quarta-feira, agosto 31, 2005

Fura-bolo e Mata-piolho

Cana. Mé. Manguassa. "Mardita". Birita. Canha. Ceva. Imagina tudo junto ... olha o estrago.
Um amigo de quase dois metros, tomou todas e me veio com essa no final de uma festa. Ele tinha levado um tombo enorme na escada do lugar.

O tição - Ô meu, me ajuda ...
O príncipe - Claro, o que foi?
O tição - Me ajuda a achar uma coisa ...
O príncipe - Certo, mas o que é?
O tição - Não fica impressionado não.
O príncipe - Capaz, sou macho. Ma-cho! (a repetição com separação silábica sonoramente demonstrada é recurso de ênfase embora meio boiola ...)
O tição - Então me ajuda ...
O príncipe - O que você perdeu?
O tição - Meu dedo mindinho ...
O príncipe - (desmaiado de tão "macho")

O cara tinha caído e prendido o que um dia fora seu mindinho da mão numa parte da escada e quando tombou o corpanzil o dito cujo lhe foi arrancado! O pior é que ele me mostrava aquela mão presidencial como se não estivesse sentido nada ...

O tição - Cara eu acho que aquele cara pisou no meu dedinho perdido ...
A raposa - Caramba!!! Teu mindinho? Onde foi?
O tição - Não sei ... me ajuda a procurar. Se eu achar dá para reimplantar, lembra do cara do pinto cortado?
A raposa - Teu mindinho rapaz? Nossa ...
A raposa - O mindinho ...
A raposa - Meu Deus ... Tá doendo? (pergunta mais imbecil que esta não existe ... mas me dêem uma folga ele tava sem o mindinho!!)

Ficamos umas três horas procurando e ele via até de baixo de sapato de quem saia, pensando que o dedo poderia ter sido esmagado. Não achamos, afinal o dedo era preto e estava muito escuro. Fomos para o hospital. O mindinho não. Fiquei com ele, o amigo e não o mindinho, até o outro dia de manhã. Quando eram perto das oito, deu entrada uma mulher com pressão alta, gritando desesperada. Era a faxineira do lugar. Pelo jeito ela tinha encontrado ...

terça-feira, agosto 30, 2005

"Induvidualismo"

Chove aos cântaros em Porto Alegre ...

Menina meiga - Como é bom dormir com chuva não é?
A raposa - Não, é bom dormir com o barulho da chuva ...

Nesse país é sempre bom lembrar isso ...

O poder da vírgula ...

(tocando no fundo "Por você" do Frejat)

O príncipe - Essa é para você.
A rosa - O quê?
O príncipe - A música.
A rosa - "Por você"?
O príncipe - Não, é por você ...

Disse tudo ou não?

Mais água no Feijão

Eu vou morrer e não verei tudo. Eu sei, frase clichê de admiração com as possibilidades quase infinitas da vida. Mas realmente tem coisa que ainda me surpreende. Não falo de mística ou espíritos, até porquê não acredito nisto, mas falo das relações humanas. As pessoas são poços de aprendizado, basta que queiras te arriscar para poder aprender algo, ainda que com o risco de caires. Mesmo convivendo diariamente com pessoas que julgas totalmente conhecidas, não se engane, você poderá ter uma surpresa. Aliás, é quase certo que você terá uma surpresa. Até minha ex-namorada, por exemplo, começou a ter hábitos, digamos, não muito cristãos depois que nos separamos. Meus amigos então, olha essa:

O advogado - E aí meu? Tenho um convite para te fazer hoje.
O príncipe - Faça, então.
O advogado - Tenho uma mulher para orgia hoje.
A raposa - Como é a menina?
O advogado - Feia, é lógico. Bem feia, aliás! Ela está a fim de fazer algo diferente.
A raposa - Mas é gostosa?
O advogado - Não. É casada e o marido é alcólatra.
O príncipe - Tu estás louco? Vai acabar levando um tiro.
O advogado - Ela tem a fantasia de dar para um monte de cara. Estou a fim de elencar uns oito!
O príncipe - (boquiaberto)
O advogado - Sério meu. O cara é cornão, não dá nada. Se duvidar vai até olhar.
O príncipe - (dirigindo-se para o ármario das bebidas para se entorpecer, mudo!)
A raposa - Mas a mulher não tem nada que se aproveite?
O advogado - Acho que não mesmo ...
A raposa - Que ruim hein? Por isso tu quer oito ...
O advogado - Até porque, pelo tamanho, acho que ela agüenta uns oito!
A raposa - Gorda?
O advogado - Bastante.
O príncipe - Tu só podes estar brincando ...
O advogado - Não, é sério
O príncipe - Não pode ser tão horrível assim.
O advogado - É feia meu, estou te dando a real. Numa segunda-feira com chuva tu queria o quê? Uma loira gostosa?
O príncipe - Bah ... Mas tu não é o rei da suruba e tudo mais?
O advogado - Sou, mas o clube está fraco de sócias ...

Como diz um outro amigo: "Galinha que é galinha aprende a nadar para dar para o pato!" Belo exemplo, aliás, de superação. Do meu amigo é claro!

segunda-feira, agosto 29, 2005

CPIzza

Revoltados com as atuações hollyudianas dos nossos parlamentares, que preferem aparecer na telinha xingando ou fazendo perguntas idiotas ao invés de analisarem os fatos e documentos. Nós, O príncipe e a raposa, chamamos o ex-mega-super-primeiro-ministro-interino-comandante-em-chefe-da-presidência José Dirceu para uma acariação.

