sábado, setembro 24, 2005

Arco-Íris

Podemos escrever apenas o necessário. Nada mais. Esse foi o combinado. Assunto? Branco. Existe algo mais "clean"?
Branco era ruim. Lembrava injeção. Lembrava aviso de mãe: "Não suja não!". Branco protegia branco, sorriso.
Depois passou a lembrar crayon, hidrocor e felicidade. Guache ou massinha por sobre. Branco era melhor que vermelho ou verde, ao menos na comida. Branco e amarelo no céu combinavam com verde na terra ou azul na praia.
Mais adiante, branco lembrava medo. Branco com ponto de interrogação era fatal. O amarelo, o azul e o verde escapavam janeiro a fora. Se, com interrogação, branco viesse, em branco ficaria até março. Vermelho de raiva ou verde de vergonha.
Branco com cinza no céu ... hum, dava transparente, na rua. Em branco não passava. Nem o branco dos olhos, nem o branco da pele. Branco também lembrava tubo. Tubo branco que em branca pele protegia do amarelo. Aquele ali no azul. Bom colocar a mão no branco e na branca. Espalhar bem para não ficar vermelho.
Branco passou a dizer: "Cheguei!". No escuro, quase tudo preto, poucos gostavam de branco. Agora o medo era dar branco quando deveria dar presente. Complicado. Branco vinha acompanhado de bronca. Não tinha jeito. Branco também era sonho. Sonho de amor com branco, preto, arroz e "Sim! eu aceito". Outro sonho branco era jaleco. De curar, de ensinar ou de voar. Branco com capacete. Lá longe, tentando achar o amarelo e o azul. Aqueles mesmos ... Branco cada vez mais sonho.
Teve gente que se perdeu no branco. Não branco no azul e no amarelo, mas branco que mata. Aos pouquinhos. Insistiam em sentir o perfume do branco. Perfume de morte embalado em sonho branco. Muita gente nunca voltou deste branco. Gente que entrou numa tranca, porque diziam que só levavam o branco. Não sei. Triste branco.
De repente um branco que enrola um rosinha, quase choro. Pelo branco não mas pelo rosinha que chora. Noites em branco. Olhando e cuidando para o rosinha não ficar branco. Cuidando para não ficar azul, vermelho nem verde. Rosa, não pode outra cor. Senão corre e chama outro branco, o do negócio preto no pescoço. Aquele que manda dizer "ahhh!".
Agora medo é do branco no banco. Passa finais de semana em branco, longe do bando, para evitar o banco. Medo. Rosinha já deixou o branco. Usa todas as cores, mas reluz lindamente ao branco dos meus olhos. Medo de passar em branco. Agora o branco dos olhos do que fora rosa não entendem o branco dos olhos meus. Bronca certa. De novo, vermelho de raiva.
Branco onde antes era preto. Começa aos poucos. Fio ante fio. Primeiro disfarça, compra preto. Passa. Depois aceita, engana que branco realça o verde. Olho.
Agora que branco voltou. Não dá para negar. Quero mais branco. Chega de cores. Cansado. Se passar em branco, ninguém reclamará. O branco carrega o peso das outras cores. Agora deixam-me em meu branco. Mal-de-branco. Agora dá sempre branco. Com tudo, com todos. Nem os que rosa foram, envoltos nos meus brancos, conseguem me ver longe do branco. Não adianta o vermelho de raiva nem o verde de vergonha.
Os brancos esperam pelo preto. Definitivo. Sonham encontrar tudo branco com um senhor de branco e com asas brancas. Sonho branco que desfarça o medo do preto. Branco agora pesa. Tem todas as cores. Passado passou. Agora último branco ... dos olhos dos que rosa foram, envoltos em lágrimas que levarei para o branco. Ali perto do azul e do amarelo. Um último pedido? Chega de branco. Quero todas as cores sobre mim. Do Azul ao Carmim, todas. Esparramadas enquanto embarco quem sabe para onde? Quem sabe com quem? Sei apenas o porquê: porque sim!

4 comentários:

Anônimo disse...

Que coisa querida.
Gostei.
Cores pra ti, querido!

Miguel disse...

o que houve com o teu blog?

Angela disse...

Oi Miguel. Que saudades dos seus textos. Tô de volta na área. Estava sem tempo até p/ atualizar meu blog. Dê uma passadinha lá.
Saudades
Bjs
Angel

Miguel disse...

Obrigado pela dica lindinha