segunda-feira, outubro 10, 2005

Amos e Escravos

Por princípio eu acho que toda dicotomia é ineficaz como explicação racional de qualquer coisa. A vida é multifacetada e as pessoas também. A miríade de possibilidades que advém daí tornam as coisas muito complexas. Se você ainda puder percerber os pontos de vista de cada um e as diferenças de informação ou cultura então ...
Daí resta-nos a cerveja. Ela têm um poder de tornar as coisas mais claras. Tudo quase preto no branco. Isso acontece porque ela nos entorpece os pensamentos, tornando-os assim menos racionais. Tomar cerveja para tomar uma decisão importante é algo não aconselhável. O homem pode se tornar escravo da cerveja. Como, aliás, de muitas outras coisas.
Pensando nisso pude ver como existem coisas na vida onde somos ao mesmo tempo senhores e escravos. Pensamos que controlamos ou pensamos que somos controlados. Pensamos? Somos? Não?
Vamos começar pelos relacionamentos. Somos senhores ou escravos? E não falo apenas dos amorosos. Falo de todos. Até que ponto controlamos a situação, sendo assim, senhores? Quando nos tornamos escravos, sendo controlados ou levados pela maré? Como se dá essa transição?
Falando de vida profissional. Mesmo sendo um profissional de sucesso e ímpar na sua atividade, quando nos tornamos escravos? Se não do sistema de nossa própria personalidade, como querendo mais do que temos ou ser mais do que podemos? Neuroses da vida moderna ou apenas uma ambição desenfreada por fama e dinheiro? Causas internas do ser humano ou externas do modus vivendi capitalista?
E o destino? Palavra quase insondável e de difícil conceituação. Mas assim como "não há ninguém que explique" também "não há ninguém que não entenda". O destino é de alguma forma decidido externamente a nós? Temos influência? Anos de filosofia e teologia não conseguiram nos colocar um milímetro à frente nessa questão. Olhares e impressões que soam aos corações desesperados mais do que sinos de catedrais em missas dominicais. Têm eles o real poder do convencimento? Podem eles nos oferecer alguma sensata resposta?
Recaímos nos famosos livros de auto-ajuda. Literatura mesquinha de filosofia brega embalada com papel de presente sentimental revelador do inexpugnável mundo do real. Lá encontraremos coisas como: "As respostas estão dentro de você!" ou "Podemos apenas mudar a direção da vela e não do vento". No fundo essas premissas são denunciadoras da falta de capacidade de explicação do homem.
Quando os grilhões de tudo o que nos acorrenta neste mundo puderem ser transformados em rosas para serem entregues aos que verdadeiramente amamos então acho que a questão de sermos ou não escravos estará respondida. Seremos através de uma escolha consciente senhores ou escravos, como mais nos convier. Contudo, quando isso realmente acontecer, estaremos por fim livres ... E a única liberdade verdadeira que esta vida permite é, e sempre será, a morte. Então, nesse momento, do que adiantará o trabalho ou o conhecimento?
Quem souber essa resposta será amo, senhor da condição humana. Será também escravo do peso que ela traz e da responsabilidade de conhecê-la. Não há fuga. Em essência não há diferença substancial.

4 comentários:

Anônimo disse...

Meu desejo é me tornar amo da cerveja e escravo da morte... ou será ao contrário? Vou procurar no livro de auto ajuda... eheheh

Miguel disse...

às vezes penso que seria melhor ser um escravo da cerveja do que da minha consciência ...

Anônimo disse...

Não seja escravo de nada, pelo menos lute pra não ser...

Anônimo disse...

Não seja escravo de nada, pelo menos lute pra não ser... 3o ser...