sexta-feira, junho 10, 2005

Do que é feito o espírito? (Parte II)

Sobre uma planície desértica sopra um vento quente. Um Sol escaldante surge no horizonte avisando que a força e o calor vão imperar. Tudo o que é pernicioso, duvidoso, sem sentido, esconde-se nas sombras. A areia branca cobre a podridão dos eternos. Teus medos, meus medos, nossos medos não são mais que sombras atrás de dunas de calor. Andas sozinho. Descalço. Andamos sozinhos. Descalços. Enquanto caminhas ao que acreditas ser o certo o deserto te confunde. A uniformidade dos desenhos, da cor, dos sinais se funde com a visão turvada pelo calor produzindo um amálgama de energia e desconhecimento. Andarás; andaremos por longo período sem nunca fitar algo de importante. Areia. Vento. Sol. Quando percebemos que por baixo disso também existem sinais. Claras indicações de para onde seguir, o que fazer. Indicações que beduínos vividos poderiam facilmente nos mostrar, então o Sol estará se pondo. Virão, de uma só vez, a solidão do saber-se errado. O desespero do não ter mais tempo.
Eu sei seguir os sinais. Eu compreendo os sons. A rota para mim é clara. Mas agora não há mais o Sol. O frio abissal sobrepõe-se à minha alma. À tua alma. Somos nada mais que corpos fadados ao desaparecimento. Não existe força. O tempo já passou. O vento continua, mas agora não acalenta, devasta. Esfria, resfria e congela. Seus ossos não respondem mais à tua mente. Lembra-te apenas de como o Sol te aquecia e como não pudesse achar os sinais, o caminho, a verdade. Andamos juntos. Não pudemos ver. Morreremos separados. Olhas agora o sinistro. O malicioso. Ele se aproxima como compreendendo tua falta de força. Nossa falta de união, de crença e de vontade. Ele nos tomará por partes, como cobras e escorpiões que vagam à esmo nesse mundo. Teu corpo já não mais te responde. Nosso corpo desaparecerá. Somos o pó novamente. Mas o vento fica. O Sol renascerá. Desta vez para outra criança. Que também não saberá compreendê-lo. E o frio voltará ao coração do velho que está criança será. E ela, como tu e como eu perguntará apenas: "Valeu à pena?".
Porquê?

2 comentários:

Anônimo disse...

Sim. Sempre. Porque aconteceu. Ficou marcado.
Basta.

Anônimo disse...

"Tudo vale a pena se a alma não é pequena...."..Lua Adversa