quinta-feira, outubro 27, 2005

Espectros

Qual o maior medo humano? Difícil questão ...
Um monte de respostas vêm à mente, se puderes chegar à essência deste monte de respostas verás que em todas elas, digo novamente o todas, a questão é ter medo de algo que não existe materialmente. Tudo o que não podemos tocar, ver, ouvir ou sentir nos causa pânico. Todos os nossos grandes medos acabam por cair neste terreno. Podemos lutar contra qualquer coisa que exista, que possa ser ferida, destruída etc. Mas nunca, nunca poderemos lutar contra dragões que não existam. São etéreos os que nos põe medo. Morte, fantasmas, medo de não ser feliz, de não ser amado, de perder algo e por aí à fora. Tudo se encalacra na questão do "não ser", do não existir e ainda assim ter poder para modificar as coisas na nossa vida. O próprio poder de assustar é assim. Se transportarmos isso para a vida cotidiana, eu reafirmo não podemos lutar contra o que não existe. Não podemos lutar contra uma falta. Contra um sentimento que é uma mera suposição. Não se luta contra o que não existe e sim contra o criador do espectro. No final é uma luta inglória pois não tem forma de vencer. E se o contendente for alguém que te é caro a tarefa passa de hercúlea para estóica. (Sim, vamos procurar no dicionário para ver o que é isso!!!). Não se luta contra sonhos ou medos e sim contra os seus efeitos. Mas, para isso é necessário que aceitemos que eles tem efeito sobre nós. Aí pesa um pouco a nossa humildade. Definitivamente não é minha característica. Estou acostumado a lutar. Luto todos os dias bons e maus combates. Mas tenho adversários palpáveis. Me dê algo pelo quê lutar e "verás que um filho teu não foge à luta". Coloque-me diante de espectros ou coisas etéreas e eu vou fugir. A força contida em meu sangue precisa de matéria e entende sentimento. Mas gela ao encontrar um limbo dissonante que, além de tudo, ainda está anos-luz distante de mim.
Sinto. Sofro. Pasmo. Sofro. Sinto e me afasto.
Se me quiseres, não deixa! Não permitas que o medo, advindo da ignorância ou da arrogância, possa me prostrar e me tornar um cavaleiro de gelo e vento. Me mostra contra o quê. Conduza a minha mão, meu cérebro e meu coração e verás que das lágrimas de meus olhos saem forças maiores que um sol ardendo. Nesse momento perceberás do quê realmente são feitos os homens.
Do medo e da vontade de enfrentar o medo ...

quarta-feira, outubro 26, 2005

Algodão-doce

Hoje eu quase fui papai. Quase tive uma felicidade absurda na minha vida. Quase recriei algo que perdi a algum tempo, uma família. Quase pude dizer que algo valeu nesse ano sem-fim e sem nada. Quase pude sentir o aconchego de um coração em minha alma. Quase pude abraçar algo e dizer que eu construí e que me daria muita felicidade. Quase consegui fechar um buraco no meu "querer" que havia muito estava aberto. Quase pude gritar a todos os ventos que uma parte da minha felicidade tinha voltado. Quase me senti meu pai, comigo por vir. Quase pude recomeçar o interminável e infindável ciclo da vida. Quase me senti inteiramente responsável por algo grandioso no universo. Quase pude ter a quem realmente precisasse de mim, com toda a essência da vida. Quase pude acompanhar o sonho virando realidade. Quase cuidei. Quase velei. Quase chorei. Quase prostrei. Quase embalei. Quase alimentei. Quase troquei. Quase ensinei.
Minha vida tem sido um eterno quase. Como uma corrida em que a linha de chegada sempre se afasta bruscamente quando eu a toco com o olhar. A mesma sensação eu sentia com algodão doce. Você vê grande e colorido. Sente o cheiro doce e apetitoso. Quando coloca na boca ele some. Sem deixar rastro ...
Será que um dia ele esteve ali? Será que tudo não é mera ilusão?
Só sei que as maçãs do amor, apesar de muitas vezes podres, eram reais. Podia-se até jogar no lixo.
A vida podia parar de brincar de gato-e-rato comigo. Seria pedir muito? Papai Noel?
Eu prometo me comportar.

