tem ar condicionado levanta as mãos para o céu e pede para não pegar pneumonia, pois dentro da sala ou do carro é 15 graus e fora é 40.
Mas o que realmente me incomoda são as tais das cigarras que por volta das dez da manhã até o meio dia cantam desatinadamente. Isso é muito chato pois recordo-me que sou formiga!

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Panela em que muitos mexem

A impressão que tenho é que vivemos em um tempo onde a verdade não interessa. O importante é a versão. Isso funciona também para a imagem. Se você é ou não bonito, gosta ou não de ser, se é loiro (a) ou moreno (a) não importa. Não importa se gosta desse tipo de vida ou dos valores nela implícitos tampouco. Vale também para as relações, falemos e depois não damos o devido lastro. Manipulações, mentiras, falcatruas e outras coisas são moeda correnta na nossa vida. Aliás parece que inteligência vem sempre acompanhada de tentativa de manipulação. E não falo das mega corporações de manipulação que convencionamos, erradamente ao meu ver, chamar de mídia. Falo das relações pessoais que estabelecemos.
Existem pessoas que se esforçam por parecerem perfeitas mesmo não sendo e mesmo que isso fique evidente. Hoje você deve ser perfeito até ao reverso, ou seja, em errar pareça humilde para assumir e arrependido para mudar. Note que eu falei pareça e não seja. Os valores cristãos que agora entram na moda são transformados e purpurina que recobre uma fantasia. Impressionante como isso ocorre o tempo todo ao meu redor. Sem distinção de pessoa, classe, etc.
E o errado sou eu que sou o mais verdadeiro possível.
Se brinco, bebo, danço e falo bobagem sou imaturo e deveria mudar, "afinal vou ser pai".
Se demoro para tomar uma decisão pensando melhor e articulando várias possibilidades sou covarde e não sei tomar decisões.
Se digo que sou um dos melhores naquilo em que faço e critico aqueles que deveriam ser "colegas" sou antiético e cafajeste com as pessoas minhas "colegas".
Mas ninguém procura ver que sou verdadeiro. Ajo conforme minha consciência no certo e no errado e a assumo, sempre.
Não vou ser modesto aqui, isso me rende problemas, mas também me rende maravilhas.
No mundo estamos em falta disso.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Seis por meia dúzia

Certo que daqui a exatos um mês eu vou chegar aos trinta. Aliás, certo não, quase certo. Sempre tem o "sobrenatural de almeida". Mas como a esperança é a última que morre, espero chegar lá. Trintão e com corpinho de 18! Cabeça de 15 ...
Tenho me perguntado isso por muito tempo: amadureci?
E acho que sim e não.
Explico: sou imaturo na grande parte do tempo que se apresenta a mim. Assim, acho que conservo o bom humor e a inocência que tornam a vida um lugar menos inóspito. Procuro, nos momentos de maturidade, usar a máxima de que "tu te tornas eternamente resposável por aquilo que cativas".
O problema está em quando é um momento e quando é o outro. Vou usando o método ensaio e erro.
Semana passada uma velhinha me abordou na rua, segurou o meu braço bem firme e começou a revirar os olhinhos. Não deu outra, olhei para ela e disse "A senhora é muito sexy mas hoje não comprei o meu viagra!" e comecei a rir. A velhinha apertava mais o meu braço e colocou a língua para fora. Nesse momento eu retruquei: "Assim estou ficando excitado" e voltei a gargalhar.
A velhinha caiu no chão. Juntou gente. Estava tendo um ataque cardíaco.
Errei os momentos.
Paciência. A gente não pode acertar todas.
Ainda bem que não sou médico ...

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Me deu vontade

Sei que isto está um deserto. Estéril e chato. E sei que a culpa é toda minha, mas a vida "é uma caixinha de surpresas" e isso não vai me deixar desanimado.
Descobri que a velocidade é relativa. Em realidade os físicos tinham já descoberto isso, mas agora eu provei. Provar não do sentido comprovar mas do sentido experimentar. Estamos novamente no natal. A um ano minha vida era uma bagunça e o blog um escape. Hoje, minha vida é um escape e o blog uma bagunça. Está tudo bom, tendendo ao maravilhoso. E tudo isso em apenas um ano. Eu não vivo, eu brinco de montanha russa. Assim como estou em baixo, uma piscadela e subo. O problema era eu me acostumar com isso e perceber que trajetórias não mudam essências.
Um grande amigo me disse que antes eu via problemas e agora eu busco soluções. Nisso ele tem razão, toda a razão. E são coisas diametralmente opostas.
Nesse natal não visualize os problemas mas busque as soluções. Entenda que o atrito não é bom para ninguém, mas que limites são um sinal de amor. Veja que o que abunda em ti pode fazer falta num amigo próximo, vivemos em sociedade. Entenda essa frase. Saiba que assim como ganhamos, perdemos na mesma proporção. E que este pode ser o último natal de qualquer um de nós ...
Mas, que morre de véspera é peru!

terça-feira, outubro 10, 2006

É, verdade ...

É nessa doida e insensata coisa que chamamos de vida que aquilo que chamamos de felicidade chega e se esvai. São momentos fugazes que se eternizam na vontade de serem eternos. Momentos que podem também ser vida. A tua vida. A minha vida. A vontade da eternidades é fugaz como a própria imagem do que se tem por eterno. Um sorriso de criança tem mais força que mil bombas atômicas, mas somente para aqueles que acreditam que os momentos se sucedem sem a menor racionalidade e que aquilo que entendemos por vida também ... Precisar o infinito é sempre algo intangível para a alma mas presente ao coração. Sorrir, ainda que não sejas mais criança, é saber-se centelha divina. Acreditando ou não é preciso viver. Divindade, criança, eternidade, amor, infinito tudo isso é bomba se, e somente se, entederes que esvair-se faz parte também de ti. Um eterno oceano que vem e vai e que nossa lógica apenas prediz que uma concha um dia aparecerá. Parece lógico mas é óbvio. A lógica é óbvia demais para ser levada a sério. E se a vida é lógica, bom meu amigo, está na hora de você nao levá-la a sério. Rir-se do nada e importar-se com uma borboleta pode ser efeito da loucura ou da teoria do caos. Aos físicos a segunda e ao vencedor as batatas! Lógica é aquilo que a gente acha que encaixa sem ver direito se encaixou.
Lembra daquela criança?
E daquele sorriso?
Durante esse post ela cresceu, afinal o tempo é relativo!
E a bomba?
Energia, um dia voltamos, se é que já fomos.
Afinal o fim.

quinta-feira, setembro 28, 2006

Saída pela direita!

Quem falou que o mundo dá voltas usou, no mínimo um eufemismo. No meu caso ele está me deixando completamente zonzo!
Quem falou que estamos na era da velocidade estava de brincadeira comigo. Lembra daquele ditado: "Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come!"? Si non é vero é benne trovato!
Rita Lee que dizia numa música sua o fantástico verso: "Quero voltar para dentro da barriga da minha mãe!"
E eu repito umas trinta vezes por dia o slogan do Popeye "Macacos me mordam!" ou o do Robin "Santa confusão Batman, como vamos sair dessa?" Mas eu não tenho Batman nenhum. No fim disso tudo espero que terminemos como em "E o vento levou ..."
Mas ao fundo lembro-me do velho e saudoso Leão da Montanha ...

quarta-feira, setembro 27, 2006

Das coisas da vida

Eu tenho achado doce o gosto da desilusão. Pode parecer estranho mas é estritamente verídico. Não falo de desilusões amorosas, nem qualquer outra de tipo pueril, mas desilusão no profundo de seu significado. Renego toda e qualquer filosofia piegas de auto-ajuda que procura reafirmar o velho e batido ditado de que tudo tem seu lado bom. Não tem e pronto! Acostumemo-nos. Desilusão é desilusão, cest finit. Não é porta para nada melhor. Não é momento para introspecção. Não é espaço para aprendizado. Não é nem mesmo digno de esquecimento. Desilusão é natural. Como natural também é a tristeza, a solidão, a dor de dente, a fome, a remela e a própria morte. Simples ou complexas, as coisas são naturais. Simplesmente naturais. Como bosta de vaca. Se mexer fede, se deixar endurece e não incomoda.
Taí, conclusão in extremis: desilusão é bosta de vaca. Pensado nesse exato momento. Lembre-se apenas de que a vaca não é você, tampouco, in casu, a merda.
Assim, a constatação mais clara é: "E daí que a vaca cagou?". Não sendo em mim, e desilusão nunca tem como sujeito o desiludido, dane-se o cheiro. Acho que, por isso, a sábia língua portuguesa colocou o verbo desiludir como intransitivo. Segunda conclusão da noite: bosta de vaca é intransitivo. Tão genial quanto a primeira, diga-se de passagem.
Apenas agora me dei conta de que fica estranho fechar as pontas: Bosta de vaca tem gosto doce.
Paciência, lembre-se: é natural.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Rua abaixo

A menina - É por aqui a Praça XV?
O Príncipe - Não ...

Eram umas sete e meia da noite. De uma noite que começava a esfriar rapidamente em Porto Alegre, como as de inverno. Também começava a chover e as luzes do dia se perdiam em meio as nuvens e ao cair da noite. A menina ia na direção completamente contrária da que queria. A praça XV fica no centro e é conhecido ponto de sem-teto, sem-carinho, sem-cuidado, sem-nada ...
Ela, a menina, com frio, molhada e visivelmente maltratada não demonstrou qualquer sinal de agressividade, mas ainda assim era evitada pelos transeuntes. A pergunta tinha um tom melancólico que misturava um certo sentimento de falta de convicção no recebimento de uma resposta e desimportância. Como se pergunta-se ao vento onde se esconde o sol.

O Príncipe - Estás, aliás, bem longe ...
A Menina - É?
O Príncipe - Sim deves seguir a próxima avenida grande e caminhar bastante até o centro.

No mínimo, quarenta e cinco minutos de caminhada. Insólita. Solitária. Penosa. Cruel. Imoral.
Frio e chuva estavam mais do que previstos como forma de açoitar aquela alma. E parecia que ninguém se preocupava com isso. Ela mesma resignava-se a falar com sombras e a ouvir uma cidade de costas.

A Raposa - Vou te levar até a parada de ônibus e tu pegas um até o centro, de lá é mais fácil ir até a praça XV. Assim foges da chuva e do frio.

Dois reais, era o que eu tinha no bolso.
A Raposa, mesmo ela, agredida pela cena procurou acolher uma menina que parecia não enteder a reação minha. Seus olhos demonstravam o espanto que é receber uma mão estendida. Mas a Raposa não pensou no que fazia. A Menina relutava em ir até a parada de ônibus e a Raposa então compreendeu ...

A Raposa - Aqui se pega o ônibus. Você pode usar esse dinheiro para pegar o ônibus e fugir da chuva e do frio ou ir a pé por esta grande avenida até o centro.

Escolha desumana. Escolha nojenta. Nojeira que começa em cada sala de burocrata. Em cada mesa de político. Em cada assinatura carregada de poder e dinheiro e imersa em desconsideração. O entulho explode no peito dos honestos com a força de mil bombas atômicas. O frio e a chuva são seus eternos companheiros. O mísero pão que poderia ela comprar não. País asqueroso.
Desceu ela rua abaixo alguns passos. Escolha feita. Mas antes ela parou e perguntou.

A Menina - Quer de volta os dois reais? - Estendendo a mão com o dinheiro.

Não pude responder. Apenas acenei com a cabeça que não. Honestidade, ombriedade, caráter. Tudo o que falta para tanta gente. E eu então sentei no cordão da calçada e chorei. Chorei pelo por mim. Chorei pelo Brazil. Chorei pelo mundo, acredite, chorei por você. Senti vergonha de ser brasileiro. Senti vergonha de fazer parte de toda uma sociedade capitalista ocidental contemporânea. Vendo a menina se distanciar e a chuva aumentar, talvez eu quisesse me punir pelo que faço a ela. Suporto esse sistema degradante e apenas choro.