O príncipe - Senhor José Dirceu, o senhor jura dizer a verdade, nada mais que a verdade e toda a verdade em nome de Deus?
O político - Não!
A raposa - E algumas vez jurou?
O político - Sim
A raposa - E cumpriu?
O político - Eu evoco a quinta emenda.
A raposa - Quinta o quê? (levantando-se bruscamente da cadeira.)
O príncipe - A quinta emenda é da constituição norte-americana não pode ser evocada aqui no Brasil, senhor.
O político - Claro que posso, é nossa constituição maior!
A raposa - Está decidido, amarrem ele e tragam a forca! (levantando-se e proferindo isso com ar solene)
O príncipe - Todos calmos. Isso é uma CPMI e não um tribunal.
A raposa - Por isso mesmo, podemos matar e não tem apelação!
O político - Estamos num estado democrático de direito. Capitalista. Eu tenho meus direitos e dinheiro. E tenho amigos influentes
A raposa - A forca rápido, a forca!!! (saltando sobre as cadeiras e sendo contida pelos seguranças)
O príncipe - Ordem. Ordem no recinto!!!
O príncipe - Senhor José Dirceu o senhor sabia dos esquemas de corrupção como o valérioduto e o mensalão?
O político - Quem? Eu?
A raposa - Não, a minha mãe!
O político - Eu gostaria de lembrar à mesa que eu posso responder apenas por mim, estou muito cansado e pressionado e não gostaria de responder pela mãe de ninguém. Se ela sabia ou não eu não posso afirmar e estou ficando confuso com tantas perguntas.
A raposa - A guilhotina, rápido. A guilhotina, eu vou matar esse fdp! Me larguem! (voando em direção à mesa do inquirido)
O príncipe - Ordem! Ordem ou eu mando evacuar na sala!!
O político - Desculpe, mas o correto é evacuar a sala.
A raposa - Evacuar no quê? Me solta!! Me solta!! Fuzilamento pelo amor de Deus. Fuzilamento ... (aos brados sendo agarrada pelos seguranças)
O príncipe - Ordem, pela última vez. Ordem
A raposa - A culpa é do Gabeira. A culpa é do Gabeira! Mandou soltar ele em 68. Deixassem o Charles Elbrick com eles e o Dirceu estaria preso!!!
O político - Esqueçam o que eu escrevi. Esqueçam o que eu fiz e que falei. Não me comprometam!
A raposa - Isso é papo de outro ex-presidente!. Não nos confunda mais. Você não só destruiu a reputação de um governo como também matou a esperança de muitos que acreditavam numa mudança com o PT. Cadeira Elétrica!!! Cadeira elétrica, já!!
O príncipe - Não temos cadeiras elétricas no Brasil ...
A raposa - Êta país xôxo ...
O político - Não admito que falem assim do meu país. Não admito, mais respeito.
A raposa - Me soltem que eu mato esse desgraçado!!! Me soltem!! (pulando em direção ao depoente)
O príncipe - Senhor Dirceu o senhor tem algo a mais a dizer?
O político - Sim. Meia quatro queijos e meia portuguesa.
A raposa - O quê?? Pizza??
O político - Sim, eu disse que tinha amigos influentes ...

Depois de muito tentar o senhor Dirceu usou a técnica Leonel Brizola de respostas e não conseguimos nada. Alguém tem outro palpite?

domingo, agosto 28, 2005

"Cant you feel it!"

Existe alguma coisa que reduza, com efeitos tão drásticos, o senso de rídiculo do ser humano que não o álcool? Destilada ou fermantada, o que realmente importa é o quanto se bebe. Tem gente que bebe exatamente para isso. Dizem que o alter ego sai na privada, no primeiro momento de aperto. Deve ser por isso que a gente vai tantas vezes ao banheiro e quando volta tudo parece diferente. Tão diferente que temos que beber para lembrar como era antes. Beber para lembrar. Beber para esquecer. Não interessa. Bebida não combina com vergonha. Numa das experiências mais ridículas da minha vida eu estava bêbado. Isso serve muitas vezes de desculpa. Quando os amigos dizem que você agarrou aquela baranga alucinada, resta apenas dizer: "Gente, eu estava completamente bêbado!". Depois disso é só rezar para que todo mundo acredite que é verdade. De fato, apenas umas poucas pessoas realmente perdem total o controle de suas ações. Essas vomitam, em tudo e em todos. A maioria de nós têm atenuado o senso do ridículo, o que facilita, deveras, o mico e o agarrão à coisas intragáveis. Mas a desculpa permanece: "Eu estava bêbado!", todo mundo aceita, tacitamente, e não discute. Até porquê já agarrou bagulho ou pagou mico e usou a mesma desculpa. Isso é como pedra-de-toque para a humanidade. Como um axioma social, a gente aceita como verdade e não questiona. É certo que muitas vezes estamos conscientes dos nossos atos, mas aí entra a famosa frase: "Foda-se, eu estou bêbado mesmo".
Eu bebo e fico valente. Tem bêbado chato, mas eu fico valente. Isso é um perigo. Eu viro o Scooby-loo, lembram? Uma vez apanhei de três seguranças (três negrões de dois por dois com mais um de fundo) rindo. Não porque não estivesse doendo, mas por causa do ridículo da situação. Eu não conseguia dizer: "Tá doendo, porra!". Eu só ria e ouvia: "Tá rindo zé bonitinho então toma!". Plaft! Mais risadas. Horrível. Eu caio na risada só de lembrar do fato, mas antes me certifico se os negrões não estão por aqui.
Outra vez eu bebi de desespero. Combinaram um encontro às cegas comigo. Sabe aquele papo de "leva uma amiga que eu levo um amigo"? É furada. Nunca entrem. Eu fui para "ajudar" o amigo. E quando cheguei lembrei de Júlio César no século I a.C.: Vini, vidi e "bebidi". Acompanhando do nosso saudoso Mussum: "E bebidi muitis!", que a coisa era feia. Tomei "apenas" uma garrafa de tequila, dois copos de "batidinha de manga", uma garrafa de champanhe (agora é espumante ... perdeu a graça!), depois uma de vinho. Sabe que o monstro não melhorou e ainda queria coisinha. Também pudera ela pensou: "Ele está bêbado mesmo, amanhã nem vai lembrar". Para piorar a minha situação faltou luz. Era ela atacando, eu cego e sem coordenação motora para escapar. Que noite terrível. Acho que é por essas e por outras que se diz que "Cú de bêbado não tem dono". Porque a gente sempre toma no fiofó quando se embebeda. E sempre tem um palhaço que tem uma digital por perto.
Esqueci, tinha que contar o meu mico não é? Pois imaginem um cara de 1,83 com um óculos rosa-choque imenso na cara e um chapéu de bruxa roubado de uma festa à fantasia agarrando tudo o que andava na festa. Inclusive a mãe do aniversariante, com o respectivo pai do lado e o próprio DJ, que desesperadamente fugia.
Estou pensando em processar as companhias de cerveja. Dano moral. À minha moral e à do DJ, que é gente fina. Quem sabe podemos fazer uma ação coletiva? Quem assina junto?
Lembrando o grande filósofo Mussum: "Se beberis não dirijis, mais o miquis tá paguis!"
Sábio homem ...

