quinta-feira, agosto 31, 2006

O velho Marx

Era o início dos anos 90 e meu pai tinha passado pelo vestibular ingressando no curso de economia. Tardiamente era verdade, já tinha seus 35 anos, mas muito suado. A faculdade de economia, de início, fez parte da minha vida também. Não porque eu tivesse na época interesse especial pela matéria, mas por eu partilhar um pouco da animação de meu pai. Era contato com um monte de autores renomados, nomes importantes que tinham pensado coisas importantes. Era livro que não acabava mais.
Eu, ainda no segundo grau, por muitas vezes achava aquilo tudo muito entediante. Smith? Hegel? Ricardo? Não, obrigado, já almocei. Os meses se passavam e meu pai insistia, cada dia com um escritor nome, a "bola da vez". Discussões monológicas sobre seus aprendizados, algo em mim sempre ficava. Se era o interesse dele eu não sei, mas com certeza não era do meu. Ficava ali escutando mas não ouvindo. Lembrava apenas de ficar atento às pausas de "Entendeu, filho?" às quais eu respondia "Claro, mas isso não se contrapõe ao outro autor?". Isso era a certeza para ela de que eu prestara à atenção nos dois autores e a garantia de um sorriso aberto e mais duas ou três horas de discussão.
Muitas vezes fazemos isso. Fingimos que a vida não nos machuca. Fingimos que as palavras não nos tocam ou com o desentendimento cínico e pueril ("Ãhh?) ou com uma contraposição fundada na forma e não no conteúdo ("Não vou nem discutir isso."). Assim, o barco vai correndo, a vida vai passando e os estilhaços machucam menos, além de não fazer a felicidade de quem se propõe a ferir. Muitas vezes lutar para desarmar uma bomba é, além de cansativo, muito arriscado. Se não há perigo, afastamo-nos e deixemos detonar. Meu pai falava do que lia e do que aprendia no maior interesse do mundo: passar ao filho. Outras pessoas podem se sentir ameaçadas e assim buscar briga. Lembre de deixar detonar.
Quando eu entrei na faculdade, por ironia do destino todos esses autores voltaram. Me formei em história e todos eles fizeram parte da minha vida. Os ecos do meu pai ainda estavam vivos e, de alguma forma, o destino jogou ao nosso favor. Meu e dele.
De todos os autores que li o velho Karl Marx ainda me traz recordações. Mais-valia, luta de classes, expropriações são ferramentas de aula. Quem sabe por um futuro melhor. Quem sabe ...
Dizia ele, com sapiência incrível, que preço não é igual a valor. E existe o valor de troca e o valor de uso.
Estive pensando nisso. Ciúme, alto valor de uso e baixíssimo valor de troca.
E o barco vai passando ...

quarta-feira, agosto 30, 2006

Cha-la-la

Tenho tentado voltar à antiga forma. Certo que escrever também é questão de prática e tenho percebido que perdi um pouco (senão muito) da minha. Mas também é um exercício de disciplina e esforço. Outra vez li num livro ou revista que os gênios são aqueles que complementam o que recebem com o que fazem. Assim vou começar a usar a grande regra do mundo: repetir.
Perceberam como o mundo todo funciona desta maneira?

Marketing é a repetição exaustiva de afirmações que acabam se tornando verdade.
Jornalismo é a repetição contextualizada de opiniões que acabam se repetindo nos discursos afora.
Comércio é a repetição negociada de ofertas e produtos interessantes ou não que fazem repetir estruturas sociais excludentes.
Amor é a repetição verdadeira de carinhos e pensamentos que acabam por sensibilizar o ser amado.
Trabalho é a repetição de rotinas físicas ou intelectuais de modo a automatizá-las até a inconsciência
Política é a repetição cínica de ideais deslavadamente intangíveis ou inverídicos para manutenção de posições de poder.
Religião é a repetição dogmática de pensamentos insondáveis para diminuição da culpa ou expiação da dor.
Amizade é a repetição de atos e ações para criar vínculos com quem se quer criar respeito e confiança.
Saudade é a repetição dolorosa das sensações experimentadas outrora sabidamente não retornáveis.