Você tem mais escolhas em outubro e em novembro para fazer. Escolhas que podem mudar as escolhas dela. E de tantas outras pessoas.
Por favor ...

quarta-feira, setembro 06, 2006

Alpes gaúchos

Porto Alegre é demais. Todo ano invento novas configurações para as roupas que tenho. Eu tenho a configuração "Sol escaldante", a "Calor abafado", a "Muita chuva e pouco sol", a "Muita chuva e muita chuva", tem também a "Friozinho fresco de carioca", a "Frio gaudério" e tinha a mais forte de todas a conhecida "Frio de renguar cusco". Essa era composta por siroulas, calça de brim (aqui no sul não se usa "jeans", isso é coisa de marica) duas meias, camiseta Hering com mangas longas, "suéter" (é chique e não bixa!) de lã fininho e aí vinha um blusão de lá grossa ou moleton grosso. Para sair na rua, era ainda necessário um bom casaco e cachecol. Essa configuração todo mundo tem de reserva. Cuida para não lavar as peças no inverno, caso um minuano de arrebalde apareça e a temperatura desmaie. Nem liga muito para cores e combinações afinal, quando o queixo bate o olho não consegue ver nada a não ser um bom chocolate quente. Depois, a grande maioria das peças fica por baixo mesmo. O famoso poncho fica guardado num local do guarda-roupa onde você precisa digitar uma senha. Ao fazer isso um alarme soa pela casa e coisinhas mais, digamos, mais sensíveis são forçadas a se recolherem seja a hora que for. Animais de estimação, crianças com menos de cinco anos e idosos com mais de sessenta e cinco e também mulheres grávidas vão para os seus quartos onde desenvolvem técnicas de guerrilha contra o frio. Essas técnicas incluem panela com alcool queimando, bolsas de água quente, cobertores elétricos, muito café quente, panos em baixo das portas e nas janelas, gatos e cachorros para os pés etc. Coisas bem conhecidas dos pampas.
Nesses últimos quinze dias, entretanto, Porto Alegre me surpreendeu. Tive que criar a configuração "Super inverno plus II com abas". É composta de siroulas, suéter, meias, calças de brim exatamente como na outra, mas agora o "improvement" fica por conta de você colocar o blusão de lã e o moleton grosso juntos, um em cima do outro. Para sair, além da jaqueta já mencionada, se sair antes das sete da manhã ou depois das sete e meia da noite leva também um cobertor. Não há muita diferença de horário então aconselho a também dormir com essa roupa, cuidando apenas para trocar as roupas íntimas. A situação é tão perigosa que tenho levado também o travasseiro caso a frente da casa congele e eu precise dormir em algum conhecido. Nesses dias a solidariedade empresta colchão mas cobertores são de uso pessoal e intransferível.
Vou terminando o post que soou a sirene de alerta para quedas bruscas de temperatura. Com isso agora pegamos direto uma pneumonia que pode avançar para tuberculose. Aqui erradicamos a gripe, ela morreu de frio.

quinta-feira, agosto 31, 2006

O velho Marx

Era o início dos anos 90 e meu pai tinha passado pelo vestibular ingressando no curso de economia. Tardiamente era verdade, já tinha seus 35 anos, mas muito suado. A faculdade de economia, de início, fez parte da minha vida também. Não porque eu tivesse na época interesse especial pela matéria, mas por eu partilhar um pouco da animação de meu pai. Era contato com um monte de autores renomados, nomes importantes que tinham pensado coisas importantes. Era livro que não acabava mais.
Eu, ainda no segundo grau, por muitas vezes achava aquilo tudo muito entediante. Smith? Hegel? Ricardo? Não, obrigado, já almocei. Os meses se passavam e meu pai insistia, cada dia com um escritor nome, a "bola da vez". Discussões monológicas sobre seus aprendizados, algo em mim sempre ficava. Se era o interesse dele eu não sei, mas com certeza não era do meu. Ficava ali escutando mas não ouvindo. Lembrava apenas de ficar atento às pausas de "Entendeu, filho?" às quais eu respondia "Claro, mas isso não se contrapõe ao outro autor?". Isso era a certeza para ela de que eu prestara à atenção nos dois autores e a garantia de um sorriso aberto e mais duas ou três horas de discussão.
Muitas vezes fazemos isso. Fingimos que a vida não nos machuca. Fingimos que as palavras não nos tocam ou com o desentendimento cínico e pueril ("Ãhh?) ou com uma contraposição fundada na forma e não no conteúdo ("Não vou nem discutir isso."). Assim, o barco vai correndo, a vida vai passando e os estilhaços machucam menos, além de não fazer a felicidade de quem se propõe a ferir. Muitas vezes lutar para desarmar uma bomba é, além de cansativo, muito arriscado. Se não há perigo, afastamo-nos e deixemos detonar. Meu pai falava do que lia e do que aprendia no maior interesse do mundo: passar ao filho. Outras pessoas podem se sentir ameaçadas e assim buscar briga. Lembre de deixar detonar.
Quando eu entrei na faculdade, por ironia do destino todos esses autores voltaram. Me formei em história e todos eles fizeram parte da minha vida. Os ecos do meu pai ainda estavam vivos e, de alguma forma, o destino jogou ao nosso favor. Meu e dele.
De todos os autores que li o velho Karl Marx ainda me traz recordações. Mais-valia, luta de classes, expropriações são ferramentas de aula. Quem sabe por um futuro melhor. Quem sabe ...
Dizia ele, com sapiência incrível, que preço não é igual a valor. E existe o valor de troca e o valor de uso.
Estive pensando nisso. Ciúme, alto valor de uso e baixíssimo valor de troca.
E o barco vai passando ...

quarta-feira, agosto 30, 2006

Cha-la-la

Tenho tentado voltar à antiga forma. Certo que escrever também é questão de prática e tenho percebido que perdi um pouco (senão muito) da minha. Mas também é um exercício de disciplina e esforço. Outra vez li num livro ou revista que os gênios são aqueles que complementam o que recebem com o que fazem. Assim vou começar a usar a grande regra do mundo: repetir.
Perceberam como o mundo todo funciona desta maneira?

Marketing é a repetição exaustiva de afirmações que acabam se tornando verdade.
Jornalismo é a repetição contextualizada de opiniões que acabam se repetindo nos discursos afora.
Comércio é a repetição negociada de ofertas e produtos interessantes ou não que fazem repetir estruturas sociais excludentes.
Amor é a repetição verdadeira de carinhos e pensamentos que acabam por sensibilizar o ser amado.
Trabalho é a repetição de rotinas físicas ou intelectuais de modo a automatizá-las até a inconsciência
Política é a repetição cínica de ideais deslavadamente intangíveis ou inverídicos para manutenção de posições de poder.
Religião é a repetição dogmática de pensamentos insondáveis para diminuição da culpa ou expiação da dor.
Amizade é a repetição de atos e ações para criar vínculos com quem se quer criar respeito e confiança.
Saudade é a repetição dolorosa das sensações experimentadas outrora sabidamente não retornáveis.

Algumas eu repito outras eu refuto mas no fundo reputo à repetição a principal regra do mundo.
Vou escrevendo ... repetindo como um eco solitário num canion escaldante. Mais velocidade e menos distinção.

segunda-feira, agosto 28, 2006

Justus e ridículus

Nosso mundo anda realmente de pernas para o ar. Como se não bastasse a infindável lista de desumanidades, atrocidades, desrespeitos para com semelhantes, obscenidades financeiras, corrupção em todos os níveis agora também temos a venda descarada de arrogância na televisão.
Isso é deveras estranho, pois no Brasil todas as pessoas públicas procuram se cercar de uma aura de humildade, simpatia e simplicidade. Mesmo pessoas reconhecidamente intragáveis ao menor sinal de uma câmera começam a usar o pronome "nós" ao invés do eu e a desculpar a tudo e a todos em nome de sua grandiosidade. Em qualquer canal e em qualquer tempo isso parecia uma verdade imutável.
A Record mudou isso. Colocou no ar um programa cópia de programa gringo com requintes de pedantismo, botox e laquê. Atração de impressionante falta de tato e respeito que chega a superar o Programa do Jô em suas mais asquerosas entrevistas. Aliás, Jô Soares e Roberto Justus não caberiam no mesmo prédio. Seus egos intergalácticos não suportariam essa proximidade.
Publicitário de 51 anos Roberto Justus fez carreira como atendimento de agências. Uma função não muito bem reconhecida entre os publicitários e procurada por quem tem mais tato do que criatividade. Sempre teve respaldo financeiro para suas buscas, não consolidando assim um "empreendedor" no sentido mais estrito da palavra. Ganhou uma série de prêmios muito mais políticos do que merecidos e construiu, como é a tônica nesse país, uma carreira com muito mais maquiagem do que suor.
Ao comandar o rídiculo programa não escolhe, se puderem vocês perceber, pessoas que de alguma forma tenham sua personalidade profissional formada. São sempre estudantes cujas fraquezas são facilmente percebidas e tenazmente estudadas. Atrevo-me a dizer que de início já se sabe quem será o "vencedor". Justus e sua equipe de vilania fazem propostas de jobs totalmente sem nexo e tiram daí conclusões mais estereotipadas ainda. Baseadas na "experiência" de um profissional que justifica, com sua carreira profissional, muito mais o botox do que o pedantismo que apresenta.
Recentemente, ao encontrar um rapaz que, pode ter os defeitos que tiver, teve ao menos, peito para, em um programa ao vivo, demitir o Luis XVI da televisão da Record transformou o corajoso ato em pirraça e covardia juvenil. Utilizando-se de seus "conselheiros" (bem ao tom das antigas cortes de nobres) e de sua ultra exposição na mídia, decretou a falência profissional de um rapaz por "quebra de contrato na vida". Alguém deveria explicar ao senhor Justus que a vida não é um contrato e que ele, Justus, não tem ingerência na vida de mais ninguém com exceção da sua.
Quanto mais a nossa sociedade produz ignonímias tais quais essa, que buscam "ensinar" o que nunca aprenderam e que medem a competência pela conta bancária, mais veremos frutificar a desigualdade que certamente é o mal do século XXI. Desigualdade que começa nas pequenas coisas e que acaba por falsamente transformar Justus numa espécie de Senhor Destino, conhecedor profundo de "não se sabe bem o quê" que podemos avaliar "não se sabe bem pelo quê" mas que o permite cometer atrocidades recheadas de ignorância e soberba.
Longe de fazer apologia ao rapaz, quero deixar aqui meu "urra" a uma atitude honesta a digna, competente e corajosa. O Aprendiz foi tão humilde que chegou a desnudar a carapuça do "mestre".
Que saudades do senhor Miaguy ...

quarta-feira, agosto 23, 2006

Flatos e Fatos

Era para mim o último bastião da boa educação. Era como o reduto da civilização, intocável, inabalável, pétreo. Entretanto, percebi como estou antiquado.
Quando criança recebia inúmeros ensinamentos de etiqueta, bons modos. O que era "bonito" e o que não era. Tatu do nariz feio. Baba escorrendo ou fazendo "bolhinha" feio também. Mostrar sorridente o cocô para a mãe, não tem preço! Tudo isso para me transformar no ser humano reconhecido hoje como educado, aliás muito educado. Como cruzar as pernas, "obrigado", "de nada", "com licensa", "bom dia" etc. Deixe os mais velhos sentar, não interrompa quando os outros estão falando (viu mana!), não fale palavrão, como da boca fechada, não repita o que houve. E assim fui crescendo. O desrespeito a uma destas normas era seguro uma carraspana, mas nada de abominável. Tudo dependeria da situação. Em casa, alerta verde. No colégio, alerta amarelo. Em residências desconhecidas, alerta laranja. Em público, vermelhaço! Era necessário que as mães e os pais secretamente competissem sobre os dotes de ensino de cada família. Quanto mais educado os filhos, melhor. Secretamente eles fazem torneios onde levam os filhos para testarem-se mutuamente. A isso eles chamam de "aniversário de crinça" e lá tem a terrível prova do "cachorro quente empapado de molho" e a não menos terrível do "último negrinho". Essas duas, para as crianças, são um divisor de águas.
Lembro-me de um elucidativo diálogo:

A Mãe - Não pode ser amigo dele e pronto!
O Principezinho - Por quê?
A Mãe - Porque ele diz palavrão!
O Principezinho - Mas tu e o pai também dizem e eu sou amigo de vocês ...
A Mãe - Porque ele come de boca aberta!
O principezinho - Mas eu não vou ser amigo dele quando ele estiver comendo. É só quando ele estiver brincando.
A Mãe - Não pode ser amigo, já falei!!
O principezinho - Por queeeeeeÊ??!
A Mãe - Porque ele solta "pum", pronto. Ele solta "pum" na frente de todo mundo.

