sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Pra não dizer que não falei em flores ...

Nunca dirão de mim que algum dia eu fui vagabundo. Tudo bem, dei uma exagerada, mas o sentido heróico da frase permanece. Como estou de férias, sem ganhar nada, a não ser alguns kilinhos então aceitei uma proposta de um amigo. Um bico. Trabalho duro, dizia ele. Aceitei trabalhar de ajudante de mudança.
Uóoooo
Eu estava louco.
Bom, o time era composto por:

Miúdo.
Imaginem alguém apelidado de miúdo ... Um gringo sem pescoço que o que tem de engraçado tem de forte o desgramado. Leva geladeira na caçuleta e ainda te conta piada, subindo escada. Vai catar coquinho ... quase me mijei todo e ainda derrubei os "picasso". Depois explico isso.

Edílson.
Um pretinho básico que é carinhosamente apelidado de "sem serventia". Mas vai fazer mudança com ele, vai. Ele agüenta sorrindo o que tu não agüenta nem com dois ajudando. O cara não tem mais que metro e meio, mas é um boi. Só que trova. Trova todo mundo. As tias que estavam pagando a mudança deram até Coca-Cola para ele e pelo que sei, vai rolar até casamento.

Maguila. Um negrão de metro e oitenta, que não precisa nem te bater para machucar. É só ele cair em cima. Negrão que carregou um sofá de dois lugares sozinho quatro andares acima. A impressão que eu tinha era que se tivessem duas pessoas sentadas no sofá não faria a menor diferença para ele. O cara é um monstro. Tiveram que pedir para ele parar senão ia desmontar um armário embutido que tinha na casa das tias. Segundo elas, o armário estava lá desde a fundação do prédio. Acho que o apartamento foi construído em volta do armário. Segundo ele "tava facinho de tirar, um pouquinho emperrado só".

Eu. Destoando completamente da galera. Muita emoção na primeira hora. Trinta e cinco lances de escada acima e a emoção se esvaiu dando lugar ao terror. Mais uns trinta lances levando só "os picasso" e o terror deu lugar ao desespero. Perto do meio dia eu já queria ir para o Iraque, onde era mais calmo. As pernas não respondiam mais. Ombros? Eu não tinha e olha que segundo o Miúdo eu estava levando só "as facinha".
A mudança era de segundo pra quarto sem dó. Em gíria de mudança quer dizer: tirar do segundo andar, levar para o quarto de um outro prédio e sem elevador. Entenderam o porquê do "dó"?
Na boa, no final da tarde eu não sabia mais se era dó, ré, mi ... Era tanta caixa pra cima, mesa pra cima etc. Eu fiquei com ódio de engenheiros e arquitetos. Um projeta edifícios de quatro andares (e cobertura ...) sem elevador. Certamente deveria ser denunciado aos direitos humanos. O outro projeta mesas em forma de um "x", cadeiras em "m". Coisas que não entram nem saem dos lugares. Acho que eles (engenheiros e arquitetos) deveriam manter a briga entre eles e não fazer as pessoas de vítimas do seu sadismo.
Saldo da empreitada: sete bolhas nos pés, trinta e cinco hematomas pelo corpo. Três cortes. Panturrilha direita morta, panturrilha esquerda na CTI. Ombro direito tetraplégico, ombro esquerdo vegetativo. Hoje não escovei os dentes, era muito esforço. Esqueci de dizer, ganhei cincoenta mangos mais a bóia.

Ahhh, sim. Picassos são os quadros. Cuidado com a interpretação, por favor.

3 comentários:

Anônimo disse...

Poxa favia tempo que não passava por aqui....
Mas valeu a pena , me rendeu várias risadas....
é certo, que te conhecendo eu deva reduzir em uns 50% as descrições que fizeste....mas tudo bem...hehehehehhehe
bjus

Miguel disse...

Nada disso!!! O MAguila é 50% maior do que eu relatei no texto ...

Beijocas

Miguel disse...

Tu meu velho não faz fiasco ... isso é coisa de fresco ...
ehehehe