sexta-feira, agosto 26, 2005

Uma mente brilhante

Qual o preço da genialidade? Como lidamos com lampejos de imaginação totalmente inumanos? Somos cartesianos, mas o que nos difere é a capacidade de fugir da teia de padrões traçada pela sociedade e pela psicologia. Acabei de ver o filme, rever aliás. John Nash é um gênio. John Nash é um louco. Há muito tempo que a humanidade vem mostrando essa dualidade. O centauro que é metade homem, metade cavalo. Dr. Jeckyll and Mr. Hyde. Os mitos do Vampiro, predador e sedutor. Qualquer semelhança com "O príncipe e a raposa", definitivamente, não é mera coincidência. Não sou tão louco e também não sou tão genial. As variáveis estão dispostas, claro que tenho marcas indeléveis destes distúrbios. Bipolaridade. E não adianta dizer o clichê: "Quem não tem?". A grande questão é saber se vale a pena. Passei por problemas de depressão, como aliás todos nós. Tomei medicação e minha criatividade se esvaiu por entre meus dedos. Acho que as jornadas da mente entre a realidade e a fantasia nos fazem criativos. Penso que a criatividade é um "enjoar" da mente. Como quando passamos tempo demais dentro de um carro e acabamos mareando. Neste momento colocamos algo para fora, da mesma forma com as idéias. Sem esta inconformidade com o real a criatividade é trancafiada nos porões da objetividade material e amarrada aos ditames da sociedade. Não tomo remédios, assim como Nash. Decidi, assim como ele, buscar dentro de mim a força para manter equilibrados os padrões de fantasia e realidade. Não tenho visões e tampouco me habilito a um prêmio Nobel. Tenho leves tendências conspiratórias e uma habilidade com as palavras. Mas isso não me faz diferente em essência e sim em potência. Trafegar pelo real e irreal e beirar os recônditos da alma me faz sentir humano. O que me incomoda é perceber que para a grande maioria das pessoas ser humano é levantar pela manhã, trabalhar, pagar as contas, ter família e morrer. Quase ninguém percebe que somos um emaranhado de fantasias, emoções, desejos e desilusões. Que não existe verdade na condição humana. Que não existe certeza no caminho da vida. Que tudo o que criamos é parte de um choro contínuo, que vem do nosso nascimento, de inconformidade com a brutal diferença entre o sonho e a verdade. Este choro prolongar-se-á por toda a vida culminando com um apagar da fantasia ou da própria vida. Se a fantasia se apagar antes em ti, tornar-te-á um peso para tua família, pois será visto como um ranzinza. Perderás a vontade de criar, no seu dia-a-dia. Perderá a força de compor nossa mais bela obra de arte: nossa própria vida. Assim como John Nash, lute contra tudo e contra todos para que te levem a vida primeiro. Quem sabe podemos seguir os passos da religião e acreditar que a fantasia continua no céu ou em outra vida? Beleza embalada em sonhos eternos de tempos inauditos mas que têm eco em nossa cristiana mente. De mim não tirarão o príncipe. A raposa não permitirá. Toda minha luta é para manter intacto os sabores da vida, amargos ou doces, mas intactos. Destes sabores surge a vontade de conhecer outros e a força para nunca deixar de sentí-los. Dois, duas. Para mim sempre tem dualidade. Não dicotomia ou dialética. Bipolaridade.

quarta-feira, agosto 24, 2005

Londres 1942

Nossa senhora!!
Andava eu numa pasmaçeira tamanha que tive tempo até para entrar na rede, montar blog, orkut, conhecer pessoas, dormir bem, ou seja, fazer coisas que pessoas normais fazem. Minha vida, entretanto, sempre foi diferente. Eu estava até estranhando a estática astral. De repente, sem mais nem menos, começaram a cair as V10. E olha que não é de todo ruim, não. Muita coisa acontecendo de bom! Outras nem tanto. Muita coisa que em não acontecendo é bom e outras que, na mesma situação, me deixam apreensivo. De qualquer forma muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. É como olimpíadas, tem um monte de coisa rolando ao mesmo tempo, mas tu só consegue ver o que dá medalha. É só o que a TV filma. Bom, aqui não tem TV, logo a triagem é feita por mim mesmo. Eu ainda não sou onipotente. Esse "ainda" soou um pouco prepotente demais, não é? Mas vá lá, eu mantenho. Assim, como não sou onipotente (ainda!), erro. E lá vem as V10 ...
Comecei a gostar de bang-bang. O John Wayne é muito bom. "Tiro dado bugio deitado". Atiro de pistolinha de pressão para tudo quanto é lado e até agora só o que consegui é quebrar algumas vidraças e incomodar gente grande. Vou levando, vou tentando. Estou andando, para onde é que é uma incógnita. Estou vendo uma luz no fim do túnel. Não sei se é a saída ou o trem! E ainda tenho que cuidar das V12 ...
Enfim, minha vida de volta. De uma certa forma agradeço, preciso estar sempre ativo. Força não é nada sem direção. Direção não é nada sem objetivo. Objetivo não é nada sem reconhecimento. Reconhecimento não te serve sem alguém para compartilhar. Tudo de uma vez é que é o problema. Ou solução, "ainda" não sei.