Algumas eu repito outras eu refuto mas no fundo reputo à repetição a principal regra do mundo.
Vou escrevendo ... repetindo como um eco solitário num canion escaldante. Mais velocidade e menos distinção.

segunda-feira, agosto 28, 2006

Justus e ridículus

Nosso mundo anda realmente de pernas para o ar. Como se não bastasse a infindável lista de desumanidades, atrocidades, desrespeitos para com semelhantes, obscenidades financeiras, corrupção em todos os níveis agora também temos a venda descarada de arrogância na televisão.
Isso é deveras estranho, pois no Brasil todas as pessoas públicas procuram se cercar de uma aura de humildade, simpatia e simplicidade. Mesmo pessoas reconhecidamente intragáveis ao menor sinal de uma câmera começam a usar o pronome "nós" ao invés do eu e a desculpar a tudo e a todos em nome de sua grandiosidade. Em qualquer canal e em qualquer tempo isso parecia uma verdade imutável.
A Record mudou isso. Colocou no ar um programa cópia de programa gringo com requintes de pedantismo, botox e laquê. Atração de impressionante falta de tato e respeito que chega a superar o Programa do Jô em suas mais asquerosas entrevistas. Aliás, Jô Soares e Roberto Justus não caberiam no mesmo prédio. Seus egos intergalácticos não suportariam essa proximidade.
Publicitário de 51 anos Roberto Justus fez carreira como atendimento de agências. Uma função não muito bem reconhecida entre os publicitários e procurada por quem tem mais tato do que criatividade. Sempre teve respaldo financeiro para suas buscas, não consolidando assim um "empreendedor" no sentido mais estrito da palavra. Ganhou uma série de prêmios muito mais políticos do que merecidos e construiu, como é a tônica nesse país, uma carreira com muito mais maquiagem do que suor.
Ao comandar o rídiculo programa não escolhe, se puderem vocês perceber, pessoas que de alguma forma tenham sua personalidade profissional formada. São sempre estudantes cujas fraquezas são facilmente percebidas e tenazmente estudadas. Atrevo-me a dizer que de início já se sabe quem será o "vencedor". Justus e sua equipe de vilania fazem propostas de jobs totalmente sem nexo e tiram daí conclusões mais estereotipadas ainda. Baseadas na "experiência" de um profissional que justifica, com sua carreira profissional, muito mais o botox do que o pedantismo que apresenta.
Recentemente, ao encontrar um rapaz que, pode ter os defeitos que tiver, teve ao menos, peito para, em um programa ao vivo, demitir o Luis XVI da televisão da Record transformou o corajoso ato em pirraça e covardia juvenil. Utilizando-se de seus "conselheiros" (bem ao tom das antigas cortes de nobres) e de sua ultra exposição na mídia, decretou a falência profissional de um rapaz por "quebra de contrato na vida". Alguém deveria explicar ao senhor Justus que a vida não é um contrato e que ele, Justus, não tem ingerência na vida de mais ninguém com exceção da sua.
Quanto mais a nossa sociedade produz ignonímias tais quais essa, que buscam "ensinar" o que nunca aprenderam e que medem a competência pela conta bancária, mais veremos frutificar a desigualdade que certamente é o mal do século XXI. Desigualdade que começa nas pequenas coisas e que acaba por falsamente transformar Justus numa espécie de Senhor Destino, conhecedor profundo de "não se sabe bem o quê" que podemos avaliar "não se sabe bem pelo quê" mas que o permite cometer atrocidades recheadas de ignorância e soberba.
Longe de fazer apologia ao rapaz, quero deixar aqui meu "urra" a uma atitude honesta a digna, competente e corajosa. O Aprendiz foi tão humilde que chegou a desnudar a carapuça do "mestre".
Que saudades do senhor Miaguy ...

quarta-feira, agosto 23, 2006

Flatos e Fatos

Era para mim o último bastião da boa educação. Era como o reduto da civilização, intocável, inabalável, pétreo. Entretanto, percebi como estou antiquado.
Quando criança recebia inúmeros ensinamentos de etiqueta, bons modos. O que era "bonito" e o que não era. Tatu do nariz feio. Baba escorrendo ou fazendo "bolhinha" feio também. Mostrar sorridente o cocô para a mãe, não tem preço! Tudo isso para me transformar no ser humano reconhecido hoje como educado, aliás muito educado. Como cruzar as pernas, "obrigado", "de nada", "com licensa", "bom dia" etc. Deixe os mais velhos sentar, não interrompa quando os outros estão falando (viu mana!), não fale palavrão, como da boca fechada, não repita o que houve. E assim fui crescendo. O desrespeito a uma destas normas era seguro uma carraspana, mas nada de abominável. Tudo dependeria da situação. Em casa, alerta verde. No colégio, alerta amarelo. Em residências desconhecidas, alerta laranja. Em público, vermelhaço! Era necessário que as mães e os pais secretamente competissem sobre os dotes de ensino de cada família. Quanto mais educado os filhos, melhor. Secretamente eles fazem torneios onde levam os filhos para testarem-se mutuamente. A isso eles chamam de "aniversário de crinça" e lá tem a terrível prova do "cachorro quente empapado de molho" e a não menos terrível do "último negrinho". Essas duas, para as crianças, são um divisor de águas.
Lembro-me de um elucidativo diálogo:

