sábado, outubro 15, 2005

Espelho de Anjos

Por que insistimos em nos colocar "no lugar dos outros"? Isso é completa insanidade. Nunca conhecemos tanto do outro para que possamos fazer isso sem incorrer em absurdos erros de interpretação. Ver os problemas dos outros com nossos olhos não é "colocar-se no lugar dele". Eu me lembro que na educação católica que recebi isso era muito importante. Era vital perceber o que o outro sentia para poder compreender seus atos. Isso nunca aconteceu e nem vai acontecer. Tem toda uma teologia, ou melhor várias, que há dois mil anos vem tentando entender as razões de um único homem. O que conseguimos com isso? Nada. No afã de entendermos a ele, fizemos guerras, genocídios, destruição. Construímos monumentos, igrejas, santuários e, ainda sim, nada. Se os atos dele, que diga-se de passagem foram muito grandiosos e eloqüentes, não foram compreendidos como podemos ter a pretensão de entender os mais próximos?
Acho que colocar-se no lugar do outro é um ato de burrice e estupidez que nos leva a uma encruzilhada. Ou sentir os problemas do outro pelos nossos olhos. O que não leva a lugar nenhum. Ou sentir os nossos problemas na situação do outro que, também, não nos leva longe.
Pode ser bonito, mas não é factível. Assim cometemos erros e prejudicamos muitas pessoas nesse desejo. Em realidade, a quem mais prejudicamos é a nós mesmos. Sempre, ao tentar entender o outro, já nos colocamos numa posição de aceitação tácita de suas razões e sentimentos. Estamos predispostos a perdoar e entender. Alguns perguntarão: E isso não é bom? Eu digo que não. Como não comprendemos a exatidão do outros, seus motivos e coisas assim, estamos em realidade NOS PERDOANDO. Num evidente processo de auto-piedade. Isso nos conduz à deterioração dos valores, pois o que pode ser feito pelo outro, entendido e perdoado por mim, passa a ser questão simples de instância. E como nos machucamos entendendo o outro. Abrindo exceções. Reiterando perdões. Digo que o outro não se importa com isso. Se assim não o fosse, ele não faria da prmeira vez. Faz buscando o nosso perdão e, como geralmente consegue, torna a fazer. Cansei e espero que tenhamos todos cansado. Proponho uma espécie de "tolerância zero" aos moldes do AA: "Não vou perdoar ninguém só por hoje!".
Acho que isso nos faria muito melhor e deixaria o mundo mais palatável. As pessoas precisam saber que nós sentimos e nos importamos também CONOSCO!
A permissividade travestida de sentimentos como perdão ou acolhimento leva à destruição das almas boas nesse mundo por fadiga psicológica. "Até o perdão cansa de perdoar" dizia o poeta. Se todos nós fizéssemos um movimento "SEM PERDÃO", logo o mundo estaria dividido entre os que sentem e os que abusam. Quem sabe nesse momento podemos nos reunir apenas com os que sentem e queimar em grandes fogueiras os que abusam?

3 comentários:

Anônimo disse...

gostei. muito boa interpretação. pensei que eu era maquiavélica. Mas faz sentido...

Miguel disse...

que bom que gostou ...

Anônimo disse...

Eu abraço o movimento: sem perdão, mas não só por hoje.