terça-feira, agosto 23, 2005

Carrossel

Sobe o sol da vontade. Sopra o vento da oportunidade. O risco não é mais que um tênue tracejar enuviado num céu anil.
Vai o beija-flor.
Buscando o tudo numa única flor. Como se dela sempre precisasse. Como se ela sempre esperasse.
Sobe o sol da vontade e sopra o vento da oportunidade.
Voa beija-flor que teu mal é saudade!
Busca outra? Busca essa? Busca noutra mais que essa? Busca? Voa? Pressa?
Certeza apenas de bater asas. Asas da vida aberta. Senão puder batê-las, que será desta incerta?
Bate asas beija-flor que teu mal é ferida!
Desce o sol da vontade, cessa o vento da oportunidade.
Recolhe-te beija-flor para o caminho da virtude. Esconde-te da escura névoa da dúvida. Sopra o gélido vento da desconfiança. Fecha a paisagem do medo.
Bate asas beija-flor que teu mal é segredo!
Esconde? Foge? Grita? Segue? Solidão.
Certeza apenas de bater asas. Certeza apenas de que o sol vai nascer. Mas o beija-flor vai estar lá? Certeza ... nem um pingo.
Lágrimas derramadas misturam-se ao orvalho da manhã. Beija já não é certeza. Flor já não é certeza. Certeza da incerteza. Incerteza da certeza.
Bate asas beija-flor que teu mal não existe!
Longe? Difuso? Disperso? Confuso?
Olhos mareados, sentidos torpes, ouvidos espasmados, membros estropes.
Beija-flor não bate asas. Teu mal não o permite.
Escolhas e devaneios. Pensamentos e anseios. Um dia beija-flor, noutro peleio.
O risco é tanto quanto um céu turvado de nimbos escuros.
Beija-flor não bate asas. Não sabe se fica ou se espera. Se foge ou desespera. Se anda ou se pasma. Dúvida atroz que se esbalda em alma corroída de vida.
Medo? Saudade? Vontade? Piedade? De quem? Porquê?
Se tu beija-flor também como eu, indica flor para saciar sentimento meu. Se tu ventania também como eu, explica furor, ódio e insana desventura que abarca o céu. Se tu como eu explica ...
Bater asas também cansa. Demais ...

domingo, agosto 21, 2005

Pára o mundo que eu quero descer ...

Voar é realmente impressionante. Como passageiro de avião então, nem se fala.

"- Bem vindos passageiros do vôo 3296 com destino à Curitiba.
- Agradecemos a preferência e desejamos uma excelente viagem.
- Fala o Comissário de Bordo Alexandre, em nome de toda a tripulação do Comandante Alexei
- Escutem atentamente as instruções de segurança.
- Em caso de acidentes existem portas de emergências do meio, e nas pontas da aeronaves. Supostamente elas devem abrir, mas nunca se sabe.
Meninas bonitinhas sinalizam, sorrindo, onde estão as portas
- Em caso de forte turbulência mantenham-se na poltrona e olhem para a asa e as turbinas do avião. Se alguma peça ou parafuso se desprender comunique, calmamente, a tripulação.
- Em caso de despressurização da cabine, máscaras cairão dos compartimentos acima da sua cabeça. Elas, normalmente, são do mesmo número dos passageiros, mas se isso não ocorrer procure uma criança ou velhinho indefeso para arrancar-lhe a máscara.
- Em caso de queda na água os assentos são flutuantes. Se ainda estiveres vivo e sobreviver às ondas na parte de trás dos assentos existem três kilogramas de carne moída que devem ser atirados imediatamente na água para que os tubarões não comam os senhores. Contando com o tempo que os tubarões levam para se alimentar, você terá em torno de vinte segundos para nadar.
- Se um míssil acertar o avião os senhores podem ter a certeza de que suas almas serão encomendadas em dezessete línguas e em todas as religiões.
- Se o motor desligar imediatamente cairão santinhos da Virgem-Maria e de São Francisco, solicitamos aos passageiros fervor nas rezas, poderão ser as últimas.
- Nossa aeronave está equipada com um moderno sistema de encomendação da alma, e mantém sempre de plantão um padre encontrado ao lado do banheiro. O padre não deve ser usado em caso de indisposição estomacal
- Se uma turbina explodir solicitamos que os passageiros daquele lado do avião calmamente dirijam-se ao lado em que a turbina ainda está funcionando.
- Pára-quedas são um custo muito alto para a empresa e estão disponíveis apenas para a tripulação. Estamos contando com o seu entendimento.
-Lembramos que o avião é o meio de transporte mais seguro que existe e, em caso de queda você certamente passará desta para a melhor.
- Nossos tripulantes são exaustivamente treinados para sobreviverem a qualquer acidente. Isso não inclui salvar passageiros. A empresa paga uma quantia fixa às famílias dos tripulantes mortos e não à família dos passageiros.
- Possibilidade de queda de uma aeronave é de uma em 3295 e nossa empresa ainda não registrou nenhum acidente!"