A Mãe - Não pode ser amigo dele e pronto!
O Principezinho - Por quê?
A Mãe - Porque ele diz palavrão!
O Principezinho - Mas tu e o pai também dizem e eu sou amigo de vocês ...
A Mãe - Porque ele come de boca aberta!
O principezinho - Mas eu não vou ser amigo dele quando ele estiver comendo. É só quando ele estiver brincando.
A Mãe - Não pode ser amigo, já falei!!
O principezinho - Por queeeeeeÊ??!
A Mãe - Porque ele solta "pum", pronto. Ele solta "pum" na frente de todo mundo.

Acabou. Soltar "pum" na frente dos outros era demais. Ele era um pouco mais que um bixo, parafraseando um grande amigo. Era o limite. Estava feita a negativa da amizade e sustentada com sólido argumento. Ou melhor, gasoso argumento.
Depois o "pum" virou traque. Que virou "cheiroso". Que virou peido e que, mais recentemente, virou flato. Sem, contudo, mudar de essência. Fétida e discriminante em termos sociais. No colégio, segundo grau:

O Colega - Nossa!!! Professor peidaram aqui!! Não dá para aguentar ... vou sair da sala!
O Professor - Não vai não! Quem peidou?
O Colega - Foi ele!
O Príncipe - Não foi eu não! Pára!
O Colega - Foi sim, tá horrível professor. Vou sair!
O Professor - Não vai sozinho. Vão os dois. Quem peidou e quem faz escândalo!!
O Príncipe - Não fui eu!! Tô falando!
O Professor - Não interessa. Fora da sala. Expliquem pra direção depois ...

Justo pelo motivo e injusto porque eu não havia peidado. Sedimentava-se o conceito de ostracismo social através do traque. Meu conceito fechava-se. Peido era motivo de banimento social, ou seja, nunca peide em público. Registrado.
Recentemente os fatos foram outros:

Wally - Foi tu que peidou?
LA - Fui.
Wally - A tá. É que eu ia sair ali para a área para fazer isso ... para não incomodar vocês.
LA - Não precisa não. Faz aí mesmo, não tem problema. É tudo amigo mesmo.
O Príncipe - (boquiaberto assistindo a cena)

Ou seja, o peido é sinônimo de amizade, de proximidade, de coleguismo, de aceitação!

Pior ... Na casa do meu sogro. Com cachorro, sogra, cunhados, periquitos, papagaios, a nona e tudo o mais que se tem direito, todos sentados na frente da TV, de repente:

A moça linda - ÔOO Pai!!!? (Depois de espremido estampido bundal)
O Sogro - O quê?? Foi o cachorro. (Com indisfarçável sarcasmo)
O cachorro - Au, au au. RRRRrrrrrr (Negando a pretensa obviedade da afirmação)

Todo mundo cai na risada, inclusive o sogro. Meu cunhado acompanha o pai na sinfonia número 0 em peido menor, soltando o seu também e me olham.
Indisfarçável a minha vergonha. Inafastável a pressão social pela aceitação. Os olhares ficaram grudados em mim até que com toda a força do meu abdôme consegui um, segundo analistas de plantão, "peidinho de véia".
Vencido, hoje peido tentando ser aceito socialmente ...

quarta-feira, agosto 16, 2006

Um velho Deitado

Se o blog vale, agora só falta plantar uma árvore ...