Acabou. Soltar "pum" na frente dos outros era demais. Ele era um pouco mais que um bixo, parafraseando um grande amigo. Era o limite. Estava feita a negativa da amizade e sustentada com sólido argumento. Ou melhor, gasoso argumento.
Depois o "pum" virou traque. Que virou "cheiroso". Que virou peido e que, mais recentemente, virou flato. Sem, contudo, mudar de essência. Fétida e discriminante em termos sociais. No colégio, segundo grau:

O Colega - Nossa!!! Professor peidaram aqui!! Não dá para aguentar ... vou sair da sala!
O Professor - Não vai não! Quem peidou?
O Colega - Foi ele!
O Príncipe - Não foi eu não! Pára!
O Colega - Foi sim, tá horrível professor. Vou sair!
O Professor - Não vai sozinho. Vão os dois. Quem peidou e quem faz escândalo!!
O Príncipe - Não fui eu!! Tô falando!
O Professor - Não interessa. Fora da sala. Expliquem pra direção depois ...

Justo pelo motivo e injusto porque eu não havia peidado. Sedimentava-se o conceito de ostracismo social através do traque. Meu conceito fechava-se. Peido era motivo de banimento social, ou seja, nunca peide em público. Registrado.
Recentemente os fatos foram outros:

Wally - Foi tu que peidou?
LA - Fui.
Wally - A tá. É que eu ia sair ali para a área para fazer isso ... para não incomodar vocês.
LA - Não precisa não. Faz aí mesmo, não tem problema. É tudo amigo mesmo.
O Príncipe - (boquiaberto assistindo a cena)

Ou seja, o peido é sinônimo de amizade, de proximidade, de coleguismo, de aceitação!

Pior ... Na casa do meu sogro. Com cachorro, sogra, cunhados, periquitos, papagaios, a nona e tudo o mais que se tem direito, todos sentados na frente da TV, de repente:

A moça linda - ÔOO Pai!!!? (Depois de espremido estampido bundal)
O Sogro - O quê?? Foi o cachorro. (Com indisfarçável sarcasmo)
O cachorro - Au, au au. RRRRrrrrrr (Negando a pretensa obviedade da afirmação)

Todo mundo cai na risada, inclusive o sogro. Meu cunhado acompanha o pai na sinfonia número 0 em peido menor, soltando o seu também e me olham.
Indisfarçável a minha vergonha. Inafastável a pressão social pela aceitação. Os olhares ficaram grudados em mim até que com toda a força do meu abdôme consegui um, segundo analistas de plantão, "peidinho de véia".
Vencido, hoje peido tentando ser aceito socialmente ...

quarta-feira, agosto 16, 2006

Um velho Deitado

Se o blog vale, agora só falta plantar uma árvore ...

terça-feira, agosto 15, 2006

Reconectando

Caro Príncipe e Cara Raposa

Passei por um tempo na minha vida onde tudo era imaginação, pensei tivesse atingido o auge. Contudo, ao conhecer este endereço verifiquei que estava muito aquém do possível. Apesar de todo o meu sucesso, eu não conseguia transpor idéias com tanto carisma e sagacidade. O carisma é do príncipe ou da raposa? De qualquer forma me acostumei nos últimos meses de 2005 e nos primeiros de 2006 com essa espécie de terapia da forma e bolsa de imaginação. Confesso que não pude suportar quando, dia-a-dia, eu frequentava o blog e ele estava inerte. Sem mudanças como se congelado num mundo tão veloz como o mundo virtual. Pensei em largar tudo também, afinal se vocês podem eu estava certo de que devia. Liguei para os meus advogados, verifiquei as quebras de contrato, pensei em me refugiar em algum país de terceiro mundo fugindo do mundo que me exigia profissionalmente. Tudo era uma depressão só. Eis que, então, resolvi mandar-lhe este e-mail para pedir, ou melhor, para implorar que voltassem a escrever. Fosse a que tempo fosse. Fosse com que razão fosse. Escreva, por favor. Minha imaginação estava minguando, mas por favor, não publique esse e-mail. Talvez meus fãs não aceitem muito bem ...
Atenciosamente
Steven Spielberg

Caro e gostoso príncipe,

Não tens idéia do quanto me fizeste bem aparecendo e o quanto tua ida me deixou no vazio. Quase "like a virgen" na capa da "Vogue". Desasada. O mundo era só "Rain" e mesmo toda a minha religiosidade adquirida não eram suficiente para aplacar a síndrome da abstinência. Sim, seu blog era uma droga! Droga sem a qual eu não vivia. Prometo fazer um vídeo comigo. Um vídeo clipe com um monte de dançarinas lindíssimas, o que acha? Por favor volte a me fazer feliz com a ponta dos seus dedos ... Não posso ir além, minha religião não permite. Ao menos nesse horário ... Por favor não me "Evita" nunca mais.

Beijos
Madonna
PS.: Raposa?! "whos that girl?"


Ei você seja lá quem for

Já coloquei todos os meus serviços de inteligência para descobrir os nomes dos dois que escreviam regularmente nesse endereço. Dou-lhe um aviso: ou voltam a escrever ou vou bombardear a capital de vocês. Pelo jeito você é brasileiro então vou avisando, se em dois dias não voltarem a escrever eu vou bombardear Buenos Aires. Arrasarei tudo.
Faça isso em nome da liberdade e da democracia do povo americano.
God Bless America.
George W. Bush


Pôxa você ...
Retorna aí
é tudo tão lindo, tão brasileiro, tão baiano ...
é uma coisa de dentro, o negócio da raposa, precisa voltar ...
de onde veio essa idéia toda? é tudo tão lindo, tão brasileiro, tão ... acho que já falei isso.
De qualquer forma: "gosto de te ver correr leãozinho" ...
Corra pelo teclado ... discorra pela tela suas idéias ... Seja tropicaliente.
ou não ...

Caetano V.


Aí mané,

Nóis iscreve do retiro. Retiro de sangue bão, tá ligado?!
Aqui só tem irmão inocente e que ficava amarrado nas letra aí. Tá fazendo falta, já é ...
o siguinte mano, nós sequestrô a gata aquela. Branquinha tá aqui miando o bixo. Se tu não voltá a inscrevê nóis te manda ela por carta, falow? Um tiquinho de cada vez ... se tu (ou tus, não sabemo) não se manifesta nós faz o que fazeu aqui em sampa de novo. Vai te nêgo comendo chumbo ... te liga intão.
Fé in Deus
Chefia PCC


Caros amigos

Está todo mundo me culpando pelo fracasso da seleção erroneamente. Está aí a culpa. Durante a copa eu não consegui motivar a equipe porque não conseguia me sentir motivado. E sabe por que não conseguia me sentir motivado? Porque esse blog estava parado, como o Roberto Carlos. Arrumando a meia. É assim, lógico como o futebol. Então vamos parar de colocar em mim toda a culpa senão a cabeçada vai rolar ...
Sem discriminação para com os gordos e velhos
Carlos Alberto Parreira

Companheiro,

Não faça assim com o povo brasileiro. Um povo tão sufrido (sic, seja lá o que isso significa!) um povo que acorda com corrupção, dorme com corrupção, vai no banheiro com corrupção e acaba achando que tudo é corrupto. Eu sei que o príncipe não é. O príncipe é dos tempo de CUT no ABC. A gente tem que voltar a fazer esse Brasil pra frente. Não pode mais errar. Não se permito mais errar. Então volta a fazer essas idéias virarem piada ou lágrima. eheheheh Piada ou lágrima, parece até mot pro meu governo!
Vote Lula 2006, sem paz e sem amor ...
Luis Inácio Lula da Silva


Hi,
Im sending to you US$ 1.000.000,00. Banking on Aruba. Come back to the web or the money will fade.

VTY
Gates, Bill

quarta-feira, maio 17, 2006

A tal da cama ...

O príncipe: Alô?! Cara podes fazer um favor para mim? (Pelo MSN)
O publicitário: E aí? Claro pode falar ...
O príncipe: Meu telefone tá como um Pai-de-Santo, podes pedir uma pizza para mim?
O publicitário: Sim. Manda o telefone e o que tu quer que eu mando pro teu endereço.
O príncipe: O telefone é XX XXXX-XXXX.
O publicitário: E os sabores?
O príncipe: Izola Bella, Frango Maravilha, Quatro-queijos e portuguesa.
O publicitário: Quatro-queijos, portuguesa e o que mais?
O príncipe: Izola Bella e Frango Maravilha.
O publicitário: Algo normal, do tipo calabreza, nem pensar?
O príncipe: Cara são bons esses sabores, Izela Bella e Frango Maravilha.
O publicitário: Ah, desculpa. Não vou pedir.
O príncipe: Como assim?
O publicitário: É, não vou ligar para um lugar que não sei nem se é pizzaria pedindo um "Frango Maravilha" muito menos essa tal de Izola Bella. Desculpa não tem jeito ...
O príncipe: Como assim, não entendi ...
O publicitário: Isso só pode ser sacanagem tua, não vou pedir. Imagina o que é um "frango maravilha" correndo pelado por aí ...
A raposa: Pede um "Frango Maravilha" com recheio de peperonni, e dos grandes ...
O publicitário: Vai à merda, sabores normais ou não peço ...

No fim acabamos não pedindo mesmo, mas o fato de sempre se ser arriado tem seu preço. Só para constar os sabores existem mesmo.
Num outro dia ...

O príncipe: Cara, deu um pau aqui no meu HD. Vou precisar da tua ajuda.
O publicitário: Deu pau no teu C:?
O príncipe: Vai à merda é sério, acho que perdi todos os dados.
O publicitário: Deixa ver se entendi perdeu tudo o que tinha no teu C:?
O príncipe: Pombas, é sério meu, o que posso fazer? Está dando tela azul o tempo todo.
O publicitário: Então a coisa é séria, teu C: tá com problema e tu ainda tem dado para um azul o tempo todo.
O príncipe: Caramba!!
O públicitário: Certo, certo. Falando sério. Tem que descobrir o que está dando problema,
baixa esse programa aqui. O Sandra2005 ...
A raposa: É sacanagem! É sacanagem na certa ...

Não baixei mesmo. É claro que era sacanagem. Ia aparecer um papel de parede de um travesti e o ícone do meu mouse ia virar uma bimba. Já pensou?
Fez fama? Deita na cama ...

quinta-feira, maio 11, 2006

A outra face

Mundo vasto esse mundo de safos ...
Olhares inóspitos de seres indiferentes.
Onde os valores não se fazem presentes,
O 'esperto' se valhe apenas de um lapso.

Antes fosse toda a matéria o único alvo!
Aviltar a alma, hoje em dia, é tão banal ...
Que o digno é visto só como um boçal,
E a sinceridade é apenas um sonho parvo.

Quero de volta o grande Dom Quixote!
Rendendo homenagens à códigos antigos,
Mas (acho) desses tempos já fizeram picote.

Nojenta gente a cultivar um ideal corroído,
Onde o honesto e de sentimentos contíguos
Desperta cambaleante e dorme consumido

segunda-feira, maio 08, 2006

Decepção

Depois de ver a minha namorada entrar no carro com outro macho e ainda por cima levar o nosso cãozinho de estimação junto eu não suportei a dor e resolvi encher a cara ...
Tomei sem respirar seis doses de Chamyto inteiras e não contente fui fazer uma limonada para comer com fandangos ... só de raiva.
Eu sou assim ... um homem duro.

Desde cedo

No momento onde o Brasil parece, de novo, uma mar de lama. As pessoas dizem que o problema é cultural. Se é cultural então tem fundo na educação. Comecei a pensar sobre isso e me lembrei dos velhos tempos:

"Vovô viu a uva."
"Talita foi à vila."
"Cacá caiu da cama"

Com essa onda de modernidade hoje encontramos nas salas de aula:

"Vovô viu a vulva". (Ainda bem que só viu ...)
"Pedro viu a perereca pelada". (Será que só viu?)
"Papai gemia de dor." (Era de dor mesmo?)