Eu só não entendo a causa dos sorrisos das comissárias ...

quarta-feira, agosto 17, 2005

Nem tudo que balança cai

É fantástica a condição humana. Eu me apaixono por tudo o que for humano. Seus erros e acertos. Crenças e mitos. Verdades e mentiras. Intenções descaradas e desejos velados. Só não consigo me acostumar com a inércia. Vamos entender de onde vem o conceito de inércia. Ainda no século XVI, o inglês Isaac Newton conseguiu uma façanha. Estava inerte em baixo de uma árvore quando, ao cair-lhe uma maçã na cabeça (e ainda bem que não era uma jaca!), postulou as famosas leis centrais da mecânica Newtoniana. Quais sejam:

1 - Todo corpo tende a permanecer parado ou em movimento retilínio uniforme se nada se opuser à natureza da sua posição no espaço frente ao tempo. (Isso é chamado de Inércia)
2 - À toda ação corresponde uma reação de igual força e em sentido contrário.
3 - A força aplicada num corpo é igual ao produto de sua massa pela sua aceleração.

Bom depois desta diletante aula de física moderna, vamos aplicar tais leis para a psicologia humana, resguardando o sentido empírico dos efeitos e trocando relativamente os objetos. Se, aos grandes escritores é permitida a idéia da "licença poética", a mim liberem, ao menos a "licença científica interpretativa básica e sem nenhuma necessária responsabilidade com a verdade". Dito isto vamos transladar as leis.

1 - Todo corpo tende a permanecer em movimento retilínio para frente e para trás sem se opor à natureza reprodutiva humana dentro de um curto espaço de tempo.
2 - À toda ação masculina corresponde uma ação feminina em sentido contrário e em todos os outros sentidos com força absurda.
3 - A força aplicada num corpo é um produto da raiva dela pelo grito de dor que você dará após o impacto.

Assim pode-se depreender alguns outros ordenamentos físicos.

Trabalho, grandeza física resultante do produto da força pela distância, é sempre o que você não faz ou faz pouco e o que ela se mata para fazer.

Energia, grandeza física proveniente da quantidade de força postada num corpo, é sempre o que lhe falta para ganhar mais dinheiro ou ajudar a sogra com a mudança, num domingo de manhã.

Velocidade, grandeza física medida na divisão da distância percorrida pelo tempo, é sempre o que faltou para você ter notado a mudança no cabelo ou das unhas e o que sobra para que elas possam procurar outro homem, já que você não serve ...

Peso, força física produto da massa pela aceleração da gravidade, é sempre o que você tem na consciência quando chega a qualquer hora em casa, depois das dez da noite e sob qualquer alegação e, também, o que você nunca pode notar o aumento no que se refere a ela.

Impulso, grandeza física da força dividida pelo tempo, é o que explica ela ter agarrado aquele cara na festa mas que não serve nem de lastro para explicar o caso com sua vizinha.


Assim, depois desta breve demonstração de conhecimento, podemos perceber que até mesmo a física pode ser parcial quando se refere às mulheres. Elas sempre podem tudo e você nunca pode nada. Por sorte, ainda temos um tipo de ente físico que pode apavorar tanto a elas, que é bem possível que nos deixem em paz. Refiro-me à sagrada Lei da Gravidade. Esta democrática lei vai aproximar a Gisele Bundchen e a sua tia solteirona encalhada de cincoenta anos no mesmo martírio. Vão cair os peitos, vai cair a bunda e vai cair o papo. Só não vai cair o que for seguro com silicone, mas aí pode tudo parecer a Hebe ...
Graças que somos homens, Newton não previu queda para nós!

terça-feira, agosto 16, 2005

Sutileza

Telegrama do povo brasileiro para o presidente Lula:

É, ficou difícil PT Saudações!

segunda-feira, agosto 15, 2005

Caminhos cruzados

De certa forma a vida tem um caminho. Não entendemos, não coordenamos, não prevemos. Andamos, apenas isso nos é permitido. Este caminho existe quando se olha do fim dele. De lá a gente olha para trás e não muda nada, mas tem a sensação de enteder. Claro que depois de tudo percebe-se as razões do ocorrido, é como um post-mortem. O que nos resta é diminuir o peso da caminhada. Quando nos livramos dos fardos que nos atormentam a caminhada se torna mais prazeirosa, mais possível. Diminua o seu peso. Para que além de caminhar lhe seja permitido pular também. Os obstáculos estão lá, sempre estarão, mas a tua capacidade de transpô-los é inversamente proporcional ao peso que levas consigo. Muitas vezes acreditamos que os fardos nos são imposições eternas. Isso é apenas uma forma infeliz de aceitação do fatalismo. Lembre que os fardos são seus mas que é seu, também, o interesse em carregá-los. Ao jogá-los fora verás o mundo com outros olhos simplesmente porque eles não estão fitados mais nos fardos. Poderá ver a paisagem, e até quem caminha ao teu lado. Claro que tudo fica lindo num texto. Claro que é mais fácil falar do que fazer. Digo mais, nenhum amigo ou conselho te fará largar o fardo. Isso só poderá acontecer se você realmente quiser largá-lo ou se alguém cruzar o seu caminho e, de sopetão, bater em você. O fardo realmente cai. E você olha o mundo.
O peso é algo que conscientemente você quer carregar. Pense nisso. Verá que falo a verdade, verá que tudo o que diz respeito a nós, se encerra dentro do nosso interesse. Você pode ter ajuda para carregar por um pedaço do caminho. Mas sempre estará carregando algo além do seu interesse. Se chegar ao ponto de ser além do possível, então cuidado. A vida é mais bela do que a coragem ou a glória de carregar fardos. Diminua o orgulho. Aumente a paixão. Respire. Ande de pés descalços na areia. Veja um nascer do sol. Saiba que só existe uma coisa mais importante no mundo do que você. Mas esta coisa apenas você pode decidir o que é. Eu nem me atrevo a entrar por esta senda.
Saber, ousar e calar.