terça-feira, outubro 25, 2005

Figuras

Tenho pensado muito naquilo que se pode ou não exigir das pessoas. Acho que depois de um certo tempo tomamos a palavra "amigo" como uma metonímia ou talvez uma catacrese. Eufemismo de "carência" e hipérbole de "cuidado". Sonhamos com uma ajuda quase transformando isso numa diácope humana. Paradoxo inevitável da condição individual da nossa sociedade e totalmente desamparada daquilo que chamam de psiquê . Uma sinestesia de percepções e uma paranomásia de condições? Uma elipse de nós mesmos ou uma perifrase de "ajuda"?

sábado, outubro 22, 2005

Gremlins

Pequenino, fofinho e com uma carinha de sapeca. Olhinhos levemente amendoados, uma inteligência vivaz. Carisma, meiguice, felicidade, alegria e uma capacidade de destruição semelhante ao Katrina ou ao Vilma.
Uma televisão quebrada, um computador desconfigurado, negrinho embaixo do meu travesseiro. Vidro de pimenta derrubado dentro da geladeira e até agora não achei os fósforos, estou com medo ...
Minhas cuecas e minhas meias foram parar em cabides. Minhas folhas em branco receberam afrescos do tipo Miró. Amarelos e vermelhos. Traços pós-modernos.
Estou sem tevê e com uma grande vontade de botar as minhas mãozinhas naquele pestinha. Filho da pessoa que deixa meu apartamento habitável de novo. Se o Saddam Hussein tivesse ele lá no Iraque não tinha se rendido para os americanos. Acho que numa outra encarnação ele deve ter sido um gladiador romano ou um aviador da Luftwaffe durante a segunda Guerra. Melhor, um Kamikaze.
Nesses momentos me pergunto se realmente quero ter filhos.
Ele se despediu de mim com um sorriso tão lindo que eu pensei que tinha sido uma manhã de felicidade. Na realidade foi, para o dono da eletrônica em que vou ter que consertar a tevê.

terça-feira, outubro 18, 2005

Fora de Contexto

Já se sentiram sem pertencer a lugar nenhum? Não sem rumo nem sem estrutura, mas como se lugar nenhum fosse o que chamamos de lar? Solidão da alma. Primeiro sintoma de que algo deve ser mudado. É como se a realidade não fosse tão real e os teus sentimentos pudessem de alguma forma pervertê-la. Mas nada para chamar de casa. A ninguém pode-se recorrer, é uma questão de enquadramento. Eu não me enquadro. Hoje, qualquer lugar do mundo poderia ser minha casa. Ao mesmo tempo que nenhum deles é.
"E.T. telefone, minha casa ..."
Ninguém para atender ...
Sem telefone para tocar ...

O único alô que ouço é o que vem de dentro de mim. Sou companheiro de mim mesmo. Como sempre, aliás ...

segunda-feira, outubro 17, 2005

Jardim de uivos

Tem pessoas que escolhemos para compartilhar coisas. Pessoas que nos são caras para compartilhar coisas que nos são caras. São flores e espinhos que por belas ou dolorosamente tristes vivem num jardim escondido em nossa alma. Cultivadas pelas lágrimas ou sorrisos de nossa fronte mas cuidadas pelos olhares e abraços daqueles que escolhemos como amigos. Um amigo é a pessoa a quem você confiaria suas flores e que não te recrimina por belas ou agressivas, por cuidadas ou não. Apenas tem a permissão de vê-las, tocá-las ...
Amigo, por mais que me sejam caras eu arranco as flores para que leves consigo. São nossas, são fruto daquilo que existe de mais sagrado dentro do espírito dos homens. Devoção. Palavra que é carregada de carinho, de cumplicidade e de respeito. Cercada de humildade, de gratidão e de orgulho pelo que se construiu.
Palavra que alguns guardam apenas ao seu Deus. Para mim as amizades são mais importantes, então não tenho problema em te ofertá-la. Sabes que aquele abraço foi o mais comovido e contido que ambos trocamos. Por que nossas condições psicológicas nos fazem turvar a espontaneidade de nossos corações? Eu queria dizer-te, sem dúvida, que tenho meus joelhos ao solo e os olhos aos céus quando lembro pelo que passamos. As lágrimas ... as lágrimas que nos correm dos olhos nesse momento são guardadas apenas aqueles que podem entrar em nosso jardim, podem tocar em nossos espinhos.
Sabes que onde teu uivo for ouvido minha força será sentida e que minha mão nunca deixará de lutar pelas tuas causas, que também são nossas.
Amizade é uma palavra que não tem fronteira, não tem tempo e não tem razão ...
Os caminhos da vida não são os mesmos do coração mas não te esqueças que "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".
Que os teus desejos sejam mais reais e completos que a tua falta, falta que sinto e que sentirei por um bom tempo ...
Nosso rei ainda não tombou, estamos numa partida adiada onde os lances ainda não cessaram e o plano não foi definido.