Isso apenas conteúdo, digamos, quase sexual, mas em algumas salas de aula mais "politizadas" eu tenho encontrado:

"Lula não viu nada."
"O Garotinho foi preso"
"Helena gritava muito"

Na parede da sala de aula eu li:
"Corrupção: tô dentro, pra não ficar de fora!"

Crise moral, institucional, educacional e tudo mais ...

sexta-feira, maio 05, 2006

Solução

Podíamos pegar a massa de pessoas abaixo da linha da miséria no Brasil vesti-las, alimentá-las, dar instrução básica ensinar a pegar em armas e mandar para reaver o que foi tomado pela Bolívia do patrimônio da Petrobrás. Assim eles teriam comida e certamente se agarrariam a essa chance. Melhor lutar que morrer de fome. Se conseguissem reaver o patrimônio, os sobreviventes e famílias dos mortos ficariam com 50% do valor da empresa lá e fariam uma grande cooperativa para repartirem anualmente os lucros.
Detalhe interessante, mandaríamos todos os nossos políticos, na impossibilidade de distinguir o joio do trigo, uma semana antes lá para "negociarem" com o governo de Evo Morales e assistiríamos à execução sumária deles por espionagem.
O nosso judiciário seria levado como destacamento de guarda e apoio durante a ocupação das refinarias e dos pontos importantes em território boliviano. Assim, eles fariam alguma coisa da vida e veriam que a morosidade é fatal na maioria dos casos.
Kelly Key seria nossa show girl em solo boliviano sendo obrigada a cantar no meio dos combates, para manter a moral do inimigo baixa, já que destribuiremos tapa-ouvidos para os nossos soldados (obedecendo à Convenção de Genebra).
A Narcisa Tamborindeguy, o Lasier Martins, o José Barrinuevo e o Rogério Mendelski seriam destacados como jornalistas para cobrir o conflito sendo em seguida catalogados como "efeitos colaterais" do mesmo.
Garotinho seria colocado lá nos postos da inteligência brasileira, como articulador da guerra pois, se nada desse certo ele, ao menos, já teria uma Rosinha para o túmulo.
E, no momento mais simbólico dos combates, faríamos um jogo beneficente onde só poderiam entrar no estádio pessoas armadas. Uma promoção do tipo "Se ele errar acerte um tiro e ganhe um Celta" seria ventilada na cidade onde o espetáculo fosse acontecer. A peleia seria um Internacional x Corinthians. Durante o jogo os auto falantes do estádio anunciaram a promoção relâmpago: "Argentino vale dois carros!".
Cada vez mais me convenço que sou um gênio e que deveria entrar para a política ...

terça-feira, maio 02, 2006

Perfume de vida

O que nos leva a seguir adiante? Lembro-me de quando pequeno perguntar isso, de manhã, a mim mesmo. Na época um jogo da seleção, uma festa no final de semana ou um filme fartamente anunciado na mídia me davam a resposta. Eu, mesmo naquela idade, sabia ser isso totalmente infantil e imaginava que, quando adulto, eu teria outros motivos para levantar de manhã. As coisas mudaram. Hoje levanto de manhã por um happy-hour com os amigos, para secar o time contrário ao meu, mesmo que o meu não jogue, para ver com quem o Ben Silver vai terminar, ou muitas vezes por inércia. Em essência, acho que os motivos da minha infância eram muito mais profundos e que hoje eu sou um tanto mais bobo do que fora naquela época.
Entretanto, me preocupo mais pelo "porvir". Moro com minha avó e penso no porquê dela levantar. Oitenta e quatro anos, dificuldade para caminhar, incontinência urinária, dentadura em cima e em baixo, grave problema de audição e cega de um olho. De quebra, diabética. Ela me fala, de vez em quando, no sofá para a sala que, quando ela comprar, vai ser de tal forma e de tal cor. "E eu me pego pensando: que mundo maravilhoso ..."
Ela pergunta se eu tenho algo para ela arrumar, roupas para costurar dizendo que ainda não pode porque está doente mas que é para eu deixar na mesinha dela que assim que melhorar ela faz. E eu vejo como ela fala disso sem pensar no caminho terminando. Como ela pensa que realmente isso pode acontecer e como, para ela, VAI acontecer.
Hoje ela começou a me perguntar por que não voltavamos a morar em Porto Alegre? Segundo ela, morar em Caxias é ruim porque é frio. Estamos em Porto Alegre e ela mora na mesma casa a quase trinta anos. No início me preocupei de ela estar ficando senil. Agora entendo como isso pode ser uma bênção. Provavelmente sã ela não aguentasse esperar que alguém a desse banho. Provavelmente sã ela não suportasse levantar no meio de pessoas se urinando toda sem com isso se importar. Provavelmente sã ela entendesse que os estofados nunca serão comprados e as calças nunca serão serzidas. Provavelmente sã ela já teria se entregue ao rigor da vida e o brilho infantil que ainda vejo em seus olhos fosse apenas uma suposição nossa no seu velório.
Essa tênue transgressão que ela tem realizado daquilo que entendemos por realidade é um lençol de seda que embala o corpo são dela e aconchega o seu espírito cansado. O corpo que ela pensa ter e o espírito que ela sente ter. Não tenho o direito de retirar isso dela. Nem que para isso eu tenha que selar cartas com o endereço do remetente errado ...

Se nevasse usava ski?

E veio o inverno. Não apenas as folhinhas amarelentas caindo terminaram mas também aqueles dias de temperaturas amenas são agora lembrança. No sul é assim num dia faz frio, no outro piora muito. Agora por exemplo eu brinquei na neve. Fiz bonequinhos de neve e joguei bolinhas de neve nos passantes. Um frio gélido que por aqui tem o sugestivo nome de "Minuano" congela minhas orelhas, mas não estou nem aí. A neve me aquece. Embora algumas pessoas não gostem das bolinhas eu ainda assim as faço. Jogo mesmo, na cara de preferência. Aqui do lado de casa tinha uma poça d'água que congelou e a molecada está jogando hókei. Trenós puxados por huskis circulam do supermercado para as casas e as correntes fazem parte dos carros a partir de hoje.
Fondue com vinho tinto e, de noite, chocolate quente. Não tenho lareira mas a calefação da minha casa está bem boa. O branco toma conta das ruas assim como o cachecóis dos pescoços. É tudo muito frio, mas ao mesmo tempo muito sereno.
Vou encerrando por aqui porque vou ter que salvar um guri que ta dentro d'água. O gelo quebrou e ele está se afogando.
Tem algumas pessoas, maldosas, incontestavelmente pessimistas que dizem que tenho mania de aumentar as coisas. Não acho. Inverno em Porto Alegre é exatamente assim como eu descrevo. Basta olhar pela minha gripe ...

sexta-feira, abril 28, 2006

Nêmesis

Com a onda que eu ando tenho que me cuidar de tudo. Estou residindo numa casa onde minha posição social está abaixo de uma gata. Calma senhores a gata é do gênero Felix e não Homo. Ela ganha carne fresca e eu como o que sobrar. Ela ganha carinho e eu carrego as compras. Se eu me atraso para a janta ela come tudo. Se chego cedo tenho que deixar comida para ela, sob pena de ser defenestrado.
Ontem porém foi o dia da vingança.
Estava eu dormindo e muito cansado. Naquele tipo de sono que você não sabe onde está, nem que horas são e muito menos onde está. Perigoso mas profundamente restaurador. Estava eu nos braços de Morpheu quando uma paulada na janela me "semi-despertou". Eu não entendia o barulho e quando me dei conta que era na janela pensei serem os extra-terrestres vindo me abdusir. Relevem eu estava "bêbado de sono". O barulho não cessava e meu pânico aumentava ainda mais. A essa altura eu recobrava paulatinamente o senso da realidade, agora acreditava serem os traficantes colombianos que estavam querendo entrar na casa. Não eu não uso nem vendo drogas. Também não sei porque o medo dos traficantes. Como não parava o barulho reuni toda minha macheza e fui até a janela. Levei quase quarenta e cinco minutos para reunira a macheza, não é que ela seja muito grande é que tava bem espalhada ...
Tive que lembrar de todos os atos de bravura da minha vida e juntar todos os elogios da minha família a minha masculinidade. Feito isso abri a janela. Lá estava a desgraçada da gata, no frio do lado de fora da casa. Nada me daria mais prazer naquele momento. Não abri o vidro da janela e deixei a gata me ver dormir quentinho ... o coisa boa ...

Gato Preto

É impressionante a minha capacidade de atrair pessoas canalhas. Sou um imã para elas. Isso não é papo de mulher com dor de cotovelo. Daquelas comidas e esquecidas. Isso é papo sério. Estou pensando em criar algum tipo de concurso. Algo assim:
"Sacaneie o príncipe e ganhe um Palio 0 km."
Ou melhor:
"A melhor sacanagem ao príncipe, escolhida por júri popular, ganha uma casa."
Ao menos eu poderia colocar um telefone 0300 e ganhar alguma grana.
Posso contar nos dedos as pessoas que nunca me aprontaram. Essas curiosamente são amigos.
Quem me lê deve pensar: "Se fazendo de vítima!". Antes fosse senhoras e senhores, antes fosse.
Quando eu era pequeno minha mãe dizia assim que eu me esburrachava no chão: "Levanta para cair de novo!" Ela esta certa. Só não sei se sou uma espécie de "joão-bobo" ou um Rocky Balboa. O fato é que a galera bate, e dói.
Se eu achar o desgramado gato preto que inferniza a minha vida juro que peço para alguém matar. Com essa sina era capaz de o gato me dar um "mata-leão" e eu ir para a banha ...
Um dia da caça e ... no meu caso ... o outro a gente corre!

Perspectiva

A muito tempo estava sem disposição. Em realidade era completamente cheio da vida. Algumas coisas melhoram outras são um desastre nessa curta existência. Creio que somos feitos de sonhos e quando estes se acabam nos deixamos levar pelo tempo e pela desilusão como num grande rio em direção à eternidade. Nesse caminho certamente deixamos a carne e quem sabe o que mais ...
Pois estava eu rolando rio abaixo. Mesmo com os louváveis esforços de alguns amigos e de pessoas importantes para mim, o rio era minha rota. Deixar a vida me levar não é exatamente de bom humor que devemos ir. Eu que sempre briguei por tudo estou, de certa forma, pagando o preço da briga. Rio abaixo.
Ainda não sei ao certo porque voltei a escrever. Certo sim é que preciso de perspectivas para reativar minha vida. Ela entrou num marasmo tremendo. Melhor do que num passado próximo, com certeza, mas calma e sem perspectiva. Não gosto disso. Não me sinto à vontade à deriva, ainda que seguro. Creio na existência da carne como parte integrante da vontade da alma. Uma sem a outra não existe. A outra sem a uma é queda d'água.
Enfim parece que o bote começou a se animar de novo e com isso também meu sangue volta a correr. Como um vampiro recém acordado de um torpor, preciso de tempo para me recompor, contudo inegavelmente volto.
Aos que me detestam, desculpem, preparem-se para guerra novamente. Agora sem quartel e sem trégua. Aos que de alguma maneira gostam de mim, sejam bem vindos no fogo da minha existência. Partilharemos o mate juntos, se for apenas isso que eu puder partilhar ainda sim estarei feliz.
Está na hora de separar os homens dos guris ...

segunda-feira, abril 17, 2006

Brasa eterna ...