sábado, agosto 13, 2005

Camélias e Morcegos

Eu ouço todo o tipo de bobagem. Devo falar um bocado também. E tem bobagens que vêm embaladas para presente, com laçarote de fita azul e tudo mais. Parecem verdades supremas que batem no senso comum e nos estarrecem. Compramos porquê nos conforta. Nossa vontade de ter respostas para coisas que nos atormentam nos faz aterrar o racional e seguir o emocional. Tem certas bobagens que vêm tão perfumadas e nos encontram em tamanho estado de dúvida que nos tomam. O pior é que repetimos isso à exaustão, vendendo como compramos, sem nenhum tipo de reflexão mais apurada. E assim formamos uma corrente de gente que se encanta por bobagens. Se fosse apenas pelo fato de insuflar otimismo poderíamos até achar que vale a pena, mas isso embota nosso raciocínio, dirige nossa vontade e se faz verdade pela repetição anacrônica desenfreada. Então, por princípio, sou contra. Deixo alguns e algumas reflexões daquilo que se encontra aos borbotões na net.

"Não corra atrás das borboletas. Cuide do seu jardim que elas virão."
Bobagem. Em primeiro lugar toda passividade em relação à vida sempre traz um quê de niilismo disfarçado. Buscar olhar para você ao invés de tentar interagir com o mundo que te cerca representa um narcisismo tedendo ao altismo. Perigoso e falso. Não quero borboletas que morrem em vinte e quatro horas, não quero beija-flores que são fugazes, apesar de lindos. Quero outras flores ao meu redor e que o sol e a chuva constantemente me visitem. Isso eu não consigo esperando.

"Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ONTEM e o outro AMANHÃ. Portanto HOJE e o dia certo para AMAR, ACREDITAR, FAZER e principalmente VIVER"
Outra grande bobagem. Em primeiro lugar não somos um amontoado de sensações e ações presentes. Graças que temos como fazer coisas no ontem e no amanhã. Refletir sobre o caminho é uma questão de como entender a caminhada. A vida não é o agora e sim o como se chegou no agora e como sairemos deste agora. Depois amar não depende só de mim, por incrível que pareça amar é um verbo que depende do sujeito e do objeto. De outra forma vira sofrer, num piscar de olhos. Acreditar e fazer dependem do ontem, hoje e do amanhã. Ninguém acredita num instantâneo da vida nem faz nada num dia. Argumentar que se constrói as coisas tijolo por tijolo é endossar o ponto de vista de que a vida é um processo e depende de tudo e de todos. E quanto a viver, bom eu quero viver o ontem, o hoje e o amanhã, sempre ... você não?

"Sorria! Mesmo que tenha que esconder no fundo da alma a dor que o mundo desconhece, pois sorrindo não dará a quem te odeia a felicidade de te ver chorando, mas dará a quem te ama a felicidade de te ver sorrindo!"
Besta! Em primeiro lugar se você esconder algo que te faz dor esta coisa jamais poderá ser entendida e superada e causará mais dor até que vire raiva e ódio. É como pedir para alguém não tratar uma gripe, ela logo vira pneumonia. Aí a coisa é séria. Chorar em frente a quem te odeia é a suprema demonstração de força. Ser humano é a melhor coisa que podemos ser. E quem te ama certamente perceberá no teu sorriso se ele for falso. Se estiver escondendo lágrimas através de sorrisos e ninguém notar é certamente ignorância de quem olha. Chore, sorria, não esconda até porque dá câncer!

"Uma pessoa em desarmonia é aquela que sempre transforma os ventos numa tempestade, que ignora as ilhas, e as vê como obstáculos às suas jornadas, que acha que as ondas só podem estar no topo, que no fim da jornada apenas conta quantas vezes as ondas desceram e quantas vezes o barco virou."
Nossa! Que pérola! Em realidade a desarmonia é a essência da vida. A morte é bem harmônica. Não existe mais interação física, nem gasto de energia, nem envelhecimento, nada. A desarmonia é a essência da criação, da imaginação e de tudo que nos tira do lugar neste mundo. É um constante incomodar-se com as coisas que nos faz mudá-las, melhorá-las ou apenas ignorá-las. Saber quantas vezes o barco virou é sempre estar disposto a entender como e porque ele vira. Tentar fazer diferente sempre traz um grande esforço de reflexão e uma dose de coragem regada a muito inconformismo. Sem os desarmônicos não teríamos ainda nem dominado o fogo. Isso é ruim? Não necessariamente, mas já que estamos aqui que nos inconformemos com tudo, para que possamos, juntos, chegar ao final deixando uma dose de desarmonia para que outros melhorem aquilo que não pudemos, pelo tempo ou pela falta de capacidade. Humildade e continuidade. Não somos senhores do mundo, não somos senhores sequer de nosso próprio mundo. Se é que isso existe

"Às vezes pedimos coisas para a vida que ela não tem como nos oferecer, mas às vezes ela nos dá coisas que não sabemos como agradecer, como ter a sua amizade."
Primeiro uma dose de exterioridade de culpa pelos fracassos próprios depois um desconhecimento bárbaro do que é a amizade. Se você precisa agradecer uma amizade então saiba que ela não existe. Amizades se retribuem e não se agradecem. E o efeito do tempo não diminue nem aumenta uma amizade. Diferentemente do amor. A amizade é como carvão em brasa, ela pode passar muito tempo só fumegando, mas quando o oxigênio chega o fogo também. Nunca agradeça a um amigo, isso mostra que você não tem a idéia da retribuição. Agradecer é estabelecer uma estática formal sobre os atos de amor ou companheirismo que nos são ofertados. Retribuir é usar o "olho por olho" de uma forma construtiva e sempre perceber que o mundo é cheio de problemas mas que nós temos as soluções, desde que saibamos que estas estão dentro do nosso esforço. Lembra-te que teus braços cansam, tuas pernas amolecem, mas teus olhos nunca poderão permanecer inertes quando fitarem um amigo. Ele saberá pelo teu olhar a tua vontade e não te julgará pelas tuas ações e sim pelo que os une, a vontade de partilhar. Por isso amigos são tão poucos e tão preciosos.

