sexta-feira, janeiro 13, 2006

Aurora

Quando ainda o amanhecer é um doce sonho o frio encombre as pétalas. O orvalho da manhã se parece mais como uma lágrima, deixada cair ternamente. Mesmo quando se sabe ser rotina aquilo tem ar de surpresa. Sobe a luz, mansinha. A de tocadas pétalas se abrem. Felicitam à sua maneira o carinho que se revela. Como se nunca tivessem sentido e como se jamais voltassem e tê-lo. Mistério do amanhecer? Mistério do existir. Essência do co-existir. Amada se sente a pétala, cuidada se sente a rosa. Tocada de alguma forma. Da melhor forma. Sabe-se protegida pelo ponto áureo no horizonte. Irradiações de felicidade e de força. O beijo que toca a pétala é retribuído apenas com um olhar. Para o sol, que a todos aquece, pode parecer pequena a retribuição. Mas em realidade não o é. Pior seria a indiferença, disso nem mesmo ele escaparia. Um olhar, o viço da pétala como a se mostrar de felicidade. Será como sempre foi para o sol, o tudo. Mesmo distante, mesmo disforme, ainda sol. Luz travestida de esperança. Queima para sempre? Não. Queima enquanto o carinho da rosa se transforma em grata felicidade com sua chegada. Seria uma forma de queimar o que mais lhe é importante, transformando carinho em amor e ardendo como paixão.
Quando o anoitecer é uma desvelada verdade, o púrpura cobre o céu como se a rosa procurasse se jogar no horizonte. Cobrir o cândido recanto daquele que a protegeu. Chora um choro de saudade. Pranto que a noite carrega e devolve à terra. Mesmo sabendo que o ciclo retorna, a ausência toca o fundo da flor. Fecha-se ao mundo, como se a mágoa fosse primeira, fosse única e não fosse mais passar. O frio e a distância do breu que cobre a terra ajudam a fortalecer a necessidade dos acúleos. A luz do luar é uma tênue esperança que tudo, enfim tudo, pode, ainda, voltar ao normal. A flor, magoada pela solidão e assolada pela saudade, ainda pensa em relutar. "Nunca mais sol! Verás que a noite me é tão triste que não posso perdoar-te".
Surge no horizonte, eis que entremeado a nuvens brancas, como quem estende a paz, e um apoteótico turquesa como um manto real, e torna a aquecer. Sem pedir nada em troca, sem querer nada de mais. Apenas aquele olhar de novo. Diário mas único. Pequeno mas infinito. E novamente a força comburente insurge-se sobre suas veias. "Doce rosa, perdoe-me pela distância. Não o faço por consciência. São forças que me levam e a minha força que me trás. Se o teu púpura recai sobre meu berço, então deixe que minha força toque teus sentimentos."
E a rosa, ainda com ares de indignação lentamente cede. Abre-se como pela primeira vez e a lágrima do orvalho se faz de perdão. Sobe aos céus acalentando o amargurado sol.

2 comentários:

Anônimo disse...

Dear friend.. how long will you stay so closed??.. lindo texto.. bjos...

Miguel disse...

Dear angel why do you hesitate so much?
Obrigado