Se por um minuto ou pela eternidade, tudo o que queremos é ser feliz. Extasiantemente feliz. Inebriantemente feliz. Compulsivamente feliz. Oniricamente feliz.
O grande problema é que, para mim, felicidade não é, e nem pode ser, um momento. Não gosto de coisas à conta-gotas. Felicidade é um estado quase perene que busco dia-a-dia com uma paciência que muitas vezes não tenho.
Ser feliz é saber que amanhã eu ainda o serei. Ser feliz é ser completo e completar algo com significado e importância. Tudo isso tem que ser para sempre. Esse sempre tem fulcro no indivíduo e em sua existência, não importanto o quanto ela dure.
Essas pílulas de auto-ajuda que dizem que um livro, uma música, uma bela peça de teatro podem nos fazer feliz são o mesmo que analgésicos para um dor indômita que persegue a pequenez dos indivíduos frente ao nosso tempo.
Ser feliz é saber que qualquer tempo que ainda reste será suficiente, porque já fizemos o que queríamos. Logo, ser feliz é uma luta por um objetivo ou por objetivos. E quando a manutenção for o objetivo, então chegamos ao momento onde podemos dizer que somos felizes.
Todo o resto é pura especulação. Todo o resto é pura enganação. Todo o resto é mera falácia de uma existência que costuma nos carregar para locais onde o vento uiva e o sol queima e não para uma bela praia na polinésia francesa.
Construam o castelo de sua felicidade, passo-a-passo, pedra por pedra, mas ela não estará nas pedras e sim na partilha da tua construção ...

quarta-feira, abril 12, 2006

Atchim!

Podem falar de qualquer doença, desde que não as mortais, eu ainda acho que rinite é uma desgraça. Padeço deste mal. Não é só nariz assado, devido às inúmeras vezes que temos que assoá-lo, sem efeito prático nenhum. Não é só a fungação que amola o fungador mais do que os que estão ao seu lado, embora as feições destes acabem pondo em dúvida este veredito. Acho que a pior parte é aquele ranhozinho que escorre pelo lado da narina sem que possamos fazer nada. É terrível ficamos parecendo uma crinça ranhenta. Nos sentimos a última das pessoas, nem a cacaca do nariz conseguimos manter dentro de nós. As outras pessoas pensamos ficarem sempre olhando e dizendo: "Que nojo!". Aí, no desespero de manter uma certa altivez, passamos aquele dedo no nariz. Pronto! Ninguém mais te aperta a mão, se alguém viu acha o cúmulo da falta de educação e na realidade não funciona. Tenho uma teoria, acho que na primeira vez que se passa a mão esta tem um potencial de absorção e consegue resolver o problema. Entretanto, como não pára o corrimento, na segunda vez já é aquela meleca. Para tentarmos manter as coisas em ordem e poder olhar as pessoas de frente começamos a passar o antebraço, depois o braço todo ... uma desgraça. Tive uma certa vez a oportunidade de ver o malabarismo feito por um cara que estava passando quase o cotovelo. Ao invés de fazer cara de nojo eu me solidarizei com o vivente e passei o meu também. Disse ainda: "É isso aí brow!"
Agora, porque não agüento mais esse desespero que nos coloca na fronteira do mundo civilizado e educado, quase um marginal da higiene, estou andando com uma toalha de rosto. Quando sinto vontade buzino na toalha. "Doela a quem doela". Afinal o importante é ser feliz. Só não resolvi ainda o desconforto da coceirinha do nariz ...

terça-feira, abril 11, 2006

Blue Birds

Em muitas culturas no Velho mundo pássaros azuis são sinônimo de felicidade. Talvez porque naquele ecossitema onde as temperaturas baixas imperam os pássaros coloridos são raros, ou talvez porque é muito bonito um pássaro azul mesmo e a beleza sempre fez par com a felicidade.
Quando eu tinha um coração de criança sempre tentei brigar com a natureza. Me recordo que tentava salvar todos os passarinhos que por ventura tivessem caído dos ninhos. Fossem da cor que fossem. Era sempre a mesma história. Pega, cuida, ama, assiste o definhar e sofre. E como doía.
Não é que o coração de adulto não queira ajudar, mas quando minha mãe dizia para não pegar ela estava pensando no depois. As pessoas adultas fazem isso, pensam no depois. Isso elas chamam de responsabilidade. No fundo, mas bem no fundo mesmo é medo e auto-piedade. Sentimento de auto-preservação de quem já sofreu tanto que não acredita mais nas cores dos pássaros, ou ao menos não acredita que possa, desta vez, ser diferente.
Hoje eu passo bem distante de passarinhos caídos, fecho o olho para não ver. Choro sozinho pensando no seu destino. Tenho uma vida para seguir e ela ainda me reserva inúmeras dores. Estas tendem a aumentar com o tempo, não vou dar uma mãozinha para a vida no que diz respeito a me magoar mais.
Ao mesmo tempo tenho medo. Meu passarinho azul caiu do ninho. E eu estou passando ao largo, chorando mansinho e rezando para que a vida seja boa comigo.

segunda-feira, abril 10, 2006

O tal de Judas

Sinceramente nunca vi um assunto tão bem vindo. No mesmo momento que os pesquisadores encontram um evangelho que parece redimir Judas nos deparamos com o atual Brasil. O Judas era considerado traidor e de haver entregado Jesus por trinta moedas. Nós no Brasil assistimos o trair de uma classe política inteira vendendo o Brasil, situação e oposição, cada qual a seu turno e por suas regras. O Judas tinha comido com Cristo na última ceia e o denunciou com um beijo. Os políticos, e isso vai começar em menos de um mês, vão beijar velhos e crianças e até distribuir ceia, mas o final será a mesma traição.
Mesmo gente das minhas próprias relações, me apunhalaram e ainda se sentem no direito de falar grosso. No Brasil o senso ético é diferente. Aqui vale tudo para se dar bem. E o pior é que nós não falamos nada. Somos passivos diante dessa Babel corrupta e inepta.
Ao menos uma vez o Brasil estava na vanguarda dos caminhos dos pensamentos, aqui nós já absolvemos os judas. Não este novo que está no novo evangelho, mas o velho mesmo. Não só absolvemos os judas como os invejamos. Na minha casa eu partilhei o pão e o vinho com um judas. Partilhei mesmo a falta deles. E obtive a mesma traição. Malditas trinta moedas. Mas aqui eu não vou fazer como o povo brasileiro, não vou perdoar o velho judas. E peço que não perdoem os judas que usam gravata e falam bonito. Diz o testamento que o diabo tem várias formas e lá deveria dizer também vários partidos.
Quanto ao Judas, o novo, que se deixe para a história uma história de mais de 2000 anos ...

sábado, abril 08, 2006

Pura Maldade

Algo que nos ocorre naqueles momentos de completa paz e reflexão. Algo que nos tira do sério quando tudo parece ser nada mais do que um simples momento. Não pensem que aqui vai um meloso testemunho de romance, não ...
É simples a coisa. Acabei de me dar conta de uma coisa que pode ter sido pensada antes, mas com certeza não na extensão que pretendo apresentar.
Vamos deixar de bla-bla-bla e desembuchar de vez.
Pergunta-se: para quê serve a orelha?
Certamente a maioria de vocês pensarão que serve para ouvir, afinal desde o jardim de infância que as "tias" nos ensinam que as orelhas ouvem e os olhos vêem. Eu tenho uma opinião diferente.
Já notaram como nos dá prazer quando a orelha é mordida? Isso mesmo mordida. Na realidade minha teoria é que temos orelhas para que elas sejam mordidas. Mas como por uma fatalidade genética nossa boca fica muito distante da orelha, não podemos morder-nos então precisamos de alguém. Entra em cena o conteúdo social da orelha. Temos orelhas para que possamos encontrar alguém que possa mordê-las para que nos dê isso um prazer inenarrável.
Gostaram da teoria?
Excetue-se aqui o Mike Tyson e o Evander Hollyfield, creio que aquela não foi uma boa tentativa de morder orelhas ...

sexta-feira, março 24, 2006

Uma velhinha ...

O quarto em que minha avó está é duplo. Isso quer dizer que ela fica com alguém junto. Para não dizer que é "da galera" eles chamam de "semi-privativo". O legal é dormir na cadeira para acompanhá-la. Dormir em uma cadeira é semi desobediência aos direitos humanos. Entretanto, é tão terrível a coisa que eu nem me meto a falar. A colega de quarto de minha avó é uma velinha tão velinha que se deixar a janela aberta vem um vento e apaga. Ela não fala e é cega de um olho. Eu percebi isso porque o olho é vazado. Magrinha de dar dó. Se alimenta por meio intravenoso. Uma tristeza ...
Mas o pior vem agora. Eu fiquei a noite toda lá, cuidando da minha avó. Uma outra velhinha. Ri, está gordinha, conversa, olha televisão. E ninguém veio ver a velhinha do lado. De manhã, ao menos até a uma e meia da tarde, ninguém veio para vê-la. Balbuciou umas palavras para mim, perguntando algo que não pude entender, mas pude chorar por dentro quando, em vendo que eu não a entendia, ela deixou o corpo cair, novamente, inerte na cama e uma lágrima libertou-se de sua tristeza interior tornando minha vida mais complicada.
Ela tinha uns esparadrapos colados no corpo e eu pensei que era seu nome. Já estava estupefato por alguém colar o nome da pessoa no braço, mas são tantos pacientes que eu até entendi os médicos. Não era. Dizia assim no esparadrapo. "Não puncionar, não registrar."
Não sei o que significa, mas a visão é terrível. Aos poucos descobri que ela não tem nome. Para o pessoal da enfermagem ela é a senhora do quarto 158 leito 2. Para a recepção ela é a Unimed número 071345723. Pelo que vi, para a família ela é uma memória anacrônica. Um efeito histórico com data e hora incertos para desaparecer mas com a vontade de que não ocorra tarde.
Eu descobri que existe coisa pior que a desigualdade social no mundo: desigualdade de amor.
E eu ainda não sei o nome dela ...

Pérolas pelo Tio Sam

Um dia no hospital e todas as pueris noções de igualdade são forçadas a serem postas de lado. Não há ideologia ou paixão que suporte um dia num hospital. Aliás, eu acho que o lugar mais desumano da terra é um hospital. Olha que minha avó está num dos melhores de Porto Alegre, ao menos no mais caro. Quando ela estava se internando o Gerdau estava chegando. Ele muito educado olhou para mim e disse "Boa noite"; eu, sem perder a pose, perguntei "Quem é o senhor cavalheiro?". Saí com "crasse", o cara da recepção ficou sem saber onde se enfiava. Essa gente rica acha que pode cumprimentar todo mundo assim, de graça. Claro que se ele me desse quinhentinhos eu até dizia um boa noite educado. Por milão ia um boa noite aveludado. Com dez milão eu conversava com ele uma hora. Uns cem milão e eu casava de véu e grinalda, "êta homi bão ...".

quinta-feira, março 23, 2006

Campos dourados

Eu não lido bem com a idéia de morte. Definitivamente isso me assusta. Não é fascinação, não é curiosidade é, sim, medo. E acho que acabo atraindo esse tipo de coisa. Sou daquelas pessoas que se o vivente estiver morrendo, eu chego perto, nem que seja para dar um oizinho, e ele vira morrente, na mesma hora. E o pior é que por mais que eu me afaste dela ela, a morte, parece que anda ao meu encalço. É a coisa que mais temo e parece ser a mais presente na minha vida. Tive muitas perdas familiares, não sei lidar com elas até hoje, mas agora eu cuido das minhas duas vós. Ou seja, é gente na fila que não acaba mais. Uma tem 69 e está vendendo saúde, minha irmã que o diga, a outra tem 83 e já vendeu tudo. Ainda tenho uma tia de 90 que só parece que vende, mas não entrega nada. No fim, fico eu sabendo que, mais cedo ou mais tarde, acabarei acordando e dando de cara com ela, a morte, em lençois de gente amada. Espero que seja eu recebido com um sorriso, que não sofram. Entretanto, fico me perguntando qual a diferença. Se sofrer talvez seja a última gota de vida que nos resta, então que soframos. Imediatamente lembro-me de ver parentes com câncer terminal disseminado. Não sofram, por favor. A morte, retiradas todas as lendas que dela contam, é nosso último momento de vida. Pois que seja assim então.
Sentir-se finito é sem dúvida sentir-se impotente. Saber que temos um tempo aqui é saber que não temos tempo para nada. Tudo o que nos insufla medo e o que acaba por formar a tal ética humana (se é que esse conceito existe) tem seu fundo no medo que temos dela, a tal da morte. Eu me sinto o maior medroso. Um dia, não respirar, não sentir, não ver, não ouvir ... não ... simplesmente não. Nada.
Teremos tido tempo? Teremos tido oportunidade? Teremos tido amor suficiente? Teremos tido dor suficiente?
Hoje eu vi a morte de pertinho, minha avó foi internada. Ela me deu um oizinho, a morte. Certamente isso é injusto. Ela sabe o dia que nos encontraremos, eu não. Espero que nesse último encontro às escuras, ela seja uma linda donzela loira que me convide para passear sobre o sol de uma tarde de primavera em lindos trigais dourados, cujo movimento segue o frescor do vento que se lança por sobre nós. Peço apenas dela um sorriso. O último. E, se não for pedir demais, gostaria, também, o mesmo sorriso de todos os que me virem embarcar para esse lugar.
No fundo não devemos temer o que não conhecemos, mas no fundo somos apenas humanos ... até um determinado dia.

terça-feira, março 21, 2006

A César o que é ...