terça-feira, agosto 15, 2006

Reconectando

Caro Príncipe e Cara Raposa

Passei por um tempo na minha vida onde tudo era imaginação, pensei tivesse atingido o auge. Contudo, ao conhecer este endereço verifiquei que estava muito aquém do possível. Apesar de todo o meu sucesso, eu não conseguia transpor idéias com tanto carisma e sagacidade. O carisma é do príncipe ou da raposa? De qualquer forma me acostumei nos últimos meses de 2005 e nos primeiros de 2006 com essa espécie de terapia da forma e bolsa de imaginação. Confesso que não pude suportar quando, dia-a-dia, eu frequentava o blog e ele estava inerte. Sem mudanças como se congelado num mundo tão veloz como o mundo virtual. Pensei em largar tudo também, afinal se vocês podem eu estava certo de que devia. Liguei para os meus advogados, verifiquei as quebras de contrato, pensei em me refugiar em algum país de terceiro mundo fugindo do mundo que me exigia profissionalmente. Tudo era uma depressão só. Eis que, então, resolvi mandar-lhe este e-mail para pedir, ou melhor, para implorar que voltassem a escrever. Fosse a que tempo fosse. Fosse com que razão fosse. Escreva, por favor. Minha imaginação estava minguando, mas por favor, não publique esse e-mail. Talvez meus fãs não aceitem muito bem ...
Atenciosamente
Steven Spielberg

Caro e gostoso príncipe,

Não tens idéia do quanto me fizeste bem aparecendo e o quanto tua ida me deixou no vazio. Quase "like a virgen" na capa da "Vogue". Desasada. O mundo era só "Rain" e mesmo toda a minha religiosidade adquirida não eram suficiente para aplacar a síndrome da abstinência. Sim, seu blog era uma droga! Droga sem a qual eu não vivia. Prometo fazer um vídeo comigo. Um vídeo clipe com um monte de dançarinas lindíssimas, o que acha? Por favor volte a me fazer feliz com a ponta dos seus dedos ... Não posso ir além, minha religião não permite. Ao menos nesse horário ... Por favor não me "Evita" nunca mais.

Beijos
Madonna
PS.: Raposa?! "whos that girl?"


Ei você seja lá quem for

Já coloquei todos os meus serviços de inteligência para descobrir os nomes dos dois que escreviam regularmente nesse endereço. Dou-lhe um aviso: ou voltam a escrever ou vou bombardear a capital de vocês. Pelo jeito você é brasileiro então vou avisando, se em dois dias não voltarem a escrever eu vou bombardear Buenos Aires. Arrasarei tudo.
Faça isso em nome da liberdade e da democracia do povo americano.
God Bless America.
George W. Bush


Pôxa você ...
Retorna aí
é tudo tão lindo, tão brasileiro, tão baiano ...
é uma coisa de dentro, o negócio da raposa, precisa voltar ...
de onde veio essa idéia toda? é tudo tão lindo, tão brasileiro, tão ... acho que já falei isso.
De qualquer forma: "gosto de te ver correr leãozinho" ...
Corra pelo teclado ... discorra pela tela suas idéias ... Seja tropicaliente.
ou não ...

Caetano V.


Aí mané,

Nóis iscreve do retiro. Retiro de sangue bão, tá ligado?!
Aqui só tem irmão inocente e que ficava amarrado nas letra aí. Tá fazendo falta, já é ...
o siguinte mano, nós sequestrô a gata aquela. Branquinha tá aqui miando o bixo. Se tu não voltá a inscrevê nóis te manda ela por carta, falow? Um tiquinho de cada vez ... se tu (ou tus, não sabemo) não se manifesta nós faz o que fazeu aqui em sampa de novo. Vai te nêgo comendo chumbo ... te liga intão.
Fé in Deus
Chefia PCC


Caros amigos

Está todo mundo me culpando pelo fracasso da seleção erroneamente. Está aí a culpa. Durante a copa eu não consegui motivar a equipe porque não conseguia me sentir motivado. E sabe por que não conseguia me sentir motivado? Porque esse blog estava parado, como o Roberto Carlos. Arrumando a meia. É assim, lógico como o futebol. Então vamos parar de colocar em mim toda a culpa senão a cabeçada vai rolar ...
Sem discriminação para com os gordos e velhos
Carlos Alberto Parreira

Companheiro,

Não faça assim com o povo brasileiro. Um povo tão sufrido (sic, seja lá o que isso significa!) um povo que acorda com corrupção, dorme com corrupção, vai no banheiro com corrupção e acaba achando que tudo é corrupto. Eu sei que o príncipe não é. O príncipe é dos tempo de CUT no ABC. A gente tem que voltar a fazer esse Brasil pra frente. Não pode mais errar. Não se permito mais errar. Então volta a fazer essas idéias virarem piada ou lágrima. eheheheh Piada ou lágrima, parece até mot pro meu governo!
Vote Lula 2006, sem paz e sem amor ...
Luis Inácio Lula da Silva


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VTY
Gates, Bill