sexta-feira, agosto 12, 2005

Feitiço de Áquila

Estava eu com meus botões (sempre quis usar esta expressão!) pensando em paradoxos. Um amigo me viu com cara de ponto de interrogação e perguntou o que me afligia. Imediatamente me postei a explicar-lhe o famoso paradoxo de Zenão. Imaginem que um coelho tem que chegar até uma cenoura para comê-la. Durante a ida até a cenoura ele sempre anda metade do caminho que ainda falta para chegar na cenoura. Assim no primeiro passo ele anda metade, no segundo anda metade da metade, no terceiro anda metade de um quarto e assim por diante. Em quantos passos ele alcançará a cenoura? Eu estava tentando entender o quê fisicamente é improvável e maravilhado com uma coisa de 2000 anos atrás quando meu amigo, que tinha pacientemente ouvido minha história me perguntou:

O Amigo: Certo mas o que tem a ver a história do tal coelho?
O Príncipe: É fantástico, pois o coelho nunca vai comer a cenoura, na prática se eu quiser ir até aí, nunca vou chegar, entende?
O Amigo: Não!
O Príncipe: Se eu for aí e sempre percorrer metade do caminho que falta para chegar nunca vou chegar! Porquê sempre vai ter um pouquinho faltando. E no entando a gente chega!
O Amigo: Bom que você não chegue, mas ainda não entendi o coelho.
O Príncipe: É a mesma coisa no caso eu e o coelho, entende?
O Amigo: Você e o coelho? A mesma coisa? Não, não entendo.
O Príncipe: Ele nunca vai comer a cenoura assim como eu nunca vou chegar aí, entende?
O Amigo: Você nunca vai chegar aqui mesmo mas o coelho come a cenoura quanto estiver com fome! Não te preocupa. Toma teu Lithium e vê se dorme, deixa o coelho para lá. Tu tem cada uma ...

Desmoralizado pela prática condição de pensamento dele que, apesar de simples, é muito eficaz pulei de paradoxo. Pensei no Paradoxo do "eu não".
Os seres humanos são completamente loucos. Quando sozinhos querem estar em grupo e quando em grupos querem estar sozinhos. Isso ocorre particularmente com as mulheres. Quando elas são novinhas querem, desesperadamente, pertencer a um grupo, serem aceitas em qualquer coletividade (isso ocorre com os rapazes também, mas não é meu ponto aqui). Fumar, beber, transar e qualquer outro comportamento socialmente inovador para a idade tem esta função, permitir o acesso a um grupo ainda inóspito. O pertencimento vem da roupa, das músicas, da cultura e tenta sempre uma identificação, elas tem que ter algo em comum. Interessante como a homogeneização das práticas e dos pensamentos é perseguida no intuito da aceitabilidade social. Pois bem, dito isto vem o outro lado do paradoxo. Quando estamos namorando ou mesmo de flerte elas perguntam sempre "Porquê eu?". Tentando que você explique a singularidade da escolha dela frente ao vasto universo à disposição. Aí, elas querem ser diferentes, únicas, singulares. É uma luta convencer. Tem que ser algo muito profundo delas mesmas. Ninguém concebe a idéia da aproximação fortuita quando o coração se interessa por algo mais do que o corpo. Elas querem saber o porquê porque, de certa forma, já se entregaram. Já aceitaram o fato e precisam agora de uma "prova" da unicidade da sua condição de escolhida. Não bastam palavras, não chegam beijos e ainda não descobri o que as faz sossegar. Aí verifica-se o paradoxo. Quando sozinhos queremos a coletividade e quando em coletividade queremos ser únicos. Será que a essência humana modifica-se tanto em um relacionamento? Não sei. Apenas sei que a pergunta "Porquê eu?" é uma enorme bandeira dizendo "já estou caída mas não sinto que estejas também". Cabe a nós, homens, tentar desatar este nó. Sempre juntos e eternamente separados. Terrível, mas verdadeiro.
Expliquei isso ao meu amigo fervilhando de idéias e, abismado, vi quando ele pegou o telefone e ligou para alguém:

O Amigo: Alô, é do HPS? Quanto de Litium a gente tem que dar para um doente terminal?
O Amigo: A julgar pelo papo está em surto. Completo. E ainda não me deixa dormir.
O Amigo: Litium não ajuda? Faço o quê então?
O Amigo: Posso mesmo? Sim, surtado. Obrigado!

Partiu para cima de mim batendo em tudo o que via e no que não via. Eu me assustei e ele disse: "Desculpe, ordens médicas!"
Fui "convencido" de que, realmente, o coelho come a cenoura, mas agora deixem ele dormir pelo amor de Deus!!!
Existem coisas que dói muito pensar ...

quarta-feira, agosto 10, 2005

Que Coisa ...

