sexta-feira, maio 27, 2005

Sinal de Fumaça

Recebi uma ligação do banco. Não sei porque ainda me surpreendo com isso. Banco e cunhado quando ligam nunca é boa coisa. Uma voz envolvente do outro lado pergunta se eu sou quem ela quer que eu seja. Desconfio que a própria voz seja uma tática de marketing do banco, em outras situações eu diria tudo aquela voz. Ela calmamente me informou que minha dívida no banco era de mais de dez mil reais. Não sei se o que me revoltou foi a dívida ou a calma da voz. Imediatamente perguntei qual a taxa de juro, indignado. Sinceramente, sempre perguntamos isso e não serve para nada, pois o número que ela, a voz, disser vai ser sempre alto para os economistas, baixo para o governo e ininteligível para você. Entretanto, aquele não era o momento para hesitações com números, respirei, empostei a voz e disse que iria na manhã seguinte conversar com meu gerente. Quero saber porque os gerentes de negociação são sempre homens mal-encarados com voz grave e muito conhecimento de cálculo e os de aplicação (do seu dinheiro) sempre joviais, alegres e que não entendem muito de números mas de sonhos, de felicidade .... enfim.
Acho que vou passar mais longe do banco nos próximos trinta dias, quem sabe eles não me encontram. Já providenciei óculos e barba para que não me reconheçam na rua. É impressionante como ficamos enlouquecidos com contas. Um velho amigo veio me cumprimentar, não o reconheci, e saí mais do que depressa achando que era um dos gerentes do banco. Certamente o de negociação. Eles parecem me seguir. Agora mesmo deve ter um olhando este texto. Não vou dizer o meu nome. Aliás nem sou eu que estou escrevendo. Cortei comunicações por celular ou telefone convencional. Acesso o e-mail de cybercafés, de vários e em diversos horários. Meus amigos se comunicam comigo por sinal de fumaça e parece que vai ter churrasco amanhã. Não sei se saberei diferenciar o churrasco da comunicação, mas vou igual afinal, churrasco não dá para negar. Mas se um gerente for? Essa gente mata por 10.000 reais ... sim, eu vejo isso em filmes toda hora.
Neurose? Não, dívida ....

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