sexta-feira, agosto 26, 2005

Uma mente brilhante

Qual o preço da genialidade? Como lidamos com lampejos de imaginação totalmente inumanos? Somos cartesianos, mas o que nos difere é a capacidade de fugir da teia de padrões traçada pela sociedade e pela psicologia. Acabei de ver o filme, rever aliás. John Nash é um gênio. John Nash é um louco. Há muito tempo que a humanidade vem mostrando essa dualidade. O centauro que é metade homem, metade cavalo. Dr. Jeckyll and Mr. Hyde. Os mitos do Vampiro, predador e sedutor. Qualquer semelhança com "O príncipe e a raposa", definitivamente, não é mera coincidência. Não sou tão louco e também não sou tão genial. As variáveis estão dispostas, claro que tenho marcas indeléveis destes distúrbios. Bipolaridade. E não adianta dizer o clichê: "Quem não tem?". A grande questão é saber se vale a pena. Passei por problemas de depressão, como aliás todos nós. Tomei medicação e minha criatividade se esvaiu por entre meus dedos. Acho que as jornadas da mente entre a realidade e a fantasia nos fazem criativos. Penso que a criatividade é um "enjoar" da mente. Como quando passamos tempo demais dentro de um carro e acabamos mareando. Neste momento colocamos algo para fora, da mesma forma com as idéias. Sem esta inconformidade com o real a criatividade é trancafiada nos porões da objetividade material e amarrada aos ditames da sociedade. Não tomo remédios, assim como Nash. Decidi, assim como ele, buscar dentro de mim a força para manter equilibrados os padrões de fantasia e realidade. Não tenho visões e tampouco me habilito a um prêmio Nobel. Tenho leves tendências conspiratórias e uma habilidade com as palavras. Mas isso não me faz diferente em essência e sim em potência. Trafegar pelo real e irreal e beirar os recônditos da alma me faz sentir humano. O que me incomoda é perceber que para a grande maioria das pessoas ser humano é levantar pela manhã, trabalhar, pagar as contas, ter família e morrer. Quase ninguém percebe que somos um emaranhado de fantasias, emoções, desejos e desilusões. Que não existe verdade na condição humana. Que não existe certeza no caminho da vida. Que tudo o que criamos é parte de um choro contínuo, que vem do nosso nascimento, de inconformidade com a brutal diferença entre o sonho e a verdade. Este choro prolongar-se-á por toda a vida culminando com um apagar da fantasia ou da própria vida. Se a fantasia se apagar antes em ti, tornar-te-á um peso para tua família, pois será visto como um ranzinza. Perderás a vontade de criar, no seu dia-a-dia. Perderá a força de compor nossa mais bela obra de arte: nossa própria vida. Assim como John Nash, lute contra tudo e contra todos para que te levem a vida primeiro. Quem sabe podemos seguir os passos da religião e acreditar que a fantasia continua no céu ou em outra vida? Beleza embalada em sonhos eternos de tempos inauditos mas que têm eco em nossa cristiana mente. De mim não tirarão o príncipe. A raposa não permitirá. Toda minha luta é para manter intacto os sabores da vida, amargos ou doces, mas intactos. Destes sabores surge a vontade de conhecer outros e a força para nunca deixar de sentí-los. Dois, duas. Para mim sempre tem dualidade. Não dicotomia ou dialética. Bipolaridade.

6 comentários:

Anônimo disse...

Bom versão da polaridade. Pena que não são só esses efeitos que ela causa.

Miguel disse...

Não sei se são ou não mas é como posso no momento fazer para manter a sanidade neste mundo de loucos que não se reconhecem e normais que não se suportam!!!

Anônimo disse...

Tá certo.

Anônimo disse...

A Ana e a Paula adoraram o texto.....
Beijos

Anônimo disse...

Belo texto querido! Realmente vc tem habilidade com as palavras, e com outras coisas mais...Beijos Dannyzinha!

Anônimo disse...

Gostei muito do texto.
Assisti também a este filme algumas vezes.


E que profissao mais incomum?!




Adorei visitar sua página.
Beijos