terça-feira, janeiro 31, 2006

Porteira da Amizade

Não existe inferno na Terra, sempre se pode ver o lado bom das coisas. Bom, ao menos eu encontrei um lugar que, se não é o inferno, pode-se marcar encontro direto com o capeta. A coisa foi tão feia que eu precisei de um distanciamento científico para contar o acontecido. Pois bem, acho que agora que parei de ter pesadelo estou apto a escrever.
Estávamos em quatro, eu, o advogado (ele comenta aqui de vez em quando), o samurai louco e o alemão rapa-trilho. Um quarteto de lascar. O que a gente não agarrar é porque tá morto. Eu tenho um gosto refinado, refinado por decotes ... desgraça. Eu até esqueço de gente gaga, burra, descompassada, guenza é só colocar o maldito do decote. O advogado pega as sub 15. Ele vai negar, vai dizer que só acima, mas eu sei da história dele ... O alemão pega qualquer coisa, está na idade do urubu (come qualquer carniça) e o samurai louco gosta das gordas. Não estou brincando, quando ele está junto pode ir sem medo, a mais rechonchuda é dele. Beira a loucura, outro dia quase foi fagocitado. Cena inesquecível. Como falei, se a gente não agarrar é porque está morto.
Faz mais ou menos um mês e estávamos combinando de sair, comemorar o nosso final de ano. Tinha que ser uma noite muito boa, inesquecível para mandar longe 2005. Bom, pensamos em várias danceterias finas em Porto Alegre (como não ganho jabá, não vou colocar os nomes aqui). Em uma delas tinha mais garçons do que gente. E só cueca. Fomos para outra, trinta conto a entrada. Putz, dolorido. Trintinha e sem garantia de nada, porque não nos deixaram olhar dentro. Olhamos proletariamente os bolsos e concluímos que o investimento era alto para a taxa de retorno. Quando estávamos quase desistindo alguém (e se eu descobrir quem eu mato) disse: "Vamos para o Porteira da Amizade, ali no centro!".
Foi uma afirmação e não uma pergunta. Eu, reticente com esses nomes gaudérios, fui voto vencido. Três a um. Toca pro lugar, numa ruazinha escondidinha no centro. Uma porta com um cara grande na frente e uma mulher maior que o cara. Ruinzinho na entrada, mas piorou muito depois.
Quando eu entrei começou o martírio. Tocava rancheira, sertanejo mela-cueca e todo mundo cantava junto. Acho que para dar força para o som, que não era dos melhores. Tinha uma esganiçada que parecia uma marreca apertada pelo pescoço. E se divertia, ainda, a peça ... se eu tivesse uma arma faria um bem para a humanidade.
De início, avaliei o "potencial mulherístico" do lugar: se melhorasse muito ficava terrível. Tentei sair mas fui contido pelo samurai louco que dizia: "a cerveja é barata, bebe que elas melhoram".
Mentiroso, salafrário. Melhoram nada, ou então eu teria que beber a produção mensal da Brahma para elas melhorarem. Caramba tinha de tudo. Sem dente (tinha uma mulher que fumava com o cigarro colocado no buraco do dente da frente, que ela obviamente não tinha), caolha, obesidade mórbida, múmias fantasiadas de paquitas ... era um teatro dos horrores. Sabe aquele bar no Star Wars? Pois é, eu fiquei esperando o Jabba aparecer. E os caras se divertindo. Tinham umas duzentas pessoas num lugar onde cabiam quarenta. Quando entramos nós éramos o Brad Pitt, Tom Cruise, George Clooney e Antonio Banderas do lugar. Todos os aliens de sexo feminino pensaram coisas indizíveis conosco.
Fui bebendo. Bebendo. Bebendo ... Elas não ficavam mais bonitas elas duplicavam. Onde tinha uma eu via outra igual e do lado. Acho que foi por isso que gastei três consultas no psicólogo, tomei medicação tarja preta e o escambal. De repente, começou a tocar um tecno e fomos dançar. Apareceram as mais normais da festa; uma prima-irmã da Hebe que foi agarrada pelo samurai louco, uma hobbit brejeira que se fazia de santa que o alemão pegou, e uma outra mulher que eu não sei direito qual era a inclinação sexual. Acho até que não tinha ou a perereca era virada, pelo jeito que ela colocou a calça ... muito estranho.
Eu continuei bebendo ... e elas não ficavam bonitas. Umas quatro horas depois, eu fiquei com medo do próprio demônio aparecer e recolher aquelas almas nos levando para o inferno junto. Fomos embora. Sabe da pior? Eu salvei a vida daqueles ingratos e eles disseram que eu não agarrei ninguém. Sinceramente, a coisa mais feminina que tinha lá, a mais palatável que eu achei foi um poster da Antártica grudado na parede. Fiquei discretamente do lado a noite toda, pedindo um milagre ... um milagre no meio do inferno. Como eu rezei aquela noite ...
E lado bom, definitivamente, era o lado de fora ...

domingo, janeiro 29, 2006

Absurdo!

