quarta-feira, setembro 06, 2006

Alpes gaúchos

Porto Alegre é demais. Todo ano invento novas configurações para as roupas que tenho. Eu tenho a configuração "Sol escaldante", a "Calor abafado", a "Muita chuva e pouco sol", a "Muita chuva e muita chuva", tem também a "Friozinho fresco de carioca", a "Frio gaudério" e tinha a mais forte de todas a conhecida "Frio de renguar cusco". Essa era composta por siroulas, calça de brim (aqui no sul não se usa "jeans", isso é coisa de marica) duas meias, camiseta Hering com mangas longas, "suéter" (é chique e não bixa!) de lã fininho e aí vinha um blusão de lá grossa ou moleton grosso. Para sair na rua, era ainda necessário um bom casaco e cachecol. Essa configuração todo mundo tem de reserva. Cuida para não lavar as peças no inverno, caso um minuano de arrebalde apareça e a temperatura desmaie. Nem liga muito para cores e combinações afinal, quando o queixo bate o olho não consegue ver nada a não ser um bom chocolate quente. Depois, a grande maioria das peças fica por baixo mesmo. O famoso poncho fica guardado num local do guarda-roupa onde você precisa digitar uma senha. Ao fazer isso um alarme soa pela casa e coisinhas mais, digamos, mais sensíveis são forçadas a se recolherem seja a hora que for. Animais de estimação, crianças com menos de cinco anos e idosos com mais de sessenta e cinco e também mulheres grávidas vão para os seus quartos onde desenvolvem técnicas de guerrilha contra o frio. Essas técnicas incluem panela com alcool queimando, bolsas de água quente, cobertores elétricos, muito café quente, panos em baixo das portas e nas janelas, gatos e cachorros para os pés etc. Coisas bem conhecidas dos pampas.
Nesses últimos quinze dias, entretanto, Porto Alegre me surpreendeu. Tive que criar a configuração "Super inverno plus II com abas". É composta de siroulas, suéter, meias, calças de brim exatamente como na outra, mas agora o "improvement" fica por conta de você colocar o blusão de lã e o moleton grosso juntos, um em cima do outro. Para sair, além da jaqueta já mencionada, se sair antes das sete da manhã ou depois das sete e meia da noite leva também um cobertor. Não há muita diferença de horário então aconselho a também dormir com essa roupa, cuidando apenas para trocar as roupas íntimas. A situação é tão perigosa que tenho levado também o travasseiro caso a frente da casa congele e eu precise dormir em algum conhecido. Nesses dias a solidariedade empresta colchão mas cobertores são de uso pessoal e intransferível.
Vou terminando o post que soou a sirene de alerta para quedas bruscas de temperatura. Com isso agora pegamos direto uma pneumonia que pode avançar para tuberculose. Aqui erradicamos a gripe, ela morreu de frio.

4 comentários:

Anônimo disse...

Pô...eu ia justamente reclamar que os teus textos estavam ficando muito chatos e fazendo a pessoa ter que pensar muito para ler (como se não bastasse ter que pensar na vida) quando surge esse ótimo texto inteligente e bem humorado. Continua assim que é bem melhor.
Abraços

Anônimo disse...

Pô...eu ia justamente reclamar que os teus textos estavam ficando muito chatos e fazendo a pessoa ter que pensar muito para ler (como se não bastasse ter que pensar na vida) quando surge esse ótimo texto inteligente e bem humorado. Continua assim que é bem melhor.
Abraços

Anônimo disse...

hummm.... vamos fz uma troca?? vc vem pro calor insuportável daki do nordeste e eu vou aí experimentar esse tempo horripilante de vcs, ok???
bjos, mon petit...

Miguel disse...

fantástico ler vocês de novo.
Gercy não aconselho a vir para cá não, a menos que tenha estoque de penicilina.
Cris, meu velho, deverias ler mais o Marx ... ehehehehehe
Abraços