O Brasil é um país terrível em termos de hábitos de consciência. É um abuso reiterado o que ocorre. No Brasil o nosso direito vai até onde o outro pode deixar de ver. Isso é assim em todos os planos. Político, social, econômico, familiar. Tudo. Achamos que podemos fazer algo a mais desde que ninguém note. Podemos nos exceder desde que não incomode ninguém. Isso serve até para bebedeira de bar. Eu posso fazer as coisas desde que não me peguem. Parece que a ética tem olhos. Se cega, não liga. Na política isso se mostra ainda mais aviltante porque ou ficamos na mão do sujo poder legislativo, seus conchavos e acordos, ou do interesseiro poder da mídia que descortina as sujeiras em nossa cara. É preciso perguntar que sujeiras estão sendo descortinadas e a quem interessa isso. Certamente a mídia mostra o que lhe convém e o faz como se mostrasse o pleno dos fatos. É revoltante. Para um exemplo olhem a repercussão do oscar esse ano e comparem no ano passado quando os direitos tinham sido comprados pelo SBT. Comparem o sucesso que os filmes do Senhor dos Anéis fez no mundo e quantas pessoas assistiram eles na televisão.
De novo a força da mídia faz e desfaz impressões. Isso não é somente poder construído e sim uma estrutura maior que está na nossa cultura. Para o brasileiro, o que não é visto não existe e não pode causar mal. Aí se abre uma tremenda brecha para tudo o que se faz de errado nesse país, mesmo em família. Ou você nunca colou tatu de nariz em baixo de classe no colégio?

segunda-feira, março 13, 2006

Dois Negrões Inc.

Estou de mudança. Isso sempre é um transtorno e no meu caso nada agradável. Já devo ter me mudado umas quinze vezes nos meus vinte e nove anos. Teve um ano que me mudei cinco vezes. Isso deveria me conceder o título de expert em mudança, não?
Nada disso, continuo o mesmo atrapalhado de sempre. Perco tudo em mudança. Já perdi cachorro e até namorada. Ambos me foram entregues depois pela empresa de mudança. Gente séria. O cachorro veio intacto, a namorada eu não sei. De qualquer forma perco coisas importantes. Assim, lembrando de um grande amigo pensei em montar a seguinte empresa: Dois Negrões Incorporated. O "incorporated" aqui não quer dizer dois pais de santo incorporados. É uma forma de tornar a coisa globalizada, transnacional. Afinal, dois negrões servem para tudo. Lembrando do meu amigo Cristiano sou obrigado a refazer a afirmação: "Quase tudo!".
Então vamos lá:
- Se você precisasse se mudar e tivesse um monte de caixas para transportar, armários para desarmar, coisas para tirar da parede, etc. você precisaria de ...
- Se você estivesse com uma pessoa te devendo uma verdadeira fortuna e você precisasse desesperadamente cobrar você precisaria de ...
- Se você tivesse uma namorada muito gata com todo mundo dando em cima e você fosse um tampinha cheio da grana você precisaria de ...
- Se você morasse num prédio com uma síndica louca e com vizinhos baderneiros que não deixam você dormir tocando música alta até as quatro da manhã você precisaria de ...
- Se você estivesse com o carro estragado numa rua deserta você precisaria de ...
- Se você tivesse numa festa e um lutador de jiu-jitsu, desses que arrumam briga por nada, resolvesse te incomodar você precisaria de ...
- Se você tivesse uma sogra que não sai do teu pé, e pensa em morar contigo. No caso seria melhor você morar com outras pessoas. Você precisaria de ...
- Se você fosse falar com o teu gerente de banco, levasse aquele xá de banco e depois ele viesse com aquela lenga-lenga de "não podemos segurar a sua conta ... " você precisaria de ...
- Se você fosse para a faculdade para pegar aquele último conceito com aquela cadeira cuja professora sofre da síndrome de Malcom (Malcomida) você precisaria se fazer acompanhar por ...
- Se você casou com uma baranga alucinada que ainda pensa que pode gastar todo o seu dinheiro você precisaria no quarto dela e de acompanhante também ...
- Se você tivesse aquela filha que é um arraso, linda, gostosa, inteligente e ainda com o seu dinheiro no bolso. Só que ela gosta de punks, góticos e raves com drogas, você precisaria de ...
- Se você fosse ao jogo do seu time e entrasse por acaso no portão da torcida do time contrário. Sair vivo dependeria da presença de ...
- Se você fosse um galã ou um cantor famoso e fosse pego de surpresa por um grupo de trinta fãs sua integridade física dependeria de ...

E por aí vai ...
Encontrei a mina de ouro, vou me tornar o Dois negrões' manager sócio-diretor. Agora só preciso dos dois workaholic para começar o maior empreendimento da terra.
Alguém se habilita??
Antes podiam me dar uma mãozinha na mudança, só para teste ...

quinta-feira, março 09, 2006

Um almoço

Dia de almoçar com amigos. Isso nos traz a sensação de que as coisas podem mudar. Sim fazer algo diferente, conversar com pessoas com pontos de vista diferentes. E realmente isso ocorre. Dentre os diversos assuntos que rolam num almoço desses, que originalmente era para ser de negócios, um me chamou à atenção.

Biólogo: Vamos pedir algo para beber?
O príncipe: Sim ...

Calmamente chamei o garçon. Aproximou-se de nossa mesa um rapaz com uma camisa aberta no peito, mangas curtas dobradinhas para mostrar os braços, um colar de miçangas grandes apertado no pescoço, uma tatuagem à mostra no braço, um brinco, um piercing e muito gel no cabelo.

A raposa: Esse cara é estranho ...
O biólogo: Sim, muita atitude ...

Acho que ele matou a questão. Nós homens temos um senso. Estranho mas sentimos algo estranho e podemos até, com um olhar apurado, diferenciar homossexuais. Isso não é discriminação é uma espécie de sentido 24. Mas nunca definimos muito bem o que é. Converso com muitas mulheres que perguntam como sabemos. Agora a resposta esta clara, muita atitude.

quarta-feira, março 08, 2006

Verdade ou Conseqüência

Encontro aos 12 anos com o pai "dela":

O pai = Quais as suas intenções com a minha filha?
O príncipe - As melhores possíveis, o senhor pode ter certeza ...
Comentário da raposa - Sem saber o que são boas ou más intenções ...

Encontro aos 15 anos com o pai "dela":

O pai - Quais as suas intenções com a minha filha?
O príncipe - As piores possíveis ... (risada sarcástica)
Comentário da raposa - Achando que tá arrasando sendo "espertinho".

Encontro aos 18 anos com o pai "dela":

O pai - Quais suas intenções com a minha filha?
O príncipe - Nós estamos nos dando bem, é só isso ...
Comentário da raposa - Tentando fugir de uma responsabilidade que se posta só no olhar ...

Encontro aos 24 anos com o pai "dela":

O pai - Quais suas intenções com a minha filha?
O príncipe - Vamos juntar esforços e tentar viver bem ...
Comentário da raposa - Mostrando uma certa maturidade ...

Encontro aos 29 anos com o pai dela:

O pai - Quais suas intenções com a minha filha?
O príncipe - Eu quero casar com ela! E lhe dar netos ...
Comentário da raposa - Mal de Alzheimer ... tão cedo já sofrendo disso.

domingo, março 05, 2006

Ajuda!!! Ajuda!!!

Senhores por favor,
Saiu um concurso literário do MEC, 80 em prêmios. Gostaria de concorrer em algumas categorias. Aqui fiquei em dúvida em qual dos textos mandar, assim elaborei uma lista com oito, seis para crônicas e dois para poemas e peço a ajuda dos votos de vocês. Obrigado.

crônica

1 - Fronteiras de Prata

2 - Arco Íris

3 - Brincando com as Nuvens

4 - Terra do Nunca

5 - Aurora

6 - Amálgama Imperfeito

poema

1 - Horizonte

2 - Carrossel

Aqui o link para outros escritores amadores companheiros, vamos lá concorrer ...

http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/concursoliterario.pdf

sexta-feira, março 03, 2006

Acre

Desgosto. Quando não se entende o por quê das coisas caímos num limbo que não tem nada de agradável. Nos sentimos impotentes, como se batêssemos numa parede de vidro, onde podemos ver o que ocorre mas interação é impossível. Ver as coisas afastarem-se paulatinamente é terrível. Como um sabor estranho na boca. Como algo que nos é dado e retirado, sem que se diga a causa. Revolta com a situação é o que mais surge. Mas em realidade estamos quase sempre de mãos atadas. Como se apenas pudéssemos sofrer o que vem. Uma pessoa me disse: "Eu não sirvo para platéia". Eu também não. Odeio ser deixado lá.
Tenho sido platéia da minha vida nos últimos tempos. Como uma pessoa amarrada numa cama que pode muito pouco dentro da realidade. Talvez chutar um lençol para o chão, ou gritar por socorro.
O grito não resolve, não há ajuda disponível.
Depois de uma breve mudança, lá vem a impotência de novo.
Viram "Tempo de despertar"? Deveriam, o filme é fantástico.
Estou me sentindo um daqueles doentes ...

quinta-feira, março 02, 2006

Pé-de-Meia

Sim, vivemos num capitalismo desenfreado. Sim, vivemos num mundo onde o ter representa muito mais que qualquer outra coisa. Negar evidências da época que se vive é como ser taxado de insano pelo próprio tempo. Sem problemas com isso, certo?
Errado.
Na realidade isso é tão parte dos julgamentos que se fazem em nosso tempo que é impossível não ser medido pelo que se tem. E o pior é acreditar que se você não tem é porque algum problema há. Se você não tem carro é porque gasta de mais com outras coisas não muito cristãs. Se não tem apartamento é porque não tem um trabalho que possa te prover isso, então é quase um atestado de incompetência.
Pelo que temos vão se formando juízos sobre nós, até aí nada de novo no reino da Dinamarca. Mas pelo que não temos se faz exatamente o mesmo, com efeito bem mais devastador.
É mais fácil aceitar um canalha numa BMW do que uma pessoa honesta a pé. Antes isso era uma grande lenda urbana. Uma forma de pensar que era criticada ainda que praticada. Agora é uma hegemonia.
Hoje eu senti na carne isso. E não reagi muito bem não. Fico pensando nas loucuras que esse tipo de julgamento pode trazer, ainda bem que não sou negro e homossexual.
Pode não parecer, mas esse tipo de pensamento é de uma rudeza absoluta, mas ao mesmo tempo tem uma força de verdade que não pode ser vencida por simples textos ou manifestações.
Assim deixo aqui o meu protesto: Compro BMW apenas para ser uma pessoa melhor ...

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Pra não dizer que não falei em flores ...

Nunca dirão de mim que algum dia eu fui vagabundo. Tudo bem, dei uma exagerada, mas o sentido heróico da frase permanece. Como estou de férias, sem ganhar nada, a não ser alguns kilinhos então aceitei uma proposta de um amigo. Um bico. Trabalho duro, dizia ele. Aceitei trabalhar de ajudante de mudança.
Uóoooo
Eu estava louco.
Bom, o time era composto por:

Miúdo.
Imaginem alguém apelidado de miúdo ... Um gringo sem pescoço que o que tem de engraçado tem de forte o desgramado. Leva geladeira na caçuleta e ainda te conta piada, subindo escada. Vai catar coquinho ... quase me mijei todo e ainda derrubei os "picasso". Depois explico isso.