Ainda bem que tenho amigos! E QUÊ amigos. Depois dos eventos da semana passada e dos do final de semana eu me perguntava qual o papel das coisas no mundo. Sim, existencialismo dos mais bregas e com pitadas de auto-piedade piegas com alguns tênues sopros de descontentamento psicológico claro, comigo mesmo. Enfim, um quadro caótico e desproporcional típico de pessoas que tentam entender tudo. Por vezes eu queria ser um pedreiro roto e ignorante que ficaria feliz em quebrar umas paredes, levantar outras, beber com os amigos no Bar do Antenor (gente pobre não tem happy-hour!) e afrouxar as "taubas" do barraco com a "nêga véia". Se o Coringão ganhasse eu "era um hômi realizado" e se perdesse tinha a quem culpar. A despeito das dificuldades óbvias da vida deles ela é bastante simples.
Nesse contexto tentei afrouxar as "taubas". Começar por baixo. Levantar o moral. E foi um fiasco. Aqueci bem, corri a pista toda. Mostrei domínio de bola, fiz balãozinho, passe de letra, trivela e até ensaiei umas pedaladas. Estilo Robinho. Tirando onda, demonstrando o potencial matador da fera. Tudo certo. Daí na hora do gol, chutei para fora. Na real, nem chutei. Digamos que levei cartão vermelho antes do intervalo. O meninão colocou a camiseta, pensou que fosse toquinha e foi dormir ...
Péssima atuação do time em casa. E a Raposa ria de tudo, alucinada. Como se diz na gíria do futebol "azar do goleiro"!
Ontem fui ver os Quatro Fantásticos. Fiquei pensando em qual eu seria, levando em conta o problema do final de semana, claro. O Coisa nunca teria problema de ereção. O problema seria arrumar uma camiseta que servisse na criança. Depois como colocar? Desisti. O Tocha Humana jamais seria considerado um homem frígido, calor é o que não falta. Problema seria como chegar perto. O Senhor Fantástico nunca teria problema com o tamanho. O problema seria ereção. Problema sério, aliás. Eu não seria a mulher invisível. Por motivos óbvios. E também não sairia com uma. Não por não vê-la, que, aliás, dá até um fetiche interessante, mas por não ver o que ela tem nas mãos. Hoje em dia tem muita mulher metida a moderninha. Olhando, de luz acesa já é um perigo, imagina invisível.
Entramos no cinema, eu e dois amigos, atrasados devido à minha incontrolável vontade de pedir Bibs pela cor, Halls pela cor e refrigerante, para não perder o hábito, também pela cor. Azul, vermelho e verde. Depois, no afã de encontrar um lugar para sentar, minha perna esquerda deu um "rapa" na minha perna direita e eu quase me estatelei no meio do cinema. Não sei ainda o porquê da briga, mas foi feio! Risadas abafadas que pareciam maiores e escandalosamente mais afrontadoras por serem contidas eram ouvidas no fundo do cinema. Foi uma queda tosca. O pior foi a frase do meu amigo, vendo que era eu o "caído" e tirando o seu da reta:
- Uia! Quem é o imbecil que se estabacou aí na frente?!
Passou o resto do filme me ignorando e rindo. Teve gente que pagou outro ingresso de tanto que riu. Eu vi que tenho amigos e que naquele momento queria ser o Coisa. Na real eu fui para um monte de gente ali.

sábado, agosto 06, 2005

Pupa

Momentos de introspecção sempre são bem vindos, desde que essa introspecção gere uma significativa vontade de mudança e adequação à realidade. Introspecção não pode ser sinônimo de depressão ou de tristeza. Devemos levar o termo quase ao conceito budista. Perceber os efeitos benéficos e maléficos da vida que nos cerca é sempre um esforço de renovação. Peço desculpa aos leitores de alguma forma assíduos, seu eu realmente os tiver, pelo tempo de "lag" do blog, mas estou passando por um processo delicado de reengenharia psicológica, profissional, financeira, amorosa, pessoal e só não uso o termo espiritual porque realmente não acredito nisso. Várias pessoas são responsáveis por isso. Algumas me mostraram como a borboleta voa, outras como a lagarta é restrita em suas intenções. Algumas me mostraram o quão efêmero podem ser os ventos que nos carregam pela vida, outras o quão férrea tem que ser a vontade da lagarta para chegar a borboleta. Umas pessoas me mostraram sorrisos, outras lágrimas, mas todas, sem exceção, me mostraram a alegria e a força de viver. A força que reside em vocês também pode recolher um certo coração perdido e uma mente divagante. Tornar a vida mais fácil é tarefa de anjo e tenho certeza de tê-los encontrado. Ainda que duvidasse da possibilidade de um teclado e um monitor conseguir passar uma certa emoção, devo dizer que isso foi impressionantemente forte. Algumas pessoas saíram do status de borboletas para lagartas e dessas não espero mais nada, se algum dia esperei. Outras têm me mostrado o lindo colorido de suas asas e o quanto são importantes para o florescer da primavera, ainda que restrira em minha alma. Eu tenho pensado em vôos mais longos graças às palavras das pessoas que me ampararam, cativaram, enternesceram, ou me fizeram simplesmente refletir.
Muita responsabilidade me espera mas eu preciso nomear as pessoas que têm algo a ver com essa mudança. Daniel, Cristiano, Lua, Lu, Mel, Anninha, Andrea, Déia, Blondie, Danny, Nanda, Luh, Renata, Kah, Sandra, Rê Keller, Douglas, Amauri. E peço desculpas de joelhos se esqueci de alguém. O intuito foi nobre e desavisadamente inocente.

Jorge Drexler - Al Otro Lado Del Río
by Jorge Drexler

Clavo mi remo en el agua
Llevo tu remo en el mío
Creo que he visto una luz
al otro lado del río

El día le irá pudiendo
poco a poco al frío
Creo que he visto una luz
al otro lado del río

Sobre todo creo que
no todo está perdido
Tanta lágrima, tanta lágrima
y yo, soy un vaso vacío

Oigo una voz que me llama
casi un suspiro
Rema, rema, rema-a
Rema, rema, rema-a

En esta orilla del mundo
lo que no es presa es baldío
Creo que he visto una luz
al otro lado del río

Yo muy serio voy remando
muy adentro sonrío
Creo que he visto una luz
al otro lado del río

Sobre todo creo que
no todo está perdido
Tanta lágrima, tanta lágrima
y yo, soy un vaso vacío

Oigo una voz que me llama
casi un suspiro
Rema, rema, rema-a
Rema, rema, rema-a

Clavo mi remo en el agua
Llevo tu remo en el mío
creo que he visto una luz
al otro lado del río