sábado, outubro 15, 2005

Espelho de Anjos

Por que insistimos em nos colocar "no lugar dos outros"? Isso é completa insanidade. Nunca conhecemos tanto do outro para que possamos fazer isso sem incorrer em absurdos erros de interpretação. Ver os problemas dos outros com nossos olhos não é "colocar-se no lugar dele". Eu me lembro que na educação católica que recebi isso era muito importante. Era vital perceber o que o outro sentia para poder compreender seus atos. Isso nunca aconteceu e nem vai acontecer. Tem toda uma teologia, ou melhor várias, que há dois mil anos vem tentando entender as razões de um único homem. O que conseguimos com isso? Nada. No afã de entendermos a ele, fizemos guerras, genocídios, destruição. Construímos monumentos, igrejas, santuários e, ainda sim, nada. Se os atos dele, que diga-se de passagem foram muito grandiosos e eloqüentes, não foram compreendidos como podemos ter a pretensão de entender os mais próximos?
Acho que colocar-se no lugar do outro é um ato de burrice e estupidez que nos leva a uma encruzilhada. Ou sentir os problemas do outro pelos nossos olhos. O que não leva a lugar nenhum. Ou sentir os nossos problemas na situação do outro que, também, não nos leva longe.
Pode ser bonito, mas não é factível. Assim cometemos erros e prejudicamos muitas pessoas nesse desejo. Em realidade, a quem mais prejudicamos é a nós mesmos. Sempre, ao tentar entender o outro, já nos colocamos numa posição de aceitação tácita de suas razões e sentimentos. Estamos predispostos a perdoar e entender. Alguns perguntarão: E isso não é bom? Eu digo que não. Como não comprendemos a exatidão do outros, seus motivos e coisas assim, estamos em realidade NOS PERDOANDO. Num evidente processo de auto-piedade. Isso nos conduz à deterioração dos valores, pois o que pode ser feito pelo outro, entendido e perdoado por mim, passa a ser questão simples de instância. E como nos machucamos entendendo o outro. Abrindo exceções. Reiterando perdões. Digo que o outro não se importa com isso. Se assim não o fosse, ele não faria da prmeira vez. Faz buscando o nosso perdão e, como geralmente consegue, torna a fazer. Cansei e espero que tenhamos todos cansado. Proponho uma espécie de "tolerância zero" aos moldes do AA: "Não vou perdoar ninguém só por hoje!".
Acho que isso nos faria muito melhor e deixaria o mundo mais palatável. As pessoas precisam saber que nós sentimos e nos importamos também CONOSCO!
A permissividade travestida de sentimentos como perdão ou acolhimento leva à destruição das almas boas nesse mundo por fadiga psicológica. "Até o perdão cansa de perdoar" dizia o poeta. Se todos nós fizéssemos um movimento "SEM PERDÃO", logo o mundo estaria dividido entre os que sentem e os que abusam. Quem sabe nesse momento podemos nos reunir apenas com os que sentem e queimar em grandes fogueiras os que abusam?