Edílson.
Um pretinho básico que é carinhosamente apelidado de "sem serventia". Mas vai fazer mudança com ele, vai. Ele agüenta sorrindo o que tu não agüenta nem com dois ajudando. O cara não tem mais que metro e meio, mas é um boi. Só que trova. Trova todo mundo. As tias que estavam pagando a mudança deram até Coca-Cola para ele e pelo que sei, vai rolar até casamento.

Maguila. Um negrão de metro e oitenta, que não precisa nem te bater para machucar. É só ele cair em cima. Negrão que carregou um sofá de dois lugares sozinho quatro andares acima. A impressão que eu tinha era que se tivessem duas pessoas sentadas no sofá não faria a menor diferença para ele. O cara é um monstro. Tiveram que pedir para ele parar senão ia desmontar um armário embutido que tinha na casa das tias. Segundo elas, o armário estava lá desde a fundação do prédio. Acho que o apartamento foi construído em volta do armário. Segundo ele "tava facinho de tirar, um pouquinho emperrado só".

Eu. Destoando completamente da galera. Muita emoção na primeira hora. Trinta e cinco lances de escada acima e a emoção se esvaiu dando lugar ao terror. Mais uns trinta lances levando só "os picasso" e o terror deu lugar ao desespero. Perto do meio dia eu já queria ir para o Iraque, onde era mais calmo. As pernas não respondiam mais. Ombros? Eu não tinha e olha que segundo o Miúdo eu estava levando só "as facinha".
A mudança era de segundo pra quarto sem dó. Em gíria de mudança quer dizer: tirar do segundo andar, levar para o quarto de um outro prédio e sem elevador. Entenderam o porquê do "dó"?
Na boa, no final da tarde eu não sabia mais se era dó, ré, mi ... Era tanta caixa pra cima, mesa pra cima etc. Eu fiquei com ódio de engenheiros e arquitetos. Um projeta edifícios de quatro andares (e cobertura ...) sem elevador. Certamente deveria ser denunciado aos direitos humanos. O outro projeta mesas em forma de um "x", cadeiras em "m". Coisas que não entram nem saem dos lugares. Acho que eles (engenheiros e arquitetos) deveriam manter a briga entre eles e não fazer as pessoas de vítimas do seu sadismo.
Saldo da empreitada: sete bolhas nos pés, trinta e cinco hematomas pelo corpo. Três cortes. Panturrilha direita morta, panturrilha esquerda na CTI. Ombro direito tetraplégico, ombro esquerdo vegetativo. Hoje não escovei os dentes, era muito esforço. Esqueci de dizer, ganhei cincoenta mangos mais a bóia.

Ahhh, sim. Picassos são os quadros. Cuidado com a interpretação, por favor.

Engatando

Até agora tudo parecia um limbo. Me lembro que essa época do ano custava a passar quando éramos menores. Chegava fevereiro e já sentíamos vontade de aula. Eu nem sabia o real sentido da palavra férias. Se é que sei hoje. Sabia que era um tempo que demorava para passar. Depois passei a ver que isso não era só meu. O Brasil custa a engatar a primeira marcha. Ano-novo, Férias e Carnaval. Parece que só acordamos do transe gerado no final de dezembro quando no final de fevereiro. Era tudo marasmo naquela época e ainda hoje, basta que olhemos o trabalho do congresso ou as vendas do comércio ou a produção das empresas ou qualquer outra forma de comparação. Exceção à venda de bebidas que deve subir agora. De resto o Brasil ainda é um bebê abrindo os olhos para a primeira mamada. Depois reclamam que o país não engata.
Engata sim, os trios elétricos no nordeste estão engatados desde quarta. E tem gente que critica isso. Na realidade, foi a forma mais inteligente que os nordestinos criaram para ganhar dinheiro. Sim, eles fazer festa e quem vai gasta dinheiro, muito dinheiro. Então viva o Brasil e que chegue março logo!!!

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Noves fora ...

A raposa - E aí?
O príncipe - E aí o quê?
A raposa - Ora o quê, tu sabe.
O príncipe - Não sei não, seja mais direta.
A raposa - Tá rolando?
O príncipe - Rolando o quê?
A raposa - Ai, caramba! Burro tu não é. Tá te fazendo.
O principe - Não, quero apenas um pouco de privacidade ...
A raposa - Privacidade? Tá brincando comigo. Eu participo de tudo.
O princípe - Falo sobre juízos e julgamentos.
A raposa - Não! Mas é exatamente nisso que não pode me deixar de fora. Lembra da ...
O príncipe - Lembro!!
A raposa - Pois é, doeu não doeu? Me deixou de fora ... Lembra daquela outra, a ...
O príncipe - Sim, lembro!!!
A raposa - Então, eu também tentei avisar ...
O príncipe - E tu? Lembra da ...
A raposa - Não, ela não vale. Tu não podia prever nada, se seria bom ou ruim. Tudo é conjectura.
O príncipe - Exatamente essa é a tua vantagem. Para ti tudo é passado, é julgado e acontecido, aí tu aparece. Com as velhas certezas e vontades. Eu trabalho com sonhos. Eu construo situações e sou julgado pelos erros, simplesmente porque até agora nenhuma deu certo. Me julgarás também quando acertar?
A raposa - É ... bom ...
O príncipe - Reagir é mais fácil. Sou eu que dou a cara a tapa. Tua função não é evitar o tapa é revidar. Mas não teria que revidar se eu não fizesse a minha parte.
A raposa - Isso ... enfim ...
O príncipe - Tu sempre sabe como as coisas deveriam ter sido feitas. Mas sou eu quem as devo fazer, sempre. Então, espera a tua vez, e que ela não venha, desta vez.
A raposa - Um a zero ...

Faço Frete

Fazer?
Fazer o quê?
Fazer por quê?
Fazer para quê?
Fazer por quem?
Fazer por fazer, pode?
Fazer por prazer, vale?
Fazer para desfazer, é?
Fazer só para sentir que pode?
Fazer e desfazer só por prazer?
Fazer por prazer e defazer para sentir?
Fazer para valer e fazer com prazer, para quê?
Fazer valer o prazer e desfazer o sentir, por quê?
Fazer porque fazer é prazer, vale com quem?
Fazer porque prazer é desfazer, conta?
Fazer porque o prazer é sentir?
Fazer para que o sentir conte?
Fazer é também desfazer?
Fazer é sempre fazer?
Fazer é prazer?
Fazer se pode?
Fazer pra ver?
Fazer e ser?
Fazer-se?
Fazer?

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Com puta dor

Agora eu entendo porque existem algumas informações em produtos que beiram a idiotice. Esses dias recebi um e-mail com elas. Coisas do tipo:
- Escrita na frente de um saco de amendoins: "Abra o saco. Coma os amendoins."
- Escrito numa caixa de bolinhas para enfeitar árvores de natal. "Para uso externo ou interno".
- Escrito numa caixa de ferro de passar roupas: "Não passe a roupa no corpo".

Carácoles!! Quando li o e-mail pensei que estavam tirando onda da minha cara. Se tu tens um saco de amendoin nas mãos vai fazer o quê? Abrir os amendoins e comer o saco? E as bolinhas? Poderiam ser usadas em algum outro lugar do planeta Terra que não se qualificasse como interno OU externo? E quem é o animal que vai passar a roupa no corpo com um ferro que beira os 80 graus celsius?
Eu comecei o texto dizendo que AGORA eu entendo o motivo. Olha essa:

Senhora Mágica da Faxina: Estava pensando em lavar o fogão e o forno, mas ele tá muito duro. Tá emperrado.
O príncipe: Pode deixar que eu compro um lubrificante para facilitar ...

Algumas horas depois eu volto e encontro a Senhora debruçada no fogão terminando a limpeza, ela se vira para mim e diz

Senhora Mágica da Faxina: Oi! Tudo certo, muito bom o lubrificante que comprou (sic). Ficou tudo prontinho.

Ao fazer isso ela balança para cima e para baixo o tampo do forno, mostrando o "milagre". E eu atônito olho para a MINHA sacola, recém chegada da rua. Lá estava o lubrificante para o forno.

O príncipe: Como a senhora fez isso? - Perguntei atônito.
Senhora Mágica da Faxina: Usando isso, ué ... - Ela me mostra uma bisnaga de KY - Aqui diz "lubrificante" e é dos bons!

A raposa - Certo, certo. Excelente trabalho. Mas será que esse aqui "Easy Off" funciona bem também com camisinha?

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Deus ex Machina

Aparentemente as ambigüidades da vida são insondáveis. Inúmeras são as tentativas de entender "a vida como ela é", maiores ainda são os fracassos. Apenas o que podemos é representar de uma forma verossímel e lógica para nós aquilo que nos é apresentado em uma storyline real.
Entretanto, como um diretor que não faz o filme todo e não tem conhecimento do roteiro, tudo parece ainda estar meio desfocado, meio ininteligível. Hoje diríamos que o destino a Deus pertence. A um mês brigaria de foice com o autor desta frase, mas não hoje. Sou forçado a acreditar que nosso grande Shakespeare estava certo. "Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia."
Conversando com meu padrinho contei-lhe, como se ele não soubesse, as agruras que estavam a me acometer por ciclos cuja intermitência estava por destruir-me. Ele, como se impassível ante tudo, me disse:

O padrinho - Uma vez um goleador do Grêmio perdeu um gol na cara do goleiro numa final. Foi tão escandaloso que um repórter de campo, ao terminar, o primeiro tempo interpelou o jogador:
- Como perdeste aquele gol? O jogador muito religioso respondeu
- Deus deve estar guardando algo melhor para mim ...

Meu padrinho falou esta frase e disse para eu guardá-la. Como o fundo da esperança é o mágico, o místico e o quase impossível. Estava valendo tudo, até conselhos de auto-ajuda.
Um anjo loiro, lindo, sorridente me apareceu. Foi como se as coisas de repente tomassem vida, gozassem de um princípio simples - "vão dar certo" - foi como água em seis meses de deserto.
Num primeiro momento pensei que fosse um estado de espírito. Uma certa aceitação tácita e muito mais psicológica de que as coisas mudaram. Isso seria exclusivamente circunscrito a mim e, por essa teoria, não poderia afetar a mais ninguém.
Errado eu estava. A maré está virando. Lenta e prodigiosamente, o anjo, como que por encantos que só os anjos conseguem, realmente modificou algo. Não dentro apenas nem fora somente. Indízivel. Insondável.
"Obrigado vida, daqui sigo eu, ainda que sozinho. Enquanto ao fundo alguém grita. Beba com moderação."

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Blank

"Houston, we have a problem ..."

sábado, fevereiro 04, 2006

"Olhai os delírios do campus"

Cogumelos, o sonho dos gourmets e de alguns toxicômanos. Parecem inofensivos mas na realidade são muito perigosos. As espécies conhecidas como "Anjo da Morte" (Amanita phalloides) ou o "Chapéu da morte" (Amanita virosa) podem matar dentro de uma semana, depois de dois dias sem nenhuma sintomatologia. As espécies Gyromitra esculenta e Gyromitra gigas têm taxas de mortalidade menores (entre 2 e 4%) mas em compensação teu fígado dá adeus a esse mundo. Os Cortinarius orellanus causam morte de até 15% e se você for consumir com mais seis amigos, pela estatística, alguém sobrevive. Legal, tipo roleta russa ecológica.
A espécie Amanita muscaria é a loucura dos malucos. Causa alucinações, euforia e todo tipo de demência momentânea podendo chegar a coma de até 12 horas. Mortes são raras, quase todas com acidentes de carros.
Os Psilocybes cubensis, Psilocybes mexicana e Conocybe cianopus são a Coca-cola do mundo deles. Usados em rituais religiosos primitivos provocam semelhante sensação à intoxicação por álcool. Os efeitos passam em duas horas. Não é aconselhável a ingestão de álcool conjuntamente, o último que tentou pensou ser um cogumelo assassino e saiu atropelando gatos na rua. Confundiu um poste com um gato e morreu.
Tem também os cogumelos pega-trouxa. São aqueles que não dão nada além de caganeira. Clorophyllum molybdites, Entoloma livdum, Trycholoma pardum, Verpa bohemica, etc. Se você comer um desses é bom comprar suprimento extra de papel higiênico e um creminho. Um creminho é indispensável ...
Estou tentando saber quais os que surgiram na louça que está na pia. Estou com medo de comer e me dar mal. Definitivamente preciso de um lança-chamas e louça nova.

