quarta-feira, novembro 09, 2005

Vento e poeira

Existe um princípio básico da existência, este princípio se revela quando nos damos conta que somos diferentes do meio. O universo não nos pertence, nós pertencemos a ele. Não somos o vento e nem podemos ser. Toda tentativa de movimentar aquilo que é vida está compreendida apenas no nosso universo. Podemos modificar, ou apenas ter ação, sobre aquilo que está ao nosso alcance. Não somos o vento. O universo nos é distante e as pessoas mais ainda. Tudo o que temos é uma mera representação nossa do que poderiam ser estas pessoas. Tudo o que compreendemos é via nossos sentidos e nosso espírito. Falho, portanto. Não somos o vento. A força contida em nossos atos, nossas ações, nossos sentimentos é descomunal dentro de nosso universo mas ínfima no que tange aos outros. Nossa sina é sermos incompreendidos, eternamente. Não somos o vento. A língua ou, as línguas, não são exatamente o motivo de nossas diferenças como diz o mito da Torre de Babel. Nossas diferenças estão na base de nossa existência. Existimos em meios e vibrações diferentes. O que te toca não toca aos outros. O que te dói não dói nos outros. O que te faz chorar não fará aos outros. Não somos o vento.
Não temos, por mais força que façamos, a sua força. Não temos a mobilidade do vento e também não podemos pensar que temos. Mas mesmo o vento precisa da poeira para ser sentido. Senão é destruição. Somos a poeira de alguém ou de muitas pessoas. Inclusive a nossa própria. Somos a representação daquilo que achamos "nós". Nada. Somos nada frente ao universo e teimamos em não ser. A vida é um eterno significar e não significar algo para alguém. Vivemos apenas na consciência de outrem e por isso somos tão limitados solos. O vento precisa da poeira assim como precisamos das representações. Quando o vento puder ser notado sem a poeira é porque ele não está mais lá e certamente destruirá o que estiver em sua frente. Se isso acontecer prefira ser a poeira também. O vento passa. A poeira se acumula em ti exatamente como a vida.
Ser o vento é o sonho. Ser a poeira a realidade. O vento eu não controlo. A poeira me faz ver e sentir, ainda que com certo desconforto ou dor. Mas isso é, definitivamente, melhor que só o vento.
Estamos todos de passagem mas não somos o vento ... de ninguém e para ninguém.

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