segunda-feira, outubro 10, 2005

Amos e Escravos

Por princípio eu acho que toda dicotomia é ineficaz como explicação racional de qualquer coisa. A vida é multifacetada e as pessoas também. A miríade de possibilidades que advém daí tornam as coisas muito complexas. Se você ainda puder percerber os pontos de vista de cada um e as diferenças de informação ou cultura então ...
Daí resta-nos a cerveja. Ela têm um poder de tornar as coisas mais claras. Tudo quase preto no branco. Isso acontece porque ela nos entorpece os pensamentos, tornando-os assim menos racionais. Tomar cerveja para tomar uma decisão importante é algo não aconselhável. O homem pode se tornar escravo da cerveja. Como, aliás, de muitas outras coisas.
Pensando nisso pude ver como existem coisas na vida onde somos ao mesmo tempo senhores e escravos. Pensamos que controlamos ou pensamos que somos controlados. Pensamos? Somos? Não?
Vamos começar pelos relacionamentos. Somos senhores ou escravos? E não falo apenas dos amorosos. Falo de todos. Até que ponto controlamos a situação, sendo assim, senhores? Quando nos tornamos escravos, sendo controlados ou levados pela maré? Como se dá essa transição?
Falando de vida profissional. Mesmo sendo um profissional de sucesso e ímpar na sua atividade, quando nos tornamos escravos? Se não do sistema de nossa própria personalidade, como querendo mais do que temos ou ser mais do que podemos? Neuroses da vida moderna ou apenas uma ambição desenfreada por fama e dinheiro? Causas internas do ser humano ou externas do modus vivendi capitalista?
E o destino? Palavra quase insondável e de difícil conceituação. Mas assim como "não há ninguém que explique" também "não há ninguém que não entenda". O destino é de alguma forma decidido externamente a nós? Temos influência? Anos de filosofia e teologia não conseguiram nos colocar um milímetro à frente nessa questão. Olhares e impressões que soam aos corações desesperados mais do que sinos de catedrais em missas dominicais. Têm eles o real poder do convencimento? Podem eles nos oferecer alguma sensata resposta?
Recaímos nos famosos livros de auto-ajuda. Literatura mesquinha de filosofia brega embalada com papel de presente sentimental revelador do inexpugnável mundo do real. Lá encontraremos coisas como: "As respostas estão dentro de você!" ou "Podemos apenas mudar a direção da vela e não do vento". No fundo essas premissas são denunciadoras da falta de capacidade de explicação do homem.
Quando os grilhões de tudo o que nos acorrenta neste mundo puderem ser transformados em rosas para serem entregues aos que verdadeiramente amamos então acho que a questão de sermos ou não escravos estará respondida. Seremos através de uma escolha consciente senhores ou escravos, como mais nos convier. Contudo, quando isso realmente acontecer, estaremos por fim livres ... E a única liberdade verdadeira que esta vida permite é, e sempre será, a morte. Então, nesse momento, do que adiantará o trabalho ou o conhecimento?
Quem souber essa resposta será amo, senhor da condição humana. Será também escravo do peso que ela traz e da responsabilidade de conhecê-la. Não há fuga. Em essência não há diferença substancial.

sexta-feira, outubro 07, 2005

Eu sou eu, e você?

Será que se o meu time fizer gol eu vou ter que pagar algum imposto?
Se sim, pago para quem? É imposto ou contribuição?
Será que vão abrir uma CPI para o problema dos árbitros no brasileirão?
Se sim, qual tem maior chance de acabar em pizza? A do congresso ou a do gramado?
Será que os EUA vão ser atacados por mais furacões?
Se sim, quais pobres de quais cidades serão dizimados?
Será que o Lula tenta a reeleição?
Se sim, com qual plataforma? A nova da Grandene ou a antiga que não funciona mais?
Será que vamos ver o milagre do crescimento?
Se sim, quem será o autor do feito? São Sebastião ou São Palocci?
Será que "Os dois filhos de Francisco" vai ser indicado para o Oscar?
Se sim, o que falta ainda para o dinheiro comprar? Nossa paciência, nosso silêncio ou nossa revolta?

Ando muito existencialista ...

"Eita"!

Comer farofa ...
Assoviando (ou seria assobiando?) ...
Tocando flauta ...
Num pé só ...
Jogando "Três Marias" ...
Lendo Sartre ...
Ouvindo Vinícius ...
Comendo quindim ...
Xingando o cachorro ...
Digitando post ...
Fugindo de dívida ...
Correndo atrás de algo e de alguém ...
Estudando muito ...
Assistindo jornais ...
Torcendo para o meu time ...

