quarta-feira, setembro 14, 2005

Dobrando o cabo da Boa Esperança

Hoje eu me dei conta que estou quase nos "inta". É sério, mais dois anos e a coisa vira de casa. Fazendo um balanço de tudo acho que "até aqui tudo bem". Tenho minha liberdade conquistada, sou um cidadão de bem, nunca roubei, matei ou coisa parecida. Tenho grandes amigos e grandes inimigos, tenho grandes amores e inúmeras desilusões. Tenho uma carreira profissional consolidada, tenho propostas de trabalho em outras áreas. Tenho ousado bastante no que diz respeito aos meus objetivos pessoais. Não tenho filhos. Ainda. Meu corpo ainda funciona bem. Joelhos, coluna, ombros. O cérebro e o pênis se alternam nas decisões pessoais. Ambos funcionam bem. Com alguns percalços. Do cérebro, é claro. Entretanto, posso notar que os anos vão se indo. Foram duas chuvinhas e cama com febre. Calafrios e tudo. Me lembro da época em que tomar banho de chuva era um prazer e nunca uma preocupação. São os radicais livres. O organismo vai se debilitando. Eu noto, ele nota e nós chegamos a um acordo tácito. Banho de chuva não mais. Futuramente ele me dirá que muita cerveja gelada não vai dar. Depois que um vento encanado vai botar o velhinho de cama. E quando a situação estiver quase insustentável eu ouvirei gente dizendo: "Bota o casaco vovô, vai gripar. O senhor sabe que não pode sair assim". Espero que estas vozes realmente me amem e que se lembrem que por detrás desta carcomida carcaça que sucumbe à intempérie tem um indivíduo que viu muitos nascer e pôr-do-sol, pensando em como poderia ser um ser humano melhor. E que a vida ensina que quanto mais o tempo passa mais os olhos enchem-se d'água. Pelas coisas boas e pelas ruins. Ao invés de anos, poderíamos medir a vivência das pessoas em litros de lágrimas. Espero chegar a ouvir as vozes da caduquice com vários galões de lágrimas derramadas. E "quando enfim a vida me quiser levar, pelo tudo que me deu," que eu possa dizer vou-me sem medo do que fiz e sem receio do que não fiz. Vou-me apenas. De braços abertos para o infinito e olhos fechados para o mundo. E que digam: "O mundo sentirá falta dele."
Presunção? Não. Devaneio com pedido veemente à tudo o que é mais sagrado que isso possa se realizar ...

7 comentários:

Anônimo disse...

Éh!
Fazia tempo q tu não escrevias algo mais pessoal....a d o r e i !

Anônimo disse...

ah nenem, vai por a meia!!!! toma chá de limão com alho, chama uma amiga pra te dar um colo...mas aí é melhor dispensar o alho...rs, te cuida amore, saúde!! bjkk

Virgínia Rhodenbusch disse...

também gostei do texto.
AHÁN!

Miguel disse...

Valeu Deinha!!! Que bom que gostou do texto Vi tua crítica me interessa. E à anônima e amável comentarista vai meu muito obrigado. Textos intimistas requerem um esforço de jogar-se dentro de você mesmo e depois voltar. Isso precisa de tempo para ser feito e, quase sempre, dói ...

Ubik disse...

É... o texto é ótimo sem dúvidas, mas essa coisa do "cabo da boa esperança" é muito relativa.
Não sei se você sabe, mas esse tal cabo foi originalmente baptizado de "cabo das tormentas" pelo navegador portuga, Vasco da Gama que foi justamente o 1º navegador a dobra-lo.
Serve tudo isto só para lhe dizer que esse tal cabo que vc se prepara para dobrar tanto pode ser da boa esperança como das tormentas dependendo da forma como é abordado.
Dito isto resta-me apenas dar-lhe os parabéns, já que, uma vez que optou por chamar-lhe "da boa esperança" só posso concluir que a sua abordagem será positiva e realmente de boa esperança.

Um abraço

Miguel disse...

Valeu Ubik mas o primeiro navegador portuga a passar pelo cabo das tormentas foi Bartolomeu Dias em 1455, e foi ele mesmo quem rebatizou. Agora vocÊ tem toda a razão a idéia de chamar de "boa esperança" é a aproximação como falasse e até porquê não tem volta ...

Anônimo disse...

Muito bom...a cada aniver me pego fazendo um balanço, já entrei no inta e hj digo " se tivessem me dito que era uma fase tão boa, teria torçido pra chegar antes" faço minhas as palavras de Lia Luft em Perdas e Ganhos, "ao final vejo qd o vejo que o prato dos ganhos é maior que o das perdas, constato que tudo valeu a pena"