sábado, novembro 05, 2005

Com bolinha ou sem bolinha ...

Rapaz a coisa aqui foi feia. É óbvio que tudo o que acontece comigo não pode ser normal. Acho que devo ter nascido em uma conjunção astral do tipo alinhamento total entre Sol, Lua e todos os outros planetas, porque minha sina é grande. Podem até dizer que sou exagerado, reforçam o meu ponto. Até isso é grandioso. Mas deixemos de lero-lero e vamos aos fatos.
Estava eu descornado por uma situação que não tive, ação, proposição, reação, solução. Não fui agente nem ator e tampouco objeto mas acabei levando a bomba. O pato, a culpa, o bode tudo ficou comigo. Como se um meteoro caísse do nada e me atarraxasse no chão. Certo que podem argumentar que eu podia ter visto o meteoro, mas isso não muda em essência as coisas ...
Neste dia tão maravilhoso para a minha existência decidi, ou decidimos, ou ainda, decidiram por mim, que sairíamos, eu e uns amigos, para encher a cara e jogar sinuca. Na real as duas coisas são excludentes mas iríamos ver o que chegava primeiro. Só teve um problema.
Caiu o mundo em Porto Alegre ...
Choveu tanto que eu estava de carro com um amigo de frente para um enorme parque e não conseguíamos ver o parque. Víamos apenas o rio subir para dentro do carro. Fugir? Impossível porque éramos bombardeados com pedregulhos de gelo. Eu, com o pé que ando, seria morto por um. Bem na testa. Prudente não sair do carro. Mas o rio vinha aumentando. A impressão que tínhamos é que, a qualquer momento, corpos desceriam rio abaixo. Cena mórbida.
Lembrava eu naquele momento que tinha um amigo esperando dentro do bar da sinuca fazia mais de meia hora. Como não gosto de deixar amigos na mão e a chuva parecia arrefecer, decidimos eu e o amigo publicitário, num acesso de macheza incontida, a enfrentar a "garoazinha":

O príncipe: Tá com medo? É de manteiga?
O publicitário: Não, que é isso. Mas acho furada ...
O príncipe: Furada nada rapaz, furada é deixar o cara lá esperando ...
O publicitário: É isso então, vamos lá ...
A raposa: (isso não vai dar certo, só falta eles gritarem "Gerônimooooo!"
O príncipe: "Simbora rapá"

Saímos no meio da tormenta. Era água de cima, de baixo, dos lados. Me lembrei do filme Titanic. Nadamos uns vinte metros. Crawl que é mais efetivo. quando conseguimos vislumbrar a rua do outro lado. As pessoas gritavam desesperadas na margem ... "Help!!!" "Tragam a Guarda Costeira!".
Coisa de louco. Achamos que, pelo bem de nossos filhos, ainda não temos mas isso não é motivo para não pensar neles, deveríamos voltar para o carro. Até porque sem o nosso peso dentro ele começava a sem mexer lentamente. Voltamos com uns vinte quilos de água a mais no corpo e a sensação de indiada estampada na cara. Terrível.
Liguei para o amigo que estava dentro do bar.

O príncipe: Cara eu estou do outro lado da rua. Não tem como passar.
O sinucaman: Sim eu estou do outro lado do rio.
A raposa: "Creo ha visto una luz ... al otro lado del rio."
O príncipe: Como assim?
O sinucaman: Chove mais dentro do bar do que fora. O teto (que era de gesso) está desabando nas pessoas e no balcão das bebidas. E ainda tem quatro viciados jogando e reclamando que a água está subindo nas canelas.
O príncipe: Sério?
O sinucaman: Claro
O príncipe: Então não vai dar para jogar?
A raposa: (Claro que vai imbecil, só pegar os snorkles no carro e os tubos de oxigênio).
O sinucaman: Não, eu acho ...
O príncipe: Tá mas eu preciso beber ...
O sinucaman: Então me resgatem e vamos para outro lugar.

O carro virou um amfíbio e conseguimos numa operação de forças-especiais, onde a perícia do publicitário (que havia quebrado o espelho retrovisor na indiada) foi decisiva, resgatar o sinucaman. As pessoas tentavam se agarrar na gente ou no carro e eram levadas pela correnteza. Não pude salvar ninguém. Estranhei que o sinucaman estivesse segurando algo no meio desta confusão. Eram duas cervejas que ele "salvou" do bar. Que bom homem. Meu amigo.
Fomos beber em outro local e eu enchi a cara, falei um monte de coisa, chorei. Como todo bom descornado, aliás ...
Se hipérbole dos fatos, eufemismo da minha tristeza. A chuva foi até pouca ...

4 comentários:

Anônimo disse...

Puxa! Definitivamente não era o seu dia de sorte, aliás, o seu e de mtas pessoas. Vi na tv a notícia desse temporal e lembrei-me de vc. Mas q bom q vc está bem...Mas...descornado,vc???

Miguel disse...

Todos temos nossos dias de descorno ... acho que não existe diferença nisso ...
Homem também chora!!!

Anônimo disse...

Ahahahahhaahahahhahaha!!!!
Que dia especial, diria a Pollyanna!!!
Pelo menos não vai esquecer dele.
Besos!

Miguel disse...

CAra se tu estivesse numa moto, eu hoje estaria falando com alguém no mínimo bem diferente. É melhor nem pensar.