Acha que não dá para fazer tudo ao mesmo tempo?

Ah! Vem viver um pouquinho da minha vida vem ... e se vier, me avisa que eu quero tirar férias!
Eu topo qualquer outro trabalho. Por uma semana. Sol e água fresca ... só isso.

terça-feira, outubro 04, 2005

Sê-lo ou não sê-lo ...

A vida moderna têm muitas peculiaridades. Celular é item de primeira necessidade mas teatro é luxo. Academia e leitura são formas de diferenciação social. Academia "para mais" e leitura "para menos". Maconha é "cool" e Marx é antiquado. Avril Lavigne e Eminem são "in" Frank Sinatra e Aretta Franklin são "out". Elis só é Elis por causa da Maria Rita. Corrupção é normal mas meninos de rua é absurdo. Camisinha só no carnaval, ao menos para o governo. O jornal sempre fala a verdade e a propaganda sempre mente. Carinho é só para poucas pessoas, e-mail chato, para toda a lista. Modelo é artista, mas já não temos mais artistas que sejam modelo de algo. Talento se fabrica ainda que todos iguais. Não existem mais duplas sertanejas, agora são famílias inteiras. Grupos de pagode fazem cissiparidade e continuam a vender como se estivessem juntos. Furacões acontecem nos EUA ... e no RS, SC e PR. Ser prático é bom ser imaginativo é loucura. Quem trabalha morre de fome, quem rouba morre de rir. Cada vez sobra mais mês no fim do salário. A visão que se tem sobre um problema é mais importante que sua solução. Olhem as CPI's ...
Hoje eu abri minha caixa de correio e pensei que podemos medir o nível de felicidade das pessoas pela correspondência que recebem. Assim cartas grandes e brancas não são legais. Cartas pequeninas e meio acinzentadas são menos ainda. Cartas coloridas e abertas são chatas. Cartas gordas causam muita dor de cabeça. Cartas fininhas e grandes são para serem entregues a seus advogados. Cartas de amor não existem mais. Cartas com dinheiro nem se fala ... Notícias boas não vêm por carta. Então, na realidade uma caixa de correspondência de alguém feliz é uma caixa de correspondência vazia. Sem contas, sem propaganda, sem avisos de corte, avisos de inclusão em qualquer coisa, sem informes corporativos. Coloquei durepoxi na minha caixa de correio. Vou colocar proteção elétrica nela. Ao menos vou me sentir melhor, mais feliz. Não é isso que importa? Pensamento positivo? O que os olhos não veêm o coração não sente?
Vamos tentar, mas se não der ... "Ao vencedor as batatas!"

sábado, outubro 01, 2005

O dobro ou nada

O ano começa a descer a ladeira. Como os antigos carrinhos de rolimã. A gente passava boa parte da tarde construindo as geringonças. Lugar para sentar com conforto. Ao menos todo o que uma tábua de madeira podia permitir. O enquadramento perfeito do peso com as quatro rodinhas. Ao menos a perfeição que garotos e não engenheiros conseguiam. Cada rolamento era estudado, pequeno mas resistente. Rápido. Prata, os melhores tinham cor de prata e eram polidos até ficarem reluzentes. Tinha que ter um certo jogo de peso para que o simples movimentar do corpo pudesse manejar o "veículo" um pouco para um lado ou para outro. Isso era importante para escapar de buracos ou tentar pegar os gatos da vizinhança. Atropelar um gato com carrinho era um feito, os bichanos normalmente conseguiam se safar. Isso dava graça. A fuga desesperada do gato com cara de quem viu fantasma e a risada da galera. Bem, mas o ano embalou, lomba a baixo. "E agora José?" Seus rolimãs estão no lugar? O carrinho tem estabilidade? Você está confortável em cima dele?
Como nós na época dos carrinhos, o freio era o último a ser pensado. Ruim e nunca conseguia parar o bólido. O ano não tem mais freio. Agora é só saber se desce ou se estatela lá em baixo. Confie no trabalho para construir o carro e na sua habilidade de trocar o lado do peso para escapar dos "probleminhas". Agora sobra só isso.
Nos vemos lá em baixo, ok?
Aliás, cuidado com os gatos, eles dão azar.