Eu sou contra isso. Terminantemente contra. Mas isso superou meus limites. Assim vou repassar ...

"O Centro Sísmico Nacional à polícia da cidade de Icó, no nordeste, um telegrama que dizia:

Possível movimento sísmico na zona (ponto)
Muito perigoso, superior Richter 7 (ponto)
Epicentro a 3 km da cidade (ponto)
Tomem medidas (ponto)
Informem resultados com urgência (ponto)

Após uma semana foi recebido no Centro Sísmico Nacional um telegrama resposta:

Aqui é da polícia de Icó (ponto)
Movimento sísmico totalmente desarticulado (ponto)
O tal Richter tentou fugir, mas foi abatido a tiros (ponto)
Desativamos as zonas (ponto)
As putas estão todas presas (ponto)
Epicentro, Epifânio e três cupinchas detidos (ponto)
Não respondemos antes porque aqui houve um terremoto, caralho!!"

E tem gente que jura que é verdade ...

Um chicote ...

Esse blog está um lixo. Eu tenho lido ele ultimamente e tenho achado um horror. Claro, pode-se argumentar que é fase, mas auto-piedade e tristeza o tempo todo é ruim de agüentar. Nada de textos alegres a tempos e os tristes são superficiais como esperando algo que o mundo não pode dar. Lixo. Lixo. Lixo. Reflexo certamente do momento, contudo ninguém é obrigado a ler isso. Tenho uma predisposição à auto-crítica, o que é bom. Ao mesmo tempo tenho uma super disposição de me desculpar por tudo. Tenho inteligência para isso o que não torna a ação correta, apenas mais palatável. Procuro colocar o sujeito dos fracassos sempre fora de mim. Não gosto de errar, e só aceito quando, em última instância, não há mais o que se fazer. Isso é terrível, suporta melhor as vicissitudes da vida quem se resigna às coisas. Vitórias de Pirro não são, de forma nenhuma, algo para se orgulhar e batalhas sem possibilidade de vitória deterioram a vida e os relacionamentos. É necessário saber lutar mas também saber recolher-se. Eu busco, talvez, um tempo de felicidade que não pode ocorrer pela própria forma do buscar. O embate gera antagonismo, que também é forma de contato, mas não das mais frutíferas. A parte mais bonita da rosa não são seus acúleos.
Assim, a partir deste fatídico dia três coisas me serão leis:

- Consenso como forma e conceito de vida, entendendo que não preciso concordar com bobagens, mas posso simplesmente me afastar.
- Este blog não será mais usado para um sistema psicológico de pesos e contra-pesos. Aqui virão coisas diferentes, como o próprio lay-out deve mudar.
- Meus fardos são meus e de mais ninguém. Não dividirei e nem pedirei isso, ainda que de forma velada, a ninguém.

Não se pode querer que os outros sorriam se a eles te mostra triste. Não se pode querer que as pessoas entendam o que a ti é incompreensível. Sentimentos não são traduzidos, são sentidos e são pessoais.
Olha que dia lindo nasce na janela ... Olha e não apenas vê.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Um velho pedido ...

Preciso de um pouco de paz.
Sinto como alguém que percorre mundos atrás de imaginação. Sinto como se tivesse correndo desde que nasci.
Preciso de um pouco de paz.
Sinto como se tudo o que eu conseguisse ter como meu me fosse tirado. Sinto como se as coisas tornassem-se pó ante minhas mãos.
Preciso de um pouco de paz.
Preciso entender o porquê desses acontecimentos, mais parecem uma sina. Preciso entender se o caminho que até hoje trilhei, e que me parecia correto, realmente o é. Diante de tamanha oposição da vida e do tempo há que se repensar.
Preciso de um pouco de paz.
Preciso reavaliar o que tenho e o que perdi. Entender a matemática da vida e a poesia do coração. Preciso analisar minha mente, meu espírito, minha vida, enfim.
Preciso de um pouco de paz.

