sábado, julho 02, 2005

Amálgama imperfeito

O que realmente somos?
Somos carne e sangue?
Somos sonhos e sentimentos?
Somos fé e razão?
Somos tudo isso e nada disso. Somos uma mistura de átomos com maioria de carbono, sustentados por oxigênio. Somos um punhado de sonhos que se desvelam sobre o tapete da vida deixando tudo muito marcado. Somos sentimentos conflitantes que não se explicam, não pedem licensa quando entram e não avisam quando saem. Somos a fé que temos em nós mesmos e a razão que rege nosso espírito. Se o caminho da vida não é retílineo, porque nós devemos sê-lo? Se as coisas são uma eterna maré porque alguns de nós ainda teimam em manter uma constância? Estamos numa era onde o caráter virou moeda de troca e onde o bem-estar próprio, valor pétreo. Herança do individualismo capitalista e da carência coletiva de uma sociedade hipócrita que ainda não compreendeu que as pessoas não vêm a este mundo para sofrer. Ou, ao menos, não deveriam vir.
Somos imperfeitos e estamos todos, sempre, errando. Com ou sem razões para errar. Erramos. Tentando acertar. Erramos. Tentando ajudar. Erramos. Mas nunca erram aqueles que se escondem no manto da indiferença e da superioridade. Estes, que não se importam com os porcos e nem com as pérolas. Vivem na lama. Numa existência que não comporta a verdade de se estar respirando. Numa indescência com seu espírito que os permite sempre pensar que o sofrimento alheio não lhes causa dor.
Quem ama sempre vence? Não sei. Mas como ser humano eu digo ...

Quero chorar de dor infinita sempre, e pela última vez.
Quero sentir a voz dilacerar meu espírito em agonia sempre, e pela última vez
Quero sentir a carne render-se à dor da existência sempre, e pela última vez
Quero perder os sentidos e desfalecer no pranto pelos meus erros sempre, e pela última vez.
Quero culpar-me pelo que faço aos outros sempre, e pela última vez.
Quero buscar nos recônditos de minh'alma os medos que me fazem humano sempre, e pela última vez.
Quero sentir o vazio, gélido e desconsolado da indiferença sempre, e pela última vez.
Quero perceber a imperfeição do meu ser frente à natureza e à história sempre, e pela última vez.
Quero viver a saudade dos que já não podem sentir sempre, e pela última vez.
Quero apenar-me pelos que nunca isso sentirão sempre, e pela última vez.
Quero estar apaixonado sempre, e pela última vez.

E quero acreditar que a vida me perverterá isso, sempre pela última vez ...

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu também quero.
Onde se compra isso?

Miguel disse...

Em qualquer minuto ou suspiro do que chamamos de vida!

Anônimo disse...

Ah, querido. Sabemos muito bem que nao è tao facil, assim.