segunda-feira, agosto 28, 2006

Justus e ridículus

Nosso mundo anda realmente de pernas para o ar. Como se não bastasse a infindável lista de desumanidades, atrocidades, desrespeitos para com semelhantes, obscenidades financeiras, corrupção em todos os níveis agora também temos a venda descarada de arrogância na televisão.
Isso é deveras estranho, pois no Brasil todas as pessoas públicas procuram se cercar de uma aura de humildade, simpatia e simplicidade. Mesmo pessoas reconhecidamente intragáveis ao menor sinal de uma câmera começam a usar o pronome "nós" ao invés do eu e a desculpar a tudo e a todos em nome de sua grandiosidade. Em qualquer canal e em qualquer tempo isso parecia uma verdade imutável.
A Record mudou isso. Colocou no ar um programa cópia de programa gringo com requintes de pedantismo, botox e laquê. Atração de impressionante falta de tato e respeito que chega a superar o Programa do Jô em suas mais asquerosas entrevistas. Aliás, Jô Soares e Roberto Justus não caberiam no mesmo prédio. Seus egos intergalácticos não suportariam essa proximidade.
Publicitário de 51 anos Roberto Justus fez carreira como atendimento de agências. Uma função não muito bem reconhecida entre os publicitários e procurada por quem tem mais tato do que criatividade. Sempre teve respaldo financeiro para suas buscas, não consolidando assim um "empreendedor" no sentido mais estrito da palavra. Ganhou uma série de prêmios muito mais políticos do que merecidos e construiu, como é a tônica nesse país, uma carreira com muito mais maquiagem do que suor.
Ao comandar o rídiculo programa não escolhe, se puderem vocês perceber, pessoas que de alguma forma tenham sua personalidade profissional formada. São sempre estudantes cujas fraquezas são facilmente percebidas e tenazmente estudadas. Atrevo-me a dizer que de início já se sabe quem será o "vencedor". Justus e sua equipe de vilania fazem propostas de jobs totalmente sem nexo e tiram daí conclusões mais estereotipadas ainda. Baseadas na "experiência" de um profissional que justifica, com sua carreira profissional, muito mais o botox do que o pedantismo que apresenta.
Recentemente, ao encontrar um rapaz que, pode ter os defeitos que tiver, teve ao menos, peito para, em um programa ao vivo, demitir o Luis XVI da televisão da Record transformou o corajoso ato em pirraça e covardia juvenil. Utilizando-se de seus "conselheiros" (bem ao tom das antigas cortes de nobres) e de sua ultra exposição na mídia, decretou a falência profissional de um rapaz por "quebra de contrato na vida". Alguém deveria explicar ao senhor Justus que a vida não é um contrato e que ele, Justus, não tem ingerência na vida de mais ninguém com exceção da sua.
Quanto mais a nossa sociedade produz ignonímias tais quais essa, que buscam "ensinar" o que nunca aprenderam e que medem a competência pela conta bancária, mais veremos frutificar a desigualdade que certamente é o mal do século XXI. Desigualdade que começa nas pequenas coisas e que acaba por falsamente transformar Justus numa espécie de Senhor Destino, conhecedor profundo de "não se sabe bem o quê" que podemos avaliar "não se sabe bem pelo quê" mas que o permite cometer atrocidades recheadas de ignorância e soberba.
Longe de fazer apologia ao rapaz, quero deixar aqui meu "urra" a uma atitude honesta a digna, competente e corajosa. O Aprendiz foi tão humilde que chegou a desnudar a carapuça do "mestre".
Que saudades do senhor Miaguy ...

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