Esse pouco me seria tão bem vindo que aos meus olhos pareceria o paraíso. Paraíso que encontrei em diversas pessoas temporariamente, em poucos momentos efusivamente e nunca tive para mim.

terça-feira, janeiro 24, 2006

Borboleta Púrpura

Esse final de semana foi um grande divisor de águas. Eu pude ver ao mesmo tempo opiniões de pessoas que me conhecem a quase dez anos, outras que me conhecem a cinco, outras que me conhecem a um ou dois e, para terminar, pessoas que não me conheciam. Todas as opiniões juntas a meu respeito. Deveras interessante. Festas em praias proporcionam esse tipo de coisa. Tempo juntos. Acordar, dormir e até ver algumas coisas não muito educadas. Tudo certo, mas o veredito é que foi estranho.
Não sei se por concordância coletiva forçada, ou se por direcionemento psicológico, TODAS as pessoas que estavam dando pitacos na minha existência chegaram à mesma conclusão: sou uma mulher por dentro.
Caramba! Se Papai lesse isso ele não ia gostar. Isso mesmo, todas as pessoas em consenso chegaram à conclusão que eu sou uma mulher, psicologicamente falando.
Devo dizer que ainda não aceitei bem a idéia, mas é difícil contrapor-se quando tanta gente com tantas impressões diferentes chega ao mesmo ponto. Também não sei se é bom ou ruim.
Estavam presentes um casal de grandes amigos, um casal que não me conhecia direito, um digno representante dos homens das cavernas ("Mim pega mata e come!"), e um prático solitário de plantão.
Vejamos, disseram que por eu me preocupar com os sentimentos eu sou mulher por dentro. Certo vão argumentar que não foi bem isso, Voilá! Disseram que por eu correr atrás do que quero, em termos emocionais, tenho um comportamento feminino. Porque sofro? Não sei se entendi direito, mas a argumentação foi no sentido de em não sendo o famoso homem "não gostou vai te fuder" eu sou feminino. Vamos lá, quando dancei na festa, não tiveram dúvidas, ou melhor aí é que tiveram!
Parece que porque eu sofro, falo, procuro entender as pessoas, sou um tanto culto, danço em festas até cansar, sou fraco para bebidas, não peido, não arroto (ao menos não em público) e sou uma pessoa sensível eu sou gay. Não, gay é muito sou baitola mesmo. Devo dizer que minha experiência sexual não chegou onde a imaginação das pessoas que me fizeram o julgamento as levou.
Devo dizer também que não me sinto à vontade com esse consenso. É que já que não sou "gay" não participo das benesses de sê-lo, quais sejam: uma certa liberdade de parâmetros, companhias femininas à roldão, descontração em locais dançantes, muitas experiências sexuais diferentes. Ou seja, não sendo assim borboleta, não vôo. Ao mesmo tempo recebo algumas das penas por parecer borboleta, quais sejam: desconforto das pessoas "de família" quando em festas, uma certa distância das fêmeas (afinal elas sentem que há perigo), e uma certa agressividade e incompreensão, ainda que verbal, por parte dos machos próximos.
Enfim o pior de dois mundos.
Faço o quê?
Saída 1 - Começo a arrotar e peidar, coçar o saco na frente de todo mundo e agarrar pessoas pelo cachecol sem dó nem piedade?
Saída 2 - Pinto as unhas, faço luzes, começo a falar cantado e vou fazer um curso de maquilagem?

Quem me conhece, por favor, uma dica ...

domingo, janeiro 22, 2006

Eclipse

Se para um é prata, para outro é ouro. Se para um é a noite, para o outro o dia. Um é energia, o outro acalento. Um vibra, emana, exacerba. O outro recebe, reflete e acalma. Se para um a ação é o sentido maior, para outro a contemplação é a essência de tudo. Se um é símbolo guerreiro, outro é o intangível de amantes. Um se levanta para o outro deitar-se. Um surge para o outro esconder-se.

Amantes, companheiros, irmãos de ordem e movimento?
Adversários, litigantes, inimigos de alma e momento?

Por quê? Por que ver o mundo como um enfrentamento de vontades? Por que ver como uma sucessão de combates? Será que se é melhor por mostrar-se melhor? Será que mais importante se torna aquele que domina?

Por que escolher entre o Sol e a Lua, se a coisa mais linda que nos é ofertado por ambos é a miríade aquarelada que se derrama por sobre o horizonte?

Sol? Lua?
Dia? Noite?

Não ... os momentos mais mágicos de ambos são aqueles em que se aceitam e se completam. Aurora e entardecer.