terça-feira, janeiro 31, 2006

Porteira da Amizade

Não existe inferno na Terra, sempre se pode ver o lado bom das coisas. Bom, ao menos eu encontrei um lugar que, se não é o inferno, pode-se marcar encontro direto com o capeta. A coisa foi tão feia que eu precisei de um distanciamento científico para contar o acontecido. Pois bem, acho que agora que parei de ter pesadelo estou apto a escrever.
Estávamos em quatro, eu, o advogado (ele comenta aqui de vez em quando), o samurai louco e o alemão rapa-trilho. Um quarteto de lascar. O que a gente não agarrar é porque tá morto. Eu tenho um gosto refinado, refinado por decotes ... desgraça. Eu até esqueço de gente gaga, burra, descompassada, guenza é só colocar o maldito do decote. O advogado pega as sub 15. Ele vai negar, vai dizer que só acima, mas eu sei da história dele ... O alemão pega qualquer coisa, está na idade do urubu (come qualquer carniça) e o samurai louco gosta das gordas. Não estou brincando, quando ele está junto pode ir sem medo, a mais rechonchuda é dele. Beira a loucura, outro dia quase foi fagocitado. Cena inesquecível. Como falei, se a gente não agarrar é porque está morto.
Faz mais ou menos um mês e estávamos combinando de sair, comemorar o nosso final de ano. Tinha que ser uma noite muito boa, inesquecível para mandar longe 2005. Bom, pensamos em várias danceterias finas em Porto Alegre (como não ganho jabá, não vou colocar os nomes aqui). Em uma delas tinha mais garçons do que gente. E só cueca. Fomos para outra, trinta conto a entrada. Putz, dolorido. Trintinha e sem garantia de nada, porque não nos deixaram olhar dentro. Olhamos proletariamente os bolsos e concluímos que o investimento era alto para a taxa de retorno. Quando estávamos quase desistindo alguém (e se eu descobrir quem eu mato) disse: "Vamos para o Porteira da Amizade, ali no centro!".
Foi uma afirmação e não uma pergunta. Eu, reticente com esses nomes gaudérios, fui voto vencido. Três a um. Toca pro lugar, numa ruazinha escondidinha no centro. Uma porta com um cara grande na frente e uma mulher maior que o cara. Ruinzinho na entrada, mas piorou muito depois.
Quando eu entrei começou o martírio. Tocava rancheira, sertanejo mela-cueca e todo mundo cantava junto. Acho que para dar força para o som, que não era dos melhores. Tinha uma esganiçada que parecia uma marreca apertada pelo pescoço. E se divertia, ainda, a peça ... se eu tivesse uma arma faria um bem para a humanidade.
De início, avaliei o "potencial mulherístico" do lugar: se melhorasse muito ficava terrível. Tentei sair mas fui contido pelo samurai louco que dizia: "a cerveja é barata, bebe que elas melhoram".
Mentiroso, salafrário. Melhoram nada, ou então eu teria que beber a produção mensal da Brahma para elas melhorarem. Caramba tinha de tudo. Sem dente (tinha uma mulher que fumava com o cigarro colocado no buraco do dente da frente, que ela obviamente não tinha), caolha, obesidade mórbida, múmias fantasiadas de paquitas ... era um teatro dos horrores. Sabe aquele bar no Star Wars? Pois é, eu fiquei esperando o Jabba aparecer. E os caras se divertindo. Tinham umas duzentas pessoas num lugar onde cabiam quarenta. Quando entramos nós éramos o Brad Pitt, Tom Cruise, George Clooney e Antonio Banderas do lugar. Todos os aliens de sexo feminino pensaram coisas indizíveis conosco.
Fui bebendo. Bebendo. Bebendo ... Elas não ficavam mais bonitas elas duplicavam. Onde tinha uma eu via outra igual e do lado. Acho que foi por isso que gastei três consultas no psicólogo, tomei medicação tarja preta e o escambal. De repente, começou a tocar um tecno e fomos dançar. Apareceram as mais normais da festa; uma prima-irmã da Hebe que foi agarrada pelo samurai louco, uma hobbit brejeira que se fazia de santa que o alemão pegou, e uma outra mulher que eu não sei direito qual era a inclinação sexual. Acho até que não tinha ou a perereca era virada, pelo jeito que ela colocou a calça ... muito estranho.
Eu continuei bebendo ... e elas não ficavam bonitas. Umas quatro horas depois, eu fiquei com medo do próprio demônio aparecer e recolher aquelas almas nos levando para o inferno junto. Fomos embora. Sabe da pior? Eu salvei a vida daqueles ingratos e eles disseram que eu não agarrei ninguém. Sinceramente, a coisa mais feminina que tinha lá, a mais palatável que eu achei foi um poster da Antártica grudado na parede. Fiquei discretamente do lado a noite toda, pedindo um milagre ... um milagre no meio do inferno. Como eu rezei aquela noite ...
E lado bom, definitivamente, era o lado de fora ...

domingo, janeiro 29, 2006

Absurdo!

Eu sou contra isso. Terminantemente contra. Mas isso superou meus limites. Assim vou repassar ...

"O Centro Sísmico Nacional à polícia da cidade de Icó, no nordeste, um telegrama que dizia:

Possível movimento sísmico na zona (ponto)
Muito perigoso, superior Richter 7 (ponto)
Epicentro a 3 km da cidade (ponto)
Tomem medidas (ponto)
Informem resultados com urgência (ponto)

Após uma semana foi recebido no Centro Sísmico Nacional um telegrama resposta:

Aqui é da polícia de Icó (ponto)
Movimento sísmico totalmente desarticulado (ponto)
O tal Richter tentou fugir, mas foi abatido a tiros (ponto)
Desativamos as zonas (ponto)
As putas estão todas presas (ponto)
Epicentro, Epifânio e três cupinchas detidos (ponto)
Não respondemos antes porque aqui houve um terremoto, caralho!!"

E tem gente que jura que é verdade ...

Um chicote ...

Esse blog está um lixo. Eu tenho lido ele ultimamente e tenho achado um horror. Claro, pode-se argumentar que é fase, mas auto-piedade e tristeza o tempo todo é ruim de agüentar. Nada de textos alegres a tempos e os tristes são superficiais como esperando algo que o mundo não pode dar. Lixo. Lixo. Lixo. Reflexo certamente do momento, contudo ninguém é obrigado a ler isso. Tenho uma predisposição à auto-crítica, o que é bom. Ao mesmo tempo tenho uma super disposição de me desculpar por tudo. Tenho inteligência para isso o que não torna a ação correta, apenas mais palatável. Procuro colocar o sujeito dos fracassos sempre fora de mim. Não gosto de errar, e só aceito quando, em última instância, não há mais o que se fazer. Isso é terrível, suporta melhor as vicissitudes da vida quem se resigna às coisas. Vitórias de Pirro não são, de forma nenhuma, algo para se orgulhar e batalhas sem possibilidade de vitória deterioram a vida e os relacionamentos. É necessário saber lutar mas também saber recolher-se. Eu busco, talvez, um tempo de felicidade que não pode ocorrer pela própria forma do buscar. O embate gera antagonismo, que também é forma de contato, mas não das mais frutíferas. A parte mais bonita da rosa não são seus acúleos.
Assim, a partir deste fatídico dia três coisas me serão leis:

- Consenso como forma e conceito de vida, entendendo que não preciso concordar com bobagens, mas posso simplesmente me afastar.
- Este blog não será mais usado para um sistema psicológico de pesos e contra-pesos. Aqui virão coisas diferentes, como o próprio lay-out deve mudar.
- Meus fardos são meus e de mais ninguém. Não dividirei e nem pedirei isso, ainda que de forma velada, a ninguém.

Não se pode querer que os outros sorriam se a eles te mostra triste. Não se pode querer que as pessoas entendam o que a ti é incompreensível. Sentimentos não são traduzidos, são sentidos e são pessoais.
Olha que dia lindo nasce na janela ... Olha e não apenas vê.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Um velho pedido ...

Preciso de um pouco de paz.
Sinto como alguém que percorre mundos atrás de imaginação. Sinto como se tivesse correndo desde que nasci.
Preciso de um pouco de paz.
Sinto como se tudo o que eu conseguisse ter como meu me fosse tirado. Sinto como se as coisas tornassem-se pó ante minhas mãos.
Preciso de um pouco de paz.
Preciso entender o porquê desses acontecimentos, mais parecem uma sina. Preciso entender se o caminho que até hoje trilhei, e que me parecia correto, realmente o é. Diante de tamanha oposição da vida e do tempo há que se repensar.
Preciso de um pouco de paz.
Preciso reavaliar o que tenho e o que perdi. Entender a matemática da vida e a poesia do coração. Preciso analisar minha mente, meu espírito, minha vida, enfim.
Preciso de um pouco de paz.

Esse pouco me seria tão bem vindo que aos meus olhos pareceria o paraíso. Paraíso que encontrei em diversas pessoas temporariamente, em poucos momentos efusivamente e nunca tive para mim.

terça-feira, janeiro 24, 2006

Borboleta Púrpura

Esse final de semana foi um grande divisor de águas. Eu pude ver ao mesmo tempo opiniões de pessoas que me conhecem a quase dez anos, outras que me conhecem a cinco, outras que me conhecem a um ou dois e, para terminar, pessoas que não me conheciam. Todas as opiniões juntas a meu respeito. Deveras interessante. Festas em praias proporcionam esse tipo de coisa. Tempo juntos. Acordar, dormir e até ver algumas coisas não muito educadas. Tudo certo, mas o veredito é que foi estranho.
Não sei se por concordância coletiva forçada, ou se por direcionemento psicológico, TODAS as pessoas que estavam dando pitacos na minha existência chegaram à mesma conclusão: sou uma mulher por dentro.
Caramba! Se Papai lesse isso ele não ia gostar. Isso mesmo, todas as pessoas em consenso chegaram à conclusão que eu sou uma mulher, psicologicamente falando.
Devo dizer que ainda não aceitei bem a idéia, mas é difícil contrapor-se quando tanta gente com tantas impressões diferentes chega ao mesmo ponto. Também não sei se é bom ou ruim.
Estavam presentes um casal de grandes amigos, um casal que não me conhecia direito, um digno representante dos homens das cavernas ("Mim pega mata e come!"), e um prático solitário de plantão.
Vejamos, disseram que por eu me preocupar com os sentimentos eu sou mulher por dentro. Certo vão argumentar que não foi bem isso, Voilá! Disseram que por eu correr atrás do que quero, em termos emocionais, tenho um comportamento feminino. Porque sofro? Não sei se entendi direito, mas a argumentação foi no sentido de em não sendo o famoso homem "não gostou vai te fuder" eu sou feminino. Vamos lá, quando dancei na festa, não tiveram dúvidas, ou melhor aí é que tiveram!
Parece que porque eu sofro, falo, procuro entender as pessoas, sou um tanto culto, danço em festas até cansar, sou fraco para bebidas, não peido, não arroto (ao menos não em público) e sou uma pessoa sensível eu sou gay. Não, gay é muito sou baitola mesmo. Devo dizer que minha experiência sexual não chegou onde a imaginação das pessoas que me fizeram o julgamento as levou.
Devo dizer também que não me sinto à vontade com esse consenso. É que já que não sou "gay" não participo das benesses de sê-lo, quais sejam: uma certa liberdade de parâmetros, companhias femininas à roldão, descontração em locais dançantes, muitas experiências sexuais diferentes. Ou seja, não sendo assim borboleta, não vôo. Ao mesmo tempo recebo algumas das penas por parecer borboleta, quais sejam: desconforto das pessoas "de família" quando em festas, uma certa distância das fêmeas (afinal elas sentem que há perigo), e uma certa agressividade e incompreensão, ainda que verbal, por parte dos machos próximos.
Enfim o pior de dois mundos.
Faço o quê?
Saída 1 - Começo a arrotar e peidar, coçar o saco na frente de todo mundo e agarrar pessoas pelo cachecol sem dó nem piedade?
Saída 2 - Pinto as unhas, faço luzes, começo a falar cantado e vou fazer um curso de maquilagem?

Quem me conhece, por favor, uma dica ...