Consenso ... palavra mágica, até então desconhecida do meu vocabulário.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

A lonely star

"And at night you will look up at the stars. Where I live everything is so small that I cannot show you where my star is to be found. It is better, like that. My star will just be one of the stars, for you. And so you will love to watch all the stars in the heavens... they will all be your friends..."

All the world must understand it and a very unique person should know that ...

Jedi

De certa forma não entendo o mundo. Aliás, de forma nenhuma. Tento, tento, tento e nada. Mulheres? Fazem parte do mundo, logo ...
Nesse meu esforço de entender tudo tenho amigos fantásticos que ajudam bastante. Uns entendem o seu mundo. Outros entendem UM mundo. Outros ainda juram que entendem, mas nada. Assim juntando caquinhos, pecinhas, coisas ditas ali e acolá, vamos fazendo uma colcha de retalhos doravante chamada de "meu mundo".
Compreender o "meu mundo" é tarefa hercúlea que só eu posso fazer. E notem a total ausência de auto-elogio aqui. Existe sim o reconhecimento de que mundos existem vários, quero entender apenas o meu. Já me daria por muito satisfeito.
Conversando com um de maus grandes amigos. Aliás tenho a sorte de ter apenas amigos inteligentes. Sorte? Não, sou muito seletivo, embora eles não ...
Se vocês não contarem a eles, eu também não conto ...
Voltando, estava eu na tarefa de entender e conversando com um amigo que é quase o mestre Yoda, eu estava explicando como vejo as coisas:

Mestre Dedé: Muito característico. Eu também faço isso direto. Argumentamos em defesa da nossa tese. O outro que nos refute. Mas humanos não fazem assim.

O Príncipe
: (???)

A Raposa:
(pirou de vez)

Mestre Dedé:
Eles gostam de ficarem se concordando e se admirando, o quanto são interessantes e inteligentes. E o quanto os outros, sempre os outros, são idiotas alienados, estúpidos, pouco espiritualizados ...

Mestre Dedé:
Somos a exceção.

A Raposa:
Quer casar comigo?

Mestre Dedé:
Sei que me relaciono precariamente com humanos por ter este traço. Tu compensa isso com baboseiras simpáticas.

A Raposa:
(Fomos ofendidos mas estamos no lucro ...)

A Raposa:
"ET, telefone, minha casa"

Mestre Dedé:
Num primeiro contato tu é agradável, simpático. Depois de algum tempo tu vai se tornando professoral, vingativom conspiratório. Desagradável. Despois, se chegamos a uma terceira etapa, te vejo de uma forma bem menos armada, mais contraditória, menos professoral, dialógica. Assim tem que se passar da fase dois para a fase três.

A Raposa:
Humm então quer dizer que o Príncipe anda me traindo com mais alguém. E que sexo comigo é sempre suruba ...

Tá aí ... "Se Jedi você quer ser, aprender você precisa". Vou ver se meu sabre de luz tem ainda pilha ...

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Utilidade Pública

O relacionamento sadio entre amigos é uma das premissas de uma vida boa. Eu diria que tenho amigos. Mas com relação a como nos falamos é outro papo. Tenho desde os acadêmicos "Como vai mestre?" até os pornográficos "E aí, pau-no-cu?". Creio que todos temos. Bom, como sou muito de boa paz eu e alguns amigos vivemos, digamos assim, sacaneando uns aos outros. E ficou meio moeda-corrente quando não se tem mais o que dizer, o ofendido simplesmente fala: "Já te mandaram à merda hoje?". É como a aceitação tácita da piada e o pedido de vamos mudar de assunto. Aí está a coisa toda, tenho um grande, não um enorme, amigo (não pensem bobagem sobre ele, pelo que sei é bem pequenino) que é o campeão de me falar a frase. Essa semana ele foi atrás de umas novidades. Foi tão surpreendente que resolvi postar aqui:

EM INGLÊS - "already they had ordered the excrement today to you?"
EM ALEMÃO - "bereits hatten sie die Ausscheidung heute zu Ihnen bestellt?
EM FRÂNCES - "déjà ils avaient commandé l'excrément aujourd'hui à vous?
EM ITALIANO - "già avevano ordinato oggi l'escremento a voi?"
EM RUSSO - "уже они приказали экскремент сегодня к вам?" (Entendeu??)
EM HOLANDÊS - "reeds hadden zij tot het uitwerpsel vandaag aan u opdracht gegeven?"

E por último mas não menos importante, êta conhecimento hein Cris? Ou não ter o que fazer ...

EM GREGO - "ήδη είχαν διατάξει το περίττωμα σήμερα σε σας?"


Neste momento tem uma pessoa apenas no mundo que quero mandar lá ...

terça-feira, janeiro 17, 2006

Coringa?

Minha posição é clara, mas preciso saber daqueles que lêem. Assim vou fazer a pergunta. Colocar algumas ilações e peço a manifestação de vocês.

"Pode-se ter amizade depois de se ter sexo?"

Pode-se retornar a um patamar de intimidade menor depois destes laços, literalmente, serem postos à baixo?

Com a palavra vocês ...

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Aurora

Quando ainda o amanhecer é um doce sonho o frio encombre as pétalas. O orvalho da manhã se parece mais como uma lágrima, deixada cair ternamente. Mesmo quando se sabe ser rotina aquilo tem ar de surpresa. Sobe a luz, mansinha. A de tocadas pétalas se abrem. Felicitam à sua maneira o carinho que se revela. Como se nunca tivessem sentido e como se jamais voltassem e tê-lo. Mistério do amanhecer? Mistério do existir. Essência do co-existir. Amada se sente a pétala, cuidada se sente a rosa. Tocada de alguma forma. Da melhor forma. Sabe-se protegida pelo ponto áureo no horizonte. Irradiações de felicidade e de força. O beijo que toca a pétala é retribuído apenas com um olhar. Para o sol, que a todos aquece, pode parecer pequena a retribuição. Mas em realidade não o é. Pior seria a indiferença, disso nem mesmo ele escaparia. Um olhar, o viço da pétala como a se mostrar de felicidade. Será como sempre foi para o sol, o tudo. Mesmo distante, mesmo disforme, ainda sol. Luz travestida de esperança. Queima para sempre? Não. Queima enquanto o carinho da rosa se transforma em grata felicidade com sua chegada. Seria uma forma de queimar o que mais lhe é importante, transformando carinho em amor e ardendo como paixão.
Quando o anoitecer é uma desvelada verdade, o púrpura cobre o céu como se a rosa procurasse se jogar no horizonte. Cobrir o cândido recanto daquele que a protegeu. Chora um choro de saudade. Pranto que a noite carrega e devolve à terra. Mesmo sabendo que o ciclo retorna, a ausência toca o fundo da flor. Fecha-se ao mundo, como se a mágoa fosse primeira, fosse única e não fosse mais passar. O frio e a distância do breu que cobre a terra ajudam a fortalecer a necessidade dos acúleos. A luz do luar é uma tênue esperança que tudo, enfim tudo, pode, ainda, voltar ao normal. A flor, magoada pela solidão e assolada pela saudade, ainda pensa em relutar. "Nunca mais sol! Verás que a noite me é tão triste que não posso perdoar-te".
Surge no horizonte, eis que entremeado a nuvens brancas, como quem estende a paz, e um apoteótico turquesa como um manto real, e torna a aquecer. Sem pedir nada em troca, sem querer nada de mais. Apenas aquele olhar de novo. Diário mas único. Pequeno mas infinito. E novamente a força comburente insurge-se sobre suas veias. "Doce rosa, perdoe-me pela distância. Não o faço por consciência. São forças que me levam e a minha força que me trás. Se o teu púpura recai sobre meu berço, então deixe que minha força toque teus sentimentos."
E a rosa, ainda com ares de indignação lentamente cede. Abre-se como pela primeira vez e a lágrima do orvalho se faz de perdão. Sobe aos céus acalentando o amargurado sol.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Tam-Tam

Estou em Aspen, esquiando. Essa neve toda me inspira. Deslizo montanha abaixo, umas vezes rápido outras suavemente. Descendo vou olhando a paisagem coberta de branco. A temperatúra é por volta dos 12 graus negativos. De volta ao hotel tem um fondue me esperando e filmes, muitos filmes para ver durante a noite. O hotel é de madeira, como um grande chalé. Quartos aconchegantes com edredon. Temperatura interna é 21 graus. Mesa de sinuca, a internet por onde escrevo isso aqui. Um grupo de finlandesas que, em não compreendendo nada do que falam, a linguagem corporal diz tudo. Vai ter sexo hoje de noite. No friozinho. Com três ou quatro delas. Regado a vinho branco. Chocolate derretido e morangos. Vejo o por do sol por entre as montanhas branquinhas. O momento está chegando. Me dirijo novamente ao hotel só que estou completamente nu!!!!
As pessoas correm, desesperadamente. Não me pergunte o porquê. Façam as suas próprias conclusões. Não tenho com o que me tapar. Nu com a mão do bolso.
Quem nunca sonhou estar nu?
E com a temperatura de Porto Alegre delirar acordado é o que mais acontece. Mas uma parte podia ser verdade ... Três ... finlandesas ... sem dor de cabeça.
Que mundo cruel!

terça-feira, janeiro 10, 2006

Nhaca

Li, em algum lugar, que a composição química do suor é igual a da urina. Mudam apenas os percentuais de formação de algumas coisas. Passei o dia de hoje "mijado" dos pés à cabeça. Porto Alegre está um inferno. Fogaça seria o demônio?

sábado, janeiro 07, 2006

Sob o sol

Um grão de areia ...
Mais velho.

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Ampulheta

Um dia conheci um menino que não soltava pipa porque não sabia, mas imaginava o seu lindo papagaio quando olhava para o céu. Que queria uma bicicleta mas não podia ter, mas tinha amigos que emprestavam a sua numa companhia cheia de cumplicidade e confiança. Que gostava de jogar bola, mas não sabia. Ainda sim era convidado porque, de alguma forma, ele era importante. Que estudava por gosto e aprendia por prazer. Que imagina por qualquer motivo e criava como mágica. Que era sempre o mais novo e imaturo, mas também era o mais educado e carinhoso. Quando lavava a louça contava as ervilhinhas que tinham sobrado da janta para que elas fossem aos pares para o ralo, que não ficassem sozinhas. Pensava se elas teriam com quem conversar, inclusive "salvando" as ímpares do cruel destino da solidão. Um menino que lia desde Monteiro Lobato até Érico Veríssimo. Um menino que queria ser na imaginação mais do que podia ser na realidade. Um menino que velava o sono de amigas doentes simplesmente por carinho e preocupação. Um menino que confiava que os pais existiam para que ele se sentisse protegido. E, Deus, como ele sentiu ...
Um menino que tinha asma, mas que adorava correr. Um menino que tinha enxaquecas homéricas e que somente dormia com o cafuné dos pais. Remédio melhor que qualquer analgésico. Um menino que era companheiro dos seus irmãos até nas brigas. Que não admitiam fizessem mal aos seus, fossem quem fossem. Amigos eram status intocáveis e "imexíveis". Um menino que nunca fora à praia e para quem uma piscina significava a certeza de horas de felicidade. Um menino que não existe mais ...

Existe um homem novo que já carrega talhos deixados pela vida.
Hoje não liga para ervilhas, desacreditou que alguém possa realmente mudar isso.
Hoje entende amizade como totalmente transitória.
Hoje é companheiro de si mesmo, na dor e na felicidade, na solidão, no desespero e na esperança.
Hoje não é importante no jogo de bola de ninguém. Virou, no máximo torcida.
Hoje estuda por gosto e ensina por mais gosto ainda.
Hoje é o mais velho e envelhecido. Amargo e desconfiado.
Hoje ainda se imagina soltando pipa ... num céu azul ... com seu filho. Filho que sonha ter.

Eu, o homem, queria mais que tudo hoje, dar um feliz aniversário ao menino. Àquele que sonhava dizer:
"Quem inventou a regra de que homem não chora ou não foi homem ou nunca sonhou. Meus parabéns guri!"
Dar-lhe-ia um abraço e um conselho: "A felicidade é a areia de uma ampulheta. A recebemos toda na infância e, por mais que tentemos, não a conseguimos reter."
Certamente ele entenderia, embora eu não ... Por quê?

quarta-feira, janeiro 04, 2006

E agora José?

10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1 virou?

Acabou a cerveja. Terminou a champanha. Ceia e docinhos se foram. Fogos se apagaram e a embriaguez cessou.
Mesma cadeira, mesma janela, mesmas pessoas, problemas ...

Quero o sonho de volta.

Vamos tentar?

10, ....

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Vestibular

Questão 1

O que se deve dizer quando alguém descobre na sua geladeira algemas e uma lata de chantilly spray?

A) Esse mundo anda muito violento, faço isso para evitar essa onda de roubos de chantilly que anda por aí.
B) A fantasia de policial tá no quarto, quer ver?
C) Chantilly é um excelente anti-ferrugem e agora eu estou trabalhando para a polícia, não te contei?
D) Minha avó foi pega ontem à noite com quatro negrões e isso aí, tu sabe para que serve?
E) Estou de dieta isso aí é uma mensagem subliminar. Tu já viu aquelas dos